terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Um Poema Beat

A BAGUNÇA TODA... QUEM SABE
Gregory Corso

Subi seis lances de escada
até meu pequeno quarto mobiliado
abri a janela
e comecei a jogar fora
as tais coisas mais importantes na vida

Primeiro, a Verdade, ganindo como um dedo-duro:
“Não! Direi coisas terríveis de você!”
“Ah, é? Não tenho nada a esconder... FORA!”
Depois, Deus, assombrado, corado e choroso de espanto:
“Não é culpa minha! Não sou a causa de tudo isso!” “FORA!”
Depois o Amor, aliciando subornos: “Você não conhecerá a impotência!
As garotas da capa da Vogue, todas suas!”
Apertei sua bunda gorda e gritei:
“Seu destino é um desvalido!”
Peguei a Fé, a Esperança e a Caridade
as três juntas abraçadas:
“Você não vai sobreviver sem nós!”
“Estou pirando com vocês! Tchau!”

Depois a Beleza... Ah, a Beleza –
Tão logo a levei até a janela
disse: “Você eu amei mais na vida
... mas é uma assassina; a Beleza mata!”
Sem querer realmente atirá-la
desci correndo as escadas
chegando a tempo de apanhá-la
“Você me salvou!” sussurrou
Coloquei-a no chão e disse: “Anda.”

Subi de volta as escadas
procurei o dinheiro
não havia dinheiro pra jogar fora.
Só restava a Morte no quarto
escondida atrás da pia da cozinha:
“Não sou real!” gritou
“Não passo de um rumor espalhado pela vida...”
Atirei-a fora com a pia e tudo, sorrindo
e então notei que o Humor
era tudo que havia restado –
Tudo que pude fazer com o Humor foi dizer:
“A janela fora com a janela!”

..................................
tradução: Márcio Simões

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Segurar a Bronca

Willem Kooning
Um desconto vai cair bem, e isso é só para perceber que não precisa abaixar a guarda. Se pra isso vamos encontrar uma palavra no dicionário, ou uma nova definição que quer ganhar espaço, a porta precisa ser testada. O tédio já não corresponde às expectativas. O que é pra já não merece respeito. Até quieto, os ruídos estão em volta por que existe um movimento que a vida faz e não adianta brigar por causa disso. Também vai servir para evitar esse atropelo quando a voz não consegue encontrar uma palavra na porta de saída. E ainda tem os malditos impulsores que insistem em nos dar as cartas. O faça isso, o faça aquilo, o caminho é por aqui. Acredito que isso só atrapalha quando o vocabulário se esgota. Quando a pressão está voando num céu de brigadeiro parece que existi algo de errado nessa calmaria por que o comum é se ter de menos ou de mais. Papo! Nada pior do que ficar em paz pensando na agonia, ou na agonia pensando em paz. Acredito em não deixar nada passar barato. O corpo movimenta, a vida também. Os problemas chegam e vão embora. Mesmo aceitando ou negando, não adianta ficar com o seu estoque de pensamentos pros dias de chuva, e os de sol. Daqui a pouco terá que mudar algo. E com mais palavras damos voltas e mais voltas. Às vezes escampamos ilesos. Depois é outra estória. 
Ficar antecipando emoções que possivelmente nem vão aparecer, e se preparar antes do pior, só vai trazer cansaço. É essa mania controladora que tá deixando todo mundo maluco. Pior ainda é matar a novidade. A imparcialidade de algumas pessoas não chega a ser nem um blefe. É puro medo de enfiar o pé na porta, e enlouquecer. Se somos atores no dia-a-dia nada melhor do que mergulhamos no personagem até o fim. E saber sair dele com os cacos dentro do bolso. A depressão não é tão feia como pregam por aí, e o otimismo também pode ser uma farsa das mais sujas. Então pensa como os especialistas ganham força quando eles se alimentam da nossa falta de resposta. Imagina toda aquela sabedoria estudada e eficiente, que também pode estar errada, mas que também vai sempre estar pronta a mostrar qual é a real situação. O plano que deve ser feito quando ainda se tem alguma chance. As velhas armações de bem-estar nunca deixaram de aprimorar as suas iscas. 
Tenho repetido de vez em quando comigo que se souber segurar a bronca já está de bom tamanho. A rotina faz o resto. Leva adiante. A rotina não traz problema desde que ela esteja no seu rumo correto. Me lembrei da mulher que me disse que o trabalho dela era barra pesada de encarar. Tem gente que por um salário fixo no final do mês tem a capacidade de se sujeitar a qualquer coisa. Não precisa ter dúvida disso. Agora se ela conseguir segurar a bronca talvez consiga não sentir medo dos seus pensamentos. Às vezes fico parado vendo a multidão passar. Enquanto isso leio as manchetes dos jornais em frente a banca de revista. Lá dentro passo o olho nas capas das revistas e folheio alguns gibis. O silêncio ainda atrai os velhos fantasmas, e eles usam os mesmos truques só para testar se você sabe segurar a bronca.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Groove Bacana

Quando se tem uma energia, o som fica bonito. Muito legal essa homenagem ao Zeppelin (abaixo). Me perguntaram se o blog tinha acabado, mas não acabou. Logo vou aparecer por aqui. Tô até com saudade de escrever. Por enquanto segue esse som desses dois camaradas aí. Até!

quinta-feira, 18 de julho de 2013

No Vinil

De vez em quando eu ficava cantando o título e acho que também o refrão dessa música: Salt Peanuts! Salt Peanuts! Mas não sabia quem tocava o som. Um jazz de primeiro quilate. Ontem descobri que é o Dizzy Gillespie. E até que enfim que encontrei. Já tinha tempo que tava afim de descobrir quem mandava aquele Salt Peanuts! Salt Peanuts! Acho engraçado a maneira como ele canta. Escutei essa música num filme e de lá pra cá foi um rolo pra descobrir o nome. Digitei tudo quanto foi nome e nada, ontem achei a ficha da trilha sonora, e descobri que o meu inglês é uma porcaria, putz. Salt Peanuts! Salt Peanuts!

domingo, 14 de julho de 2013

Gata Garota

Mulher instrumentista é uma das coisas que mais aprecio. Meu domingo fica melhor! YEAH!!!!!

sábado, 6 de julho de 2013

Cena nº 04

Comportamentos de um dia frio. Pego um jornal da semana passada e leio notícias velhas.  Tudo sem nenhuma vontade de opinião, ideia ou qualquer juízo de valor. Tá valendo... Tô viciado no disco do Dr. John. Tá aí! Esse disco tem me feito bem. Quando começo a ficar idiota comigo mesmo, coloco pra tocar e tenho alguns minutos de paz. Só tenho pensando na noite. Na madrugada principalmente. É uma pena que passa rápido demais. Fico calado mascando um clorets. A música rola solta, e acompanho o ritmo. Ela toma conta desse momento. Não digo nada. Só escuto. O silêncio não faz mal quando essa ótima companhia é você mesmo.    

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Pra fechar a hora

Abaixo vai um poema do Vininha:
...........................................................................................................

E depois tem a questão de ter paciência 
Não se deixar levar, estar preparado e ao mesmo tempo certo 
De que ainda é possível... E depois 
Tem a questão de resolver, de não parecer que, e ao mesmo tempo de ter que... 

E depois tem a questão do não-obstante, do prurido, da válvula 
Tem a questão do conhecimento, do ementário 
Sem falar na questão importantíssima do... 
E depois tem a questão do é-preciso, do meu-caro, do pois-é 
Dos canais competentes, dos compartimentos estanques, dos memorandos 

E depois tem a questão talvez precária do encontro 
E do desencontro, do entendido e do mal-entendido, do lucro 
E do desdouro; e depois tem a questão 
Da finura, da delicadeza e da firme delicadeza e das duas delicadezas.

(Vinicius de Moraes)

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Quando o barulho chega

Tinha momentos que parecia uma cidade fantasma. Mas o silêncio era bom, e quando a tarde chegava quieta dava até pra escutar o som dos ponteiros do relógio. De vez em quando uma moto passava quebrando a lentidão do apartamento, e o barulho agora trazia uma impressão de companhia. Passava pelo tal bloqueio criativo. Não conseguia escrever mais nada. Estava naquela fase de andar pelas esquinas. Parecia que o estoque das vivências tinha chegado ao final. Estava de saco cheio da própria imaginação. Precisava da chatice das pessoas. Dos possíveis gestos de compaixão. Da crueldade alheia. Da impaciência do trânsito. Da sirene da ambulância do bombeiro. 
Todos os livros da estante já estavam manjados. Então sentia a volta da vida novamente. Depois ia reler cada exemplar um a um, outra vez. Mas onde estava o erro? 
Numa caminhada pela feira aproveitou alguns minutos pra relaxar um pouco. Parecia uma discussão sobre o preço do rateio do pescado. Um fato banal que não mudou muita coisa. Estava farto de compreensão. Viver vai além da compreensão. Estar vivo é o melhor remédio. É superior a qualquer explicação idiota ou científica. Tentou colocar isso no papel. Escreveu duas páginas, e leu em voz alta. Que texto fraco! Não tinha vida! Estava cheios de resquícios de compreensão, e dádivas, e preocupação demais com o leitor. Foda-se o leitor! Se fosse pra escrever tinha que ter confusão. A vida é dessa forma por que o texto não poderia ser assim também, ora?! Era só saber mentir. 
Enquanto houvesse intenção, nenhuma palavra soaria verdadeira. Pra mentir só tinha que saber o que aceitavam como verdade, e aí digitar até o fim. Ninguém aceita verdade na cara. Por isso que enchem o saco quando contrariados. Às vezes o cinismo é o melhor caminho. Escrever não é pra fazer amizade ou inimizade, mas simplesmente para vomitar ou assobiar: é estar vivo. Rasgou aquela besteira, e jogou no cesto de lixo perto da poltrona. Abriu o freezer e lá no canto tinha o resto de um vinho tinto. Colocou uma taça, e ligou pr’aquela maluca lá do outro lado da cidade. Marcaram de se encontrar às 23h ao lado do posto da polícia militar. Nessa hora eles ainda poderiam estar em alguma passeata.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Torcicolo

Um estrondo interrompeu a minha leitura. Estava na metade de um conto do Rubem Fonseca quando três carros ficaram engavetados no meio da avenida. O bate boca foi geral. Vontade de escutar um som. Bob Dylan naquele disco ao vivo de 66. O som é cru e tem energia quando a banda faz a parte elétrica. Penso que me comportei adequadamente mesmo quando fui provocado, a situação já passou, mas outra vez se repetiu com a mesma babaquice de sempre. Não adianta perder tempo, muito menos palavra escrita. Resolvo voltar pra leitura. De alguma forma isso está anotado na cachola. Se um dia tiver que me lembrar, vou saber usar a informação. A pancada foi forte. O trânsito parou. Tinha um cara com a mão no pescoço. Ele estava no carro do meio que ficou bem estragado.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Passe Livre

De longe notei que um velho estava na minha direção. Vinha puxando o chinelo. A calça estava toda mijada. Logo pensei naquele blues do Cazuza: “quando eu estiver velho / tarado e gagá / com um copo de cana”... Daí ele catou a chave do bolso e se aproximou do carro. Abriu a porta lentamente. Tinha uma mulher lá dentro. Devia ter uns 20 e poucos anos. Ela me olhou sem graça e virou o rosto. Se escondeu. Decerto ficou com vergonha. O coroa ia se divertir naquela hora da tarde.  Enquanto milhares de pessoas já começavam a tomar conta das ruas, o velhote ia tirar umazinha em algum hotel vagabundo da redondeza. Tá certo! Jovem tem que reivindicar. Tomar conta da rua se quiser mudar alguma coisa. Por que quem já está na beira da morte merece todo o respeito. Fui pagar uma conta na lotérica no comércio ao lado, e risquei um bilhete sem nenhuma convicção. A atendente me desejou sorte. Retribui com um sorriso. Ganhei a rua, e uma loiraça passava lá do outro lado da calçada com uma roupa grudada no seu corpo. Dava pra ver cada detalhe. Ela andava sem nenhuma preocupação. Passou um carro e buzinou, um camarada de moto também meteu a mão na buzina, o motorista do ônibus também mandou o seu recado: PAM! PAM! Eu estiquei a vista até onde consegui enxergar. Ao que parece desse lado da cidade a agitação ganha outro contorno. Pressinto que ainda existi uma certa felicidade no ar. Talvez por que agora a juventude e a velharada estão de mãos dadas nesse mesmo barco.   

domingo, 16 de junho de 2013

Enquanto fica gelada lá no freezer

Bem no fundo 

No fundo, no fundo, 
bem lá no fundo, 
a gente gostaria 
de ver nossos problemas 
resolvidos por decreto 

a partir desta data, 
aquela mágoa sem remédio 
é considerada nula 
e sobre ela — silêncio perpétuo 

extinto por lei todo o remorso, 
maldito seja que olhas pra trás, 
lá pra trás não há nada, 
e nada mais 

mas problemas não se resolvem, 
problemas têm família grande, 