De tempo em tempo o homem moderniza as suas esquisitices. Parece que cada vez mais precisamos adquirir determinados comportamentos, senão você tá por fora. Coisas "singelas", ditas do “coração”, como, por exemplo, dar mais valor ao carro do que o próprio relacionamento. Se preocupar mais na prestação da casa própria do que na vida em família. Já esperar de cara que o filhão seja aquele grande jogador de futebol com bufunfa na conta, e a torcida hipnotizada. Tratar cachorro como se fosse criança mimada. ["Dá a patinha pro papai, vai". "Vem cá, vem na titia, dá um beijinho aqui minha pequeninha, vem"] Então, caro leitor, essas peripécias cotidianas estão cada vez mais sofisticadas. Só que por outro lado, se o cara tá fudido ou mal pago é dá vida, tudo bem, a economia tem a sua parcela de culpa. E ele também tem culpa no cartório. Papo encerrado... Espera o sinal abrir e vamos embora. Estamos em evolução. Mas de repente: POW! A vida nos dá uma tremenda porrada bem no meio das fuças. "Estamos iguais". O que fazer? O que pensar? Aquele lembrete da música do Léo Jaime - o Rock da Cachorra veio em boa hora, dá uma curtida aí:
Seja mais humano, seja menos canino
Dê guarida pro cachorro mais também dê pro menino
Senão um dia desses você vai amanhecer latindo
Pois é, meu amigo, uma cena intrigante nessa tragédia braba que ocorreu no Japão, me deixou aqui pensando com os meus botões. Me deixou pensando nos latidos. Não sei se foi na record, ou redetv, mas o lance é o seguinte: enquanto o repórter fazia a sua matéria em meio aquele clima desolador, surgiu um japonês de meia idade com um violão nas costas, a roupa já meio gasta, e um sorriso estampado bem no meio da cara. E ele vinha na maior tranquilidade, caminhando como se nada tivesse acontecido. Não deu pra ver direito, mas parece que na outra mão ele trazia algum tipo de birita. Aí enquanto o repórter tentava em vão descobrir se deveria sorrir ou não - você está sendo filmado - o japa deu uma olhada pra câmera, acenou sorrindo, e continuou na sua levada até sumir no meio daquela destruição infernal. Louco? Será que tentava chamar a atenção? Rir pra não chorar? Rico? Pobre? Classe média? Não dá pra saber. Cada um poderá deduzir o que quiser. Mas dá pra gente especular um pouquinho. Se ele fosse mendigo: aquela destruição lhe afligiria? Afinal reconstruir o quê? É bem capaz do governo reconstruir a cidade mais rapidamente do que ele a própria vida. E aí o sorriso teria o seu escape. Ou não? A risada dos excluídos também pode ser engraçada. Ou melhor: um sorriso nuclear. Radioativo.
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