Encostou na pilastra de um prédio comercial por volta do meio dia. Passou a mão no cabelo e ajeitou os óculos sem muita pressa. Parecia sonolento. Cansado. Há muito que não tocava num cigarrinho. Esperar, sempre faz a gente cutucar alguns sentimentos. Desencostou da pilastra até chegar no ponto de ônibus. Um senhor de aparência humilde folheava uma revista sentado com a perna cruzada.
- Aquela borboleta tava nesse teto bem aqui. Agora caiu ali na pista. Tá vendo? Deve ser por causa do calor.
- Ah! Legal.
Em seguida o senhor emendou outra estória que ele sabia que era verdade. O que mais tem nesse mundo é notícia ruim. Por coincidência a borboleta era preta. Um destino sem volta. A borboleta aparecia agoniada. Num momento ficou quieta. O senhor levantou-se rapidamente e correu até a calçada, esticou o braço, deu sinal e em seguida entrou no ônibus sem olhar pra trás. Depois que ele foi embora a borboleta continuou quieta próximo do meio fio. Passava carro, ônibus, moto e ela nem aí. Outro ônibus parou com a roda à 1o cm de distância da sua asa. Essa foi por pouco.
Ao verificar uma mensagem no celular soprou um vento forte vindo da direita. A borboleta preta aproveitou o embalo e começou a voar. Ganhou altura. Foi conforme o vento. E ela voou tão alto que sumiu no ar. Desapareceu. O senhor nunca vai saber que ela conseguiu se livrar do asfalto quente. De vez em quando o desfecho não acaba tão mal assim. Voltou pensando no pouso depois daquela altura toda. Achava que as borboletas voavam baixo. Ou até mesmo que já estavam extintas. Mas pelo que parece ainda existe algumas por aí.
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