quinta-feira, 27 de setembro de 2012
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Últimas Horas
Nesses dias tenho lido vários blogs que estão no link aí do
lado direito. E encontro textos, poemas ótimos. Porque foram escritos com
emoção. No blog do Domingos de Oliveira, por exemplo, tem um chamado “Carta
Aberta para Dani Barros”. Ela é atriz e montou uma peça em que interpreta
Estamira. Pra quem nunca ouviu falar da Estamira: ela foi uma senhora que passou
uns 20 anos vivendo e trabalhando no aterro sanitário de Jardim Gramacho lá no
Rio de Janeiro. Em 2004 o cineasta Marcos Prado contou a sua história num
documentário que recebeu diversos prêmios por todo o país. Infelizmente no ano
passado ela faleceu num hospital público com infecção generalizada. Passou 2
dias na fila pra ser atendida. A humilhação já está tão rotineira que reclamar
parece somente mais um lamento. A saúde pública não é, e nunca vai ser prioridade
do Estado, ela só funciona como um blefe, pois enquanto se puder manter a
esperança no ar, o próximo mandato já está garantido. O descaso público é terrível. E sobre
a peça da Dani Barros, você já imagina o quanto deve ser forte e visceral se
deparar com uma interpretação desse porte ali ao vivo e a cores. Por que no teatro o distanciamento
não é tão grande como no cinema. A emoção é diferente. Você tá vendo a pessoa
ali a poucos metros. Participa daquilo. O que fazer com o personagem que “agoniza”
na sua frente? Se o roteiro, a produção, e o trabalho do ator estiverem em
sincronia, pode saber que em questão de segundos, você embarca no que está
sendo dito com passagem só de ida. Tem peças que até hoje trago comigo. Ficaram guardadas
como se fossem jóias. Isso é o poder de uma obra de arte. Eu assisti esse documentário,
e na época fiquei com o coração apertado. Essa peça deve ser pancada. Alguns
trechos da carta do Domingos:
“Eu não vi o documentário. O amigo Prado me perdoe, não foi
por falta de estima. É que eu sabia tratar-se de uma descrição profunda do
sofrimento causado pelas doenças mentais e não quis passar por isso. Imaginei
que seria o mesmo que ver uma sessão de tortura. Sei que dói muito ser louco,
embora nunca tenha passado propriamente por isso, apenas por perto”.
Domingos de Oliveira |
“O espetáculo transita todo o tempo muito perto de um
sentimento que devia ser proibido na vida e na arte, que é a autopiedade.
Autopiedade é feio, é ignorância: um passarinho cai do galho morto de frio sem
nunca ter sentido pena de si mesmo. Pois bem, Dani caminha todo o tempo sobre o
fio dessa navalha. E não cai. Não toca nunca a autopiedade. Seu sofrimento é
digno, altivo, como deve ser a Arte”.
“Trata-se de um trabalho sobre a compaixão, sobre o nobre
sentimento da lástima pelo sofrimento humano. As pessoas de modo geral sofrem
tanto quanto podem suportar na sua humana lida. E nós outros que por vocação
amamos nosso semelhante, sofremos também por não podermos evitar esse fato. A
compaixão, que não é exatamente a paixão mas vem com ela, é um sentimento
característico e natural do homem são. Infelizmente são poucos os sãos”.
“Não falei com Dani, que não conhecia antes, mais do que dez
minutos ao terminar a sessão. Primeiro quis aconselhá-la a largar a peça. Ou
pelo menos não fazê-la muitas vezes, para não passar por aquele sofrimento
daquele papel muitas vezes. Logo percebi que estava dizendo uma tolice. Quando
alguém alcança, falando de si mesmo, uma obra de arte, ela não dói mais! Não é
mais com ele, é como se fosse com outra pessoa. Que, esta sim, sofrendo aos
estertores, fala por todos, para a humanidade. No bom teatro o personagem sofre
mas o ator não. O ator agradece no final, calmo, sorridente e privilegiado, a
possibilidade de exercer seu ofício”.
