sábado, 29 de dezembro de 2012

O mundo continua

Pra fechar o ano, aí vai umas tirinhas do Caco Galhardo. Todas elas estão no blog dele no link à direita. São geniais!! Falou moçada!!!!!!





sábado, 22 de dezembro de 2012

Fragmento

Henry Miller e Twinka - 1975 Foto.: Mary Ellen
"Ninguém avança pela vida em linha reta. Muitas vezes, não paramos nas estações indicadas no horário. Por vezes, saímos dos trilhos. Por vezes, perdemo-nos, ou levantamos voo e desaparecemos como pó. As viagens mais incríveis fazem-se às vezes sem se sair do mesmo lugar. No espaço de alguns minutos, certos indivíduos vivem aquilo que um mortal comum levaria toda a sua vida a viver. Alguns gastam um sem número de vidas no decurso da sua estadia cá em baixo. Alguns crescem como cogumelos, enquanto outros ficam inelutávelmente para trás, atolados no caminho. Aquilo que, momento a momento, se passa na vida de um homem é para sempre insondável. É absolutamente impossível que alguém conte a história toda, por muito limitado que seja o fragmento da nossa vida que decidamos tratar". Henry Miller

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Tarde de Quarta-feira

Pra não deixar o bate papo do boteco tedioso preferi escrever esse texto
(Ontem a cerveja estava trincando de gelada)

Talvez a palavra que possa trazer mais dificuldade pra quem quer se expressar seja uma só: linguagem. Ela vai instrumentalizar o que tem a se dizer. E a maneira de como se dizer algo tem a sua razão de estar ali. Quando se tem domínio da sua própria linguagem, a palavra se torna uma espécie de arma. Mas como não é agradável entender a palavra como arma, vou substituí-la por ferramenta. Uma ferramenta de poder infinito, mas que também tem os seus abismos. O artista assim como o homem comum persegue a sua linguagem com o intuito de manter-se vivo, e em contato com o outro. A diferença é que o homem comum não tem que prestar contas com a arte, e talvez por isso que muitos artistas se sintam com essa missão tola de tentar revelar o que não se vê, ou se sente como se fosse um trabalho indispensável. Não quero jogar no lixo o poder que a arte tem de interferir na nossa vida. É que pensá-la numa mão única impõe o que não se entende como um problema a ser combatido. O que vai prevalecer? O purismo artístico ou a liberdade niilista? Independente de qual o caminho a seguir, não se pega bem encarar a arte como instrumento evangelizador. 

A arte não é pra isso, se existir algum propósito que ele seja não-diretivo. Se algo mudar pras pessoas, ou pra sociedade é por que o artista conseguiu mexer com a sua própria vaidade. Colocou ela a prova. É como aquele suicida que joga um galão de gasolina no próprio corpo e ascende o fósforo. Ou aquele amante que de repente diz “Eu te amo” na frente de todo mundo sem medo de ser idiota. Existem razões que nunca vamos descobrir, e nem adianta especular. O escritor vai ter a sua palavra, a fotografa o seu click, e o lixeiro a sua vassoura. A arte está exclusivamente na mão de alguém? Do profissional diriam alguns, mas vou citar outra vez o poeta Luís Garcia Montero

Numa entrevista no ano passado ele arrematou essa ideia de maneira brilhante. 

“Creio que a poesia jovem espanhola vive um bom momento, ela tem uma vitalidade difícil de encontrar na Europa. Não é raro que um poeta espanhol venda cinco, seis mil exemplares porque a poesia está conectada com as pessoas. Creio que, muitas vezes, o primeiro culpado de não se ler poesia são os próprios poetas. Quando eles escrevem numa linguagem que as pessoas não entendem, sobre coisas que não têm nada a ver com a vida das pessoas, não podem esperar que as pessoas leiam poesia. E como o capitalismo é muito positivista, muito industrialista, ele não se interessa pela poesia, aí a poesia acaba não se interessando pela sociedade e os poetas se colocam numa postura de escrever numa linguagem difícil, sobre coisas que nada têm a ver com a sociedade. Isso já deu poesia vanguardista muito boa, mas também afastou a poesia da sociedade. Recuperar com dignidade poética a linguagem das pessoas é voltar a crer na comunidade, é recuperar a linguagem comum do espaço público onde a rebeldia da consciência pode encontrar um sonho coletivo capaz de se opor a toda essa perda de valores democráticos da sociedade contemporânea”. 


