Estava voltando para casa caminhando bem devagar. Teve um momento que escutei uns passos. Alguém se aproximava rapidamente. Inclinei a cabeça e vi um senhor correndo na minha reta. Ele corria de forma engraçada. Decerto estava na sua malhação diária. Resolvi mudar de lugar. Não queria atrapalhar o coroa.
Quando ele chegou mais perto notei um pequeno sorriso no seu rosto. O bigodinho estava radiante. Ao passar do meu lado ele disse num tom irônico.
- Vou te ultrapassar.
O velho passou por mim naquela mesma passada leve, e safada. Parecia contente da vida. Não resisti e decidi fazer um comentário na sequência.
- Cuidado pra não bater aí na frente. O senhor está muito rápido.
Os meus passos permaneciam da mesma forma: devagar quase parando. Mais safado, impossível. Não! A passada do velhinho estava mais cínica. Ah! Foda-se. Até os velhos estão nessa onda de malhação. Ainda mais correndo. Mas o coroa parecia gente boa. Fiquei imaginando ele escutando Fuck Forever do Peter Doherty numa quebrada cheio do goró na cabeça. Absurdo! Já lá na frente ele desistiu de correr, e começou a andar. Diminui o passo para não ter que alcançá-lo. Não estava para muito papo.
Aí de repente ouço alguém se aproximando novamente. Olhei em linha reta, e me concentrei na calçada. Na verdade queria chegar logo em casa.
- Eu te falei seu viado. Seu filho da puta! Tá achando, o quê? Porra!
Depois de um esporro desses, não tive como não olhar para trás novamente. Afinal de contas poderia estar correndo risco de vida. Foi então que encontrei uma briga doméstica. Um camarada todo invocado estava xingando o seu próprio cachorro. Puxava o infeliz com uma força danada, como se ele estivesse entendendo toda aquela saraivada de palavrões e insultos. Os dois passaram por mim, e a praga do cachorro quis pular pro meu lado. O pobre me olhou como se quisesse pedir socorro. Mas fiz questão de diminuir o passo. Se me lembro bem, todo cachorro quando é provocado, ele avança e morde. Só que esse foi levando pancada até chegar numa quadra adiante.
Quase próximo de casa ninguém apareceu mais pelo meu caminho. Deu até para acelerar as passadas. Já caminhava tranquilo. Desenvolto. E é verdade. De vez em quando a gente tem que olhar pra trás. Sabe por quê? Pra diminuir um pouquinho o passo.
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