Bonito essa parte sobre a compaixão, um assunto que, às vezes, confunde tanto a gente. Me lembrei de um texto
do Mário Bortolotto em que o ator Nilson Bicudo lê numa praça pública. Aqui! Acredito que não só no bom teatro, o personagem sofre mas o ator não. Na literatura isso também acontece, tem livros que deixa a gente com um nó na garganta e aquela sensação de como o autor(a) conseguiu aquilo no papel? O Domingos de Oliveira acertou no alvo. " Quando alguém alcança, falando de si mesmo, uma obra de arte, ela não dói mais"!
Pra fechar um trechinho do poema da Camila F. que está lá no
blog dela.
“eu nem esquentaria que o dia acabasse rápido
apenas pegaria o carro e dirigiria contigo bebendo do
meu lado uma garrafa de whisky ruim que a gente
roubou
eu me conformaria em levar uns tiros
se tu tirasse as balas com os dentes
e não me importaria se a porra do mundo finalmente
acabasse
eu não ia ligar se tu precisasse de um fim de semana
longe de mim
e nem que precisasse ver o último boy scout pela
centésima vez
eu te acompanharia engolindo alguma cerveja
eu me conformaria se tivessemos que queimar
alguns livros
que eu te sustentasse por um tempo só pra você ter mais
tempo
a real é que eu não me importaria com nada
se tu ficasse comigo por muito tempo”.
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Não tem nada não: ela tem razão
Vai chover! Hoje? É! Vai chover mais tarde. Dúvido. Pode
botar fé que cair um pé d’água. Então já vou deixar a minha geladeira estocada.
Ué! É só pegar o guarda chuva e ir no bar. Não! É melhor me prevenir. Esse negócio de sair pra comprar cerveja é um saco. Boto fé! Vai
tocar violão? Vou tocar um pouquinho. E o piano? Tô brincando. Já tirei
algumas músicas, tá ficando bacana. É difícil pra caralho. Hahahaha! Quando eu
for na tua casa quero ver. Ah! Legal. Mais tarde vamos se a gente toma uma
geladinha. Fechado minha gata! Te ligo. Tá bom, mas antes me fala uma música pra começar a
sexta-feira bem, vou abrir uma cerva bem gelada agora. Entra no blog e clica no: play
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Duas horas da tarde
Rua
movimentada, e a mulher ao lado da banca de revistas fuma um cigarro sem
conversar com ninguém. Enquanto ajeita a bolsa, um senhor de paletó se aproxima
do orelhão caminhando um pouco inclinado pra direita. Em frente aos jornais na lateral da banca,
três desocupados conversam animadamente. Passa um ônibus, um carro, quatro
motos, e é a vida nesse momento. Tão diferente de quando estamos a sós dentro
de uma sala, ou no quarto, ou numa casa vazia. Alguns se sentem piores e muito
mais solitários no meio da multidão. É bonito observar as pessoas enquanto caminho pelo centro
comercial. Todos absortos em seus problemas. Preocupação com dinheiro. Atrasos.
Desencontros. Acertos. Sorrisos. Assaltos. Os que acreditam na grandiosidade de não
chegar. Imbricados até o pescoço por razões mínimas enquanto o próximo estouro
não vem, a próxima decisão não chega. Alguém deve estar se dando bem. Como são
os gestos? Os desocupados dão aula, mas são inofensivos. A mulher foi embora em
direção ao estacionamento. Acabou o cigarro, e já não havia motivos pra ficar
ali sem fazer nada. Logo estará na avenida tendo que ficar atenta ao trânsito.