Então ao ler uma matéria dizendo que a criação poética é obrigatoriamente para poucos, já que contraria o senso comum é muito triste de se aceitar. A criação pode até ser para poucos, mas o senso comum não deve ser subestimado. A linguagem do dia a dia é viva, e não há como se negar isso seja qual for a formação do artista. Tanto faz se ele venha de uma escola acadêmica, ou das ruas. Aliás, ainda existe alguma escola? O único dever do artista é mudar-se a si mesmo. Não tem ideia mais besta do que querer mudar o mundo. Tenho vários amigos e amigas que escrevem, mas que se sentem incapazes de mostrar um risco sequer, por receio de serem mal interpretados, simplesmente, por estarem fincados até o pescoço numa instituição acadêmica. Tá na hora de dar um chute na porta, moçada! Esse negócio de ser aceito é uma tremenda bobeira. Pode ser um fardo também. Não existe jeito certo ou errado. Como diria o Bukowski: "escrever é uma forma de lamento. Alguns simplesmente lamentam melhor que os outros". 

Na vida: o senso comum, o sexo, a fome, a covardia, a pornografia, a falta de pudor, o carinho, o respeito, o palavrão, o desprezo, e o que mais aparecer pela frente, vai servir de material pra arte fazer cócegas na sociedade e descobrir se existe essa tal democracia mesmo. O Montero foi bastante feliz na sua colocação. Recuperar com dignidade poética a linguagem das pessoas traz pra vida. Agora como lidar com essa dignidade poética?  Cada um lapida a sua obra conforme deseja, e isso tem que ser respeitado, ora. Por que serve de reflexo pra sociedade também. É uma espécie de contrapartida. O ideal a ser alcançado pode servir de combustível, mas a arte que se nega a olhar pra vida, se não morrer de madura, vai agonizar na praça com as melhores intenções.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O Motorista

Um pequeno ajuste na engrenagem, e uma calibrada no motor. A caranga ia ficar no jeito. Então abriu uma garrafa de cerveja e começou a desmontar as peças. Cada parafuso ganhava um cuidado especial. Nunca tinha desmontado um na vida, mas não parecia ser difícil. Foi ajeitando todas elas de acordo com o desmonte. Logo emendou um Motorhead no som da sala. A vizinha lá do outro lado da grade olhava de cara feia. Quando começou a tirar o sabão do capô, o Led Zeppelin tomou de assalto com Black Dog. Olhou as peças no chão, e fez uma careta. Nisso o celular tocou. Iria buscar as meninas às onze da noite. O negócio era tocar violão numa quebrada da cidade. Ao confirmar que levaria o baseado ouviu umas risadinhas do outro lado da linha. Abriu outra garrafa de cerveja, e encheu o copo. O vizinho da casa da esquina apareceu para bisbilhotar. Veio com um papo de que o dia ficaria melhor se estivessem assando uma carne. 

O dono da caranga topou na hora, e o vizinho da casa da esquina foi buscar o resto de algumas peças de carne, frango, linguiça, e metade de um tubo de cachaça na casa da mãe. Queria dar uma força ao amigo. Ascendeu a churrasqueira, e ficaram ali batendo papo. O som já estava no máximo quando a brasa começou a ganhar força. O vizinho da casa da esquina só ficava olhando sem se intrometer na bagunça. Também porque o cara não entendia porra nenhuma de carro. Então era melhor não atrapalhar. Aí ele ficou ali de frente pra churrasqueira com o copo de cerveja na mão. Num instante, a filha da vizinha do sobrado de dois andares surgiu na conversa. Os dois estavam esperando que ela aparecesse com aquele shortinho jeans. 

