De longe notei que um velho estava na minha direção. Vinha
puxando o chinelo. A calça estava toda mijada. Logo pensei naquele blues do Cazuza: “quando eu estiver velho / tarado e gagá / com um copo de cana”... Daí
ele catou a chave do bolso e se aproximou do carro. Abriu a porta lentamente. Tinha
uma mulher lá dentro. Devia ter uns 20 e poucos anos. Ela me olhou sem graça e
virou o rosto. Se escondeu. Decerto ficou com vergonha. O coroa ia se divertir
naquela hora da tarde. Enquanto milhares
de pessoas já começavam a tomar conta das ruas, o velhote ia tirar umazinha em
algum hotel vagabundo da redondeza. Tá certo! Jovem tem que reivindicar. Tomar conta da rua se
quiser mudar alguma coisa. Por que quem já está na beira da morte merece todo o
respeito. Fui pagar uma conta na lotérica no comércio ao lado, e risquei um bilhete sem nenhuma convicção. A atendente me desejou sorte. Retribui com um sorriso. Ganhei a rua, e uma loiraça passava lá do outro lado da calçada com uma roupa grudada no seu corpo. Dava pra ver cada detalhe. Ela andava sem nenhuma preocupação. Passou um carro e buzinou, um camarada de moto também meteu a mão na buzina, o motorista do ônibus também mandou o seu recado: PAM! PAM! Eu estiquei a vista até onde consegui enxergar. Ao que parece desse lado da cidade a agitação ganha outro contorno. Pressinto que ainda existi uma certa felicidade no ar. Talvez por que agora a juventude e a velharada estão de mãos dadas nesse mesmo barco.
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