Em fevereiro de 2006 o U2 e os Rolling Stones se apresentaram no mesmo fim de semana aqui no Brasil. Os irlandeses em São Paulo, e os ingleses no Rio (Praia de Copacabana), e naquela época várias perguntas pipocavam nas mesas dos bares. Qual é a maior banda? Qual foi o melhor show? O público vibrou mais aqui, ali, ou quem comandou a festa? Quem foi o mais carismático? Bono ou Mick Jagger? Me lembro que o Bono terminou o show colocando um terço cristão ao microfone, e o Mick Jagger dançando ao som de Satisfaction. E aí ficaram essas questões no ar. Um levantava um tema, e o outro derrubava no mesmo instante. Uma briga de gato e rato que não acabava nunca. Pra falar a verdade ninguém deu o braço a torcer. E no mundo da música essas disputas são mais comuns do que se imagina. Quando alguém desmerece o que amamos parece que esse comentário vem como um insulto. Parece que se a opinião não for aceita você é um idiota. Mas não vejo assim. Se alguém não curte o que eu gosto tento ficar tranquilo, e levar numa boa. Afinal somos cabeças pensantes e cada um segue o seu caminho, ou não? Existem discussões extremamente idiotas. Que não levam a nada.
Topei com um camarada que tocava violão no sábado, e o estilo dele caminhava entre o lado virtuoso do instrumento e a canção em si, isto é: solos, pirações, escalas, e tentativas de se fazer entender. Mas ele não terminava as canções e aquilo ia se amontoando num emaranhado de acordes sem fim. Comecei a tocar, e logo vieram os primeiros aplausos. Não é problema meu, se estão batendo palmas, foda-se. Passei o violão pra ele novamente, inclusive o instrumento não era meu, mas de repente o danado do violão caiu na minha mão outra vez, e aquele papo de sempre veio a reboque. O cara começou a ficar nervoso. Começou a dar pitacos na minha maneira de tocar. Segundo a sua concepção a minha pegada no violão não era do jeito mais “correto” para se mostrar uma canção. Comecei a ficar cabreiro. Deixei de puxar assunto. Mas aí ficou pior, pois o violeiro PhD começou a praticamente me insultar. Então fiquei pensando se tinha falado alguma coisa errada. Pô! Só havia dito pra ele tocar uma música completa. Tentar apresentar uma canção com início, meio, e fim. E depois também comentei que havia cantado a sua melhor música da tarde. Argumento que ele inclusive usou quando toquei Wild Horses dos Stones. Aliás, muito obrigado apesar do seu agradecimento ter sido uma tentativa de ironia. O personagem Henry Chinaski dizia: "a gente devia ter liberdade de falar livremente, em especial quando nos fazem uma pergunta direta. Mas há a questão do tato. E depois a questão do excesso de tato". Pode saber que tem muita gente que tem dificuldade quanto a essa questão de tato. Você tem que saber falar, senão eles piram. Acho isso engraçado pra caralho. Me lembro da primeira fita que gravei, e ao escutar a minha voz achei uma merda, os meus amigos rindo, zoneando. Ao invés de ficar triste até gostei. Na verdade aquilo era uma porcaria. Tinha que rir mesmo, sabe. Nem eu compraria o meu próprio CD.
E existem músicos que não conseguem enxergar o seu próprio trabalho, o seu próprio umbigo. Dizendo isso até parece que sou fodão. Sou nada! Ainda tenho muito a aprender. Agora o lance é que eu já sei o me deixa feliz na música. Só toco o que gosto. E tento mostrar da melhor maneira possível. O resto que se foda! Quando me deparo na noite com músico, ator, poeta, escritor, tento ficar esperto. Muitos necessitam de elogios até o talo. Precisam de aplausos o tempo todo. O que é uma pena. Só resolvi aprender a tocar violão por que vi os meus amigos tocando, e a mulherada ao redor ficava ouriçada. Pensei comigo: pô, eu também quero fazer isso, quero tocar pra pegar essas meninas. E acho que a música tem que ter esse lance de querer fazer bem, senão se torna algo muito chato, burocrático, e sem emoção. Pra fechar: acho até legal que certas discussões não acabem nunca porque, às vezes, pode ser produtivo. Faz a gente exercitar o nosso poder de crítica. Mas brigar por causa de artista, ou por causa da maneira de como tocar... Ah! Porra... Eu tenho mais o que fazer. O U2 tá com 558 milhões doletas na frente dos Stones. É dinheiro que não acaba mais. Duvido que o Mick Jagger vá deixar isso barato. O Keith Richards já deve tá afiando a faca, e toda a gangue já deve está preparada. Quando você menos esperar vem a lapada com juros e correção monetária. Em briga de cachorro grande ninguém se mete. E enquanto a gente se acaba por aqui, as duas bandas devem está rindo a toa. Canta aí keef: play
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