E se bobear vai apertar a buzina também. Estava com vontade pronunciar: ‘dias
estranhos’. Como aquela música do The doors. Como se não fosse uma frase
própria. Algo que tivesse aprendido quando os sonhos já não assustavam mais. A
igreja velha com o banco quebrado no meio. E o estranho é que se conseguia
sentar nele por alguns uns instantes. Aquilo estava mais para enfermaria do que
um santuário, tanto é que o médico se levantou e ficou de longe sem pronunciar
uma palavra sequer. Bijuterias viraram brinquedos. Gargalhadas quebraram o
ritmo. As crianças no chão após o reencontro triste. E aquele maldito cheiro
ruim. A única descoberta que trouxe alguma veracidade foi por teimosia. Era a
mesma teimosia de antigamente. Alguns minutos do outro lado queriam falar a
mesma coisa, só que de forma diferente. Estava bem mais animado, tinha sexo a vontade,
e com tanta fartura, duvido que as pessoas sejam tão displicentes. É por isso que
a realidade é bem melhor do que qualquer sonho infantil, porque não funciona
dessa maneira, a morte do cachorro depois da fuga talvez mostrasse isso, a
imagem ali na sua frente agonizando, o último suspiro, e ponto. O sonho como se deve na vida, e viramos o rosto não
querendo encarar porque o recado estava longe, longe do que já sei: encare só pra guardar a imagem, só pra ver até quando os avisos cheios de propósitos vão ser descartados. Outra
pessoa já estava no orelhão. De chinelos e bermuda. Quando as lembranças do que restou do sonho cessaram, tive vontade
de pronunciar: dias estranhos. Feito a música vinda de não sei onde. "Os dias
estranhos nos encontraram". Frases incompletas servem de combustível. play
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Uma por Uma
Começou a escrever sem pontuação e num ritmo acelerado.
Escrevia cada palavra que vinha na cabeça. Uma por uma. Terminou o primeiro parágrafo
e leu. Estava uma porcaria. Apagou e recomeçou novamente. Depois perdeu o
ritmo. O texto parecia travado. Daí não conseguiu fazer muita coisa. Talvez
fosse somente um vício esse hábito de escrever. Ou um passatempo babaca. Começou
a preencher a folha em branco com todos os palavrões que conhecia. Quer dizer:
quis descobrir quantas palavras de baixo calão tinha no seu vocabulário. Mas
que arsenal! Artilharia da pesada. Se usasse todas ao mesmo tempo poderia inaugurar um novo idioma.
Teve um momento que novos palavrões começaram a surgir também. Essa
foi a melhor parte, e a mais difícil. Por que poderiam não entender. Voltou a
escrever os clássicos. Os velhos palavrões de sempre. E quando bateu o tédio
finalizou com a frase máxima do relacionamento conturbado, aquela frase que
quando dita em voz alta ameniza qualquer arranca-rabo sem solução: vai se fuder,
porra!
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Sexta-feira
Uma camionete para no sinal vermelho. No reboque carrega uma
lancha encoberta por uma lona creme. Ao lado passa um mendigo empurrando um
carrinho de compras cheio de quinquilharias. O calor está infernal. Rostos sem
expressão se cruzam a cada minuto. Próximo do retorno, funcionários do governo
cavam uma vala. E logo ali à esquerda tem um parque com uma academia comunitária.
Uma menina fuma o seu baseado tranquilamente, e em seguida passa pro cara que
está largado no banco. Funcionários de alguma telefônica estão na esquina do
outro lado da rua. Um está na escada enquanto outro busca uma ferramenta no
chão. Uma mulher desce do ônibus aparentemente sem rumo. Recebo o cumprimento
de uma pessoa que nunca vi. Respondo meio sem graça. Provavelmente deve ser
maluco. Três noiados caminham lentamente mais à frente. No sentido contrário
aparece uma bicha com duas meninas fazendo malhação. Passam por eles. É o encontro. Tenho o
pressentimento de que agora vai acontecer a trucidação. Eles não vão deixar
passar barato, e vão detonar o cara. Se topam perto da quadra de futebol. A
bicha passa no meio dos três. Os noiados ficam puto da vida. E começam a
xingar. Chega até ser engraçada a reação dos três. Os caras ficam indignados. Procuro a camionete e o mendigo, mas cada um seguiu o seu caminho. O sol não dá trégua. Só tá faltando a caatinga. Respiro um pouco de poeira. No horizonte só se vê aquela cor cinzenta. Escuto uma freada, e o som de uma moto. Procuro o celular no bolso e vejo que esqueci em casa.