Quando o dono da caranga começou a limpar a caixa de câmbio: Surfin’bird, do The Trashmen, deu as cartas na sua versão original. O vizinho da casa da esquina começou a rir do som da banda. Nunca tinha escutado antes. No início achou estranho, mas logo já estava batendo o pé no chão. Então aproveitou o embalo e virou outra dose de cachaça enquanto a coxa de frango pingava gordura na brasa. Nessa hora a casa já estava numa fumaça miserável. A caranga estava toda desmontada. Iria ficar no jeito pra mais tarde. No som tocava She’s the one dos Ramones num show ao vivo de 1980 em Paris. As caixas de som estavam enfurecidas e a garagem agora parecia uma arena de rock and roll. 

Fez isso pra atazanar a vizinhança. Um dia antes, o vizinho da casa da direita tinha escutado música sertaneja o dia inteiro, então quis dar uma resposta. Nada é de graça. O churrasco começou a cheirar quando o vizinho da casa da esquina batia cabeça com a faca no ar. “Ramones é bom pra caralho”! As pessoas que passavam pela casa olhavam intrigadas. Rock and roll?! Que música mais agressiva é essa? É barulho demais. E ainda dizem que a nossa música é ruim. O vizinho da casa da esquina ascendeu um cigarro, virou o boné pra trás, e perguntou se o brother precisava de ajuda no carango. “Não! Tá tudo tranquilo”. A filha da vizinha enfim apareceu para animar o sábado. É ela! Aí os dois foram até a frente da casa. Só que a moça não estava com o tal shortinho famoso. Estava de saia. Mini-saia! E caminhava até o início da rua. Por incrível que pareça nesse momento o Ramones tocava uma balada. A trilha deu certinho com aquele rebolado inocente. Dois minutos de beleza. O vizinho da casa da esquina ainda ficou esperando ela voltar. Não voltou. O dono da caranga olhou as peças no chão, e fez aquela mesma careta. Pensou: não posso ficar enrolando. Preciso terminar antes da noite chegar, senão hoje não tem farra. Boa parte do motor continuava esparramada pelo chão. Era preciso se concentrar em cada peça, então pegou a lata de graxa, uma estopa, um tubo de óleo e uma chave phillips. A carne começou a ficar no ponto. Daí veio uma lasca, uma dose & outra cerveja para amaciar o estômago, e eis a montagem! Somente um pouco de concentração e o motor estaria tinindo. Foi quando a birita começou a fazer efeito. Precisou molhar a cabeça. 

Mas antes de ir ao banheiro colocou um disco do Blues Etílicos. Encheu mais um pote com querosene, e começou a lavar o carburador. Pronto! Tá limpo! Agora é cada peça no seu lugar. Não tem erro! O vizinho da casa da esquina resolveu fechar o bico por consideração. Tava na cara que o dono da caranga não tinha a manha. Que aquilo ali ia ser pedreira. Ajustar um motor sem experiência é fatal. Foi quando analisou a churrasqueira e resolveu tirar o espeto das coxas de frango, cortar a carne, e colocar mais carvão. O cheiro estava maravilhoso. Já tinha tomado conta da rua. Tanto é que apareceram uns dois ou três desocupados atrás de uma boquinha.  O dono da caranga parecia confiante. As peças estavam se encaixando. Quando chegou na metade do trabalho, o doidão percebeu que algumas peças haviam sobrado, e ficou puto por que não sabia aonde deveria encaixá-las. O vizinho da casa da esquina quis dar um palpite, mas preferiu ficar na sua.  Preferiu ir na sala trocar o som. Colocou Rolling Stones. O dono da caranga ao escutar Under my thumb ganhou outro fôlego. Sorriu! Quis ficar calmo. Mas logo começou a escurecer e nada da porcaria do motor se ajustar. 

