Oscar Niemeyer
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Por: Rodrigo Ferreira |
Ontem
enquanto tocava no boteco me disseram que o Niemeyer tinha acabado de falecer. Aí
fiquei pensando num equívoco que cometi por anos, e anos seguidos. É que no 2º
grau, eu estudei no Centro Educacional Elefante Branco, e por ignorância sempre
achei que ele tinha projetado aquele prédio. Digo ignorância por que deveria
ter pesquisado antes de pensar que ele de fato teria desenhado o colégio. O
prédio é esquisito e sempre me causou agonia. Tem algumas salas que não tem as
janelas laterais. Elas ficam no teto. Consegue imaginar? No teto. A sensação é
terrível. Você se sente como se estivesse dentro de um labirinto. Claustrofobia
de primeira! Dos três anos que passei por lá, teve um que não tive escapatória
e caí nessa cela. Acho que foi no 2º ano. Meses e meses, rodeado por paredes cinzentas
e rabiscadas. Lembro que em um dia de nota baixa, e falta de perspectiva, eu
amaldiçoei o Niemeyer. Velho maluco! Como pode fazer uma prisão dessas? Onde já
se viu, pô? Sala de aula tem que ter janela na altura do pescoço. E passei anos
cometendo esse erro. Até que anteontem resolvi pesquisar (em cima da hora) e
descobri que o arquiteto do Elefante Branco é o José de Sousa Reis. Pô!
Niemeyer! Desculpa a minha idiotice. Erros acontecem. Você não foi um gênio,
você é um gênio, e a sua marca tá fincada na história. Não vou puxar o teu saco
agora. Seria muita falta de originalidade tomar esse rumo. Agir da mesma forma dos oportunistas de plantão. Pegar o bonde com a sua morte. É
até engraçado as declarações que tenho lido na mídia. Não vou citar aqui, mas
tem alguns políticos da cidade que não perdem por menos, e tentam criar uma comoção
que soa besta. Fico pensando nas entrevistas antigas do Niemeyer. Quando leio as
declarações desses caras, elas se tornam ridículas. Procurem as entrevistas
antigas. Ele tinha opinião e falava com franqueza. Nessa época de
estudante cheguei até pensar que seria arquiteto também. Estudei com afinco e só descobri
que nunca seria um quando fui fazer a prova prática lá na Unb. Quando peguei o caderno
de provas comecei a rir. Aquilo não me fazia sentido. Onde estava com a cabeça? Daí levei na galhofa. Lembro
que teve uma questão que tínhamos que desenhar um modelo vivo. Graças a Deus
que apareceu uma menina em cima do tablado e eu jurei que ela iria tirar a
roupa, mas não tirou. E me desconcentrei por que a todo instante me vinha à
cabeça: agora ela vai tirar, é agora, é agora, é agora, e a porcaria do desenho não
saia de jeito nenhum, e cada vez mais, só piorava a minha situação. Quando terminei levantei a
folha para conferir de longe. Tinha ficado uma merda. Meses e meses de empenho
em vão. Adeus arquitetura. Fui embora com um sorriso besta na cara por ter
descoberto que aquilo não era a minha praia. Até hoje imagino a menina do tablado nua. Aprendi com o Niemeyer que a beleza das
curvas da mulher deve ser o combustível da invenção criativa. E ontem ao tocar
no barzinho fiquei pensando nisso. Foi legal voltar a tocar. O bar foi reaberto
por esses dias. E não sei se o nome vai continuar o mesmo: cidade livre. Nas
paredes você encontra fotos antigas da construção de Brasília. E ontem
foi um clima diferente. O Niemeyer morto, a cerveja gelada, o whisky em pequenas doses, e
a música comendo até as quatro da matina. Um enterro que se preze tem que ter
várias piadas nas conversas paralelas. E vocês arquitetos, tomem cuidado
ao desenharem colégios públicos. Sala de aula deve ser um lugar tranquilo, pelo
ao menos, no campo visual. Pra arrematar, na figura aí em cima, vai a minha singela
homenagem por você ter feito Brasília. Só precisei de um ponto de fuga. Descanse
em paz grande mestre!
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