Parece tudo calmo ao redor. Digo parece. Esse calor deixa a gente em órbita.
Passo pela rua onde uma mulher havia se suicidado. Dou um sorriso meio que querendo
espantar os pensamentos maus. Uns moleques passam de bicicleta voando à minha
esquerda. É isso aí molecada! Sem curtição não há vida.
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Zimmerman na Rolling Stone Gringa
“Essas pessoas colocaram o rótulo de Judas em mim. Judas, o nome mais odiado da história humana! Se você acha que já te colocaram um apelido ruim, tenta seguir em frente com esse peso. E por quê? Por tocar guitarra elétrica. Como se isso fosse o mesmo que trair nosso Senhor e entregá-lo para a crucificação. Todos esses desgraçados maldosos podem apodrecer no inferno”. Bob Dylan
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Aceita um café
Um amigo falava sobre a dieta enquanto
bebericava o seu copo de whisky caubói. Antes me ofereceu um gole. Não era
falso. Poderia beber sem nenhuma contraindicação. Mas agora, ele vai ter que
andar na linha. A pressão estava tão alta que o médico disse que o seu corpo
era uma bomba relógio prestes a explodir. Quando terminou a frase deu uma
gargalhada, e nós todos começamos a rir. Segundo ele, a pressão agora está
controlada, e não há porque dispensar o seu bom e velho whisky de guerra. Nem
me lembro da última vez que tirei a pressão. Acho que a minha é baixa. Tinha
tempo que não ouvia essa expressão: bomba relógio. É que a qualquer hora tudo
vai pelos ares. Então quando abri o jornal ontem pela manhã quis ver a bomba
relógio do dia. Abri o caderno de emprego e lá veio a primeira. Empresas estão
perdendo trainnes (jovens recém-formados que recebem incentivos para ocuparem
cargos importantes). A velha concorrência mostra as suas garras. O engraçado
dessa história é que já tem empresa que está usando como estratégia: promover
café da manhã, para que o estudante e a sua família possa conhecer a sua proposta.
Imagina a cena! O cara com 20 e poucos anos de paletó e gravata, juntamente,
com o papai e a mamãe numa reunião pra discutir o futuro do seu filhote no
mercado de trabalho. Porra! Chegou nesse ponto. “Bom dia! Como vai o senhor?!
Deseja um café? O Ricardinho tem um currículo fabuloso, senhor Braúlio. As
nossas intenções são as melhores possíveis”. O que me deixa alegre é pensar que
não funciona assim, conheço muita gente que investiu boa parte do seu tempo
nessas grandes empresas e comeu o pão que o diabo amassou, tanto é que depois
que
saíram tiveram que procurar a justiça. Levaram uma bolada de indenização. Deve ser mais
fácil seduzir os pupilos na presença dos pais e mestres. Se liga moçada! Passei
pros classificados, e encontrei um anúncio que me deixou alegre. Melhorou o
humor. Estava lá na parte dos acompanhantes. ADORO BEIJAR! Daí vinha todas as
especificações da gata como cintura, altura, e o telefone. Ao menos, ainda
existe gente que adora beijar. No caderno da cidade informava que no centro de
atendimento juvenil, o antigo CAJE, mataram outro menor infrator na cela.
Pegaram o cara enrolaram um pano no pescoço dele, tentaram afogar no vaso
sanitário, e como não conseguiram, o enforcaram até o fim. De agora em diante
vai morrer um por semana até que a instituição funcione conforme a sua nova lei interna. Pelo visto a bomba relógio já pipocou, e o meu amigo sabe das coisas. Beber
whisky de procedência deve manter a pressão normal. Faz parte da dieta.
domingo, 9 de setembro de 2012
sábado, 8 de setembro de 2012
No som do rádio
"Quando eu estiver velho, tarado e gagá
Com um copo de cana eu vou lembrar
Do teu gingado, e os meus olhos vão brilhar
Blues é assim, baby"
(Cazuza)
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Nada Fazer, Nada Pensar: Só Existir
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