Então largou de mão e desistiu de querer sabe aonde aquelas malditas peças deveriam ser colocadas. Aí só de sacanagem resolveu ligar o carro. Se explodisse! Foda-se! Depois de uma tarde inteira naquela trabalheira dos diabos, só queria ver que merda ia dar. Colocou a chave na ignição e ligou. O danado roncou forte. O vizinho da casa da esquina deu uma gargalhada de felicidade. Já estava chapado. Daí os dois ficaram rindo da situação. Onde já se viu um carro funcionar faltando peças? Acelerou com vontade, e escutou uma espécie de tiro, como se fosse de uma escopeta. Tirou o pé imediatamente. Nisso o vizinho da casa da esquina querendo mostrar serviço disse que poderia ser o platinado. No escapamento só se escutava os pipocos. Então o dono da caranga resolveu desligar. Catou as peças que sobraram e jogou no canto da garagem. Também já estava no grau. Quando anoiteceu, rezou para que o carro funcionasse. Deu a partida e bingo! Que possante de fibra! Garoto bom de briga. Mesmo faltando peça ainda estava funcionando. Trancou o portão e acelerou devagar até a entrada da rua. 

O vizinho da casa da esquina estava todo arrumado. Fez sinal e perguntou qual era a boa da noite. O dono da caranga resolveu convidá-lo pra farra. O porra estava sem rumo mesmo, então quis convidá-lo por consideração. Aí os dois foram atrás das garotas. Vinte e cinco minutos depois os faróis do carro se apagaram. A luz do painel também sumiu. O dono da caranga fez aquela mesma careta, só que agora com um ar de preocupação. Tirou o pé do acelerador, e parou no acostamento.  Desligou o carro, apagou os faróis, e ligou novamente. A luz do painel continuou apagada. Resolveu esperar um pouco. Um minuto. Três minutos. Ligou os faróis. Não funcionaram. Deu um murro no painel. Uma porrada forte. O vizinho da casa da esquina levou um susto, mas começou a rir. O dono da caranga ficou brabo, e mesmo assim resolveu seguir em frente. 

Fez um longo percurso até a casa das meninas. Precisava desviar da polícia. Não dá mole pro azar. Provavelmente, eles estariam só esperando algum vacilão pra darem o bote certeiro. Com as meninas na caranga foram para uma quebrada da cidade. Nesse momento tocava: Tora Tora dos Raimundos. Ao dobrar uma quadra infelizmente deu de cara com uma fila de carros. Puta que pariu! Blitz da polícia militar. O carango só tava funcionando meia boca, e agora? As meninas gritaram para que ele procurasse algum desvio. Já era! A parada era enfrentar. O vizinho da casa da esquina ficou pálido. O dono da caranga respirou fundo e deu uma risada de sacanagem, os faróis tinham voltado ao normal. Que carro de fibra! Na hora H, ele não ia deixar o seu brother em apuros. Quando chegou a sua vez de passar pelos cones, o primeiro policial fez sinal de que poderia passar, mas logo à frente o segundo mandou encostar à direita. Que coisa maluca! Mandou encostar ali na frente. Mas cadê aquela parada de furar os pneus? Ué! Tá lá atrás. Por que então parar na frente da blitz? Decerto porque a fila de carros já tinha ultrapassado o seu limite e eles queriam grampear sem dó nem piedade. 

O dono da caranga encostou e ficou olhando o soldado se aproximar. Quando ele encostou na porta e pediu o documento, o motorista não conseguiu conter a risada, e arrancou com a caranga acelerando até o talo. Ainda viu o policial atordoado com a avenida totalmente livre à sua frente. O vizinho da casa da esquina só balbuciava: “A minha mãe vai me matar”. No som tocava Ramones  enquanto a menina no banco de trás enchia os olhos de lágrimas. “Seu louco! Para essa porcaria agora! Seu babaca!”. Parece que a única pessoa que estava gostando da farra era a menina do banco da frente. Ela sempre o mantinha informado. “Olha a sua esquerda! Toma cuidado que eles estão chegando”. O dono da caranga sorria com o pé no acelerador. Nunca tinha visto um carro tão valente. Por que mesmo faltando várias peças, o danado parecia voar como um foguete. E foi assim até o final.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Copa

Tem essa matéria antiga na Revista Trip sobre a Janis Joplin quando ela aportou no Rio de Janeiro em 1970. Muito bacana. É só clicar na foto, e depois ir na sequência no link: Home.
Janis Joplin

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer

Por: Rodrigo Ferreira
Ontem enquanto tocava no boteco me disseram que o Niemeyer tinha acabado de falecer. Aí fiquei pensando num equívoco que cometi por anos, e anos seguidos. É que no 2º grau, eu estudei no Centro Educacional Elefante Branco, e por ignorância sempre achei que ele tinha projetado aquele prédio. Digo ignorância por que deveria ter pesquisado antes de pensar que ele de fato teria desenhado o colégio. O prédio é esquisito e sempre me causou agonia. Tem algumas salas que não tem as janelas laterais. Elas ficam no teto. Consegue imaginar? No teto. A sensação é terrível. Você se sente como se estivesse dentro de um labirinto. Claustrofobia de primeira! Dos três anos que passei por lá, teve um que não tive escapatória e caí nessa cela. Acho que foi no 2º ano. Meses e meses, rodeado por paredes cinzentas e rabiscadas. Lembro que em um dia de nota baixa, e falta de perspectiva, eu amaldiçoei o Niemeyer. Velho maluco! Como pode fazer uma prisão dessas? Onde já se viu, pô? Sala de aula tem que ter janela na altura do pescoço. E passei anos cometendo esse erro. Até que anteontem resolvi pesquisar (em cima da hora) e descobri que o arquiteto do Elefante Branco é o José de Sousa Reis. Pô! Niemeyer! Desculpa a minha idiotice. Erros acontecem. Você não foi um gênio, você é um gênio, e a sua marca tá fincada na história. Não vou puxar o teu saco agora. Seria muita falta de originalidade tomar esse rumo. Agir da mesma forma dos oportunistas de plantão. Pegar o bonde com a sua morte. É até engraçado as declarações que tenho lido na mídia. Não vou citar aqui, mas tem alguns políticos da cidade que não perdem por menos, e tentam criar uma comoção que soa besta. Fico pensando nas entrevistas antigas do Niemeyer. Quando leio as declarações desses caras, elas se tornam ridículas. Procurem as entrevistas antigas. Ele tinha opinião e falava com franqueza. Nessa época de estudante cheguei até pensar que seria arquiteto também. Estudei com afinco e só descobri que nunca seria um quando fui fazer a prova prática lá na Unb. Quando peguei o caderno de provas comecei a rir. Aquilo não me fazia sentido. Onde estava com a cabeça? Daí levei na galhofa. Lembro que teve uma questão que tínhamos que desenhar um modelo vivo. Graças a Deus que apareceu uma menina em cima do tablado e eu jurei que ela iria tirar a roupa, mas não tirou. E me desconcentrei por que a todo instante me vinha à cabeça: agora ela vai tirar, é agora, é agora, é agora, e a porcaria do desenho não saia de jeito nenhum, e cada vez mais, só piorava a minha situação. Quando terminei levantei a folha para conferir de longe. Tinha ficado uma merda. Meses e meses de empenho em vão. Adeus arquitetura. Fui embora com um sorriso besta na cara por ter descoberto que aquilo não era a minha praia. Até hoje imagino a menina do tablado nua. Aprendi com o Niemeyer que a beleza das curvas da mulher deve ser o combustível da invenção criativa. E ontem ao tocar no barzinho fiquei pensando nisso. Foi legal voltar a tocar. O bar foi reaberto por esses dias. E não sei se o nome vai continuar o mesmo: cidade livre. Nas paredes você encontra fotos antigas da construção de Brasília. E ontem foi um clima diferente. O Niemeyer morto, a cerveja gelada, o whisky em pequenas doses, e a música comendo até as quatro da matina. Um enterro que se preze tem que ter várias piadas nas conversas paralelas. E vocês arquitetos, tomem cuidado ao desenharem colégios públicos. Sala de aula deve ser um lugar tranquilo, pelo ao menos, no campo visual. Pra arrematar, na figura aí em cima, vai a minha singela homenagem por você ter feito Brasília. Só precisei de um ponto de fuga. Descanse em paz grande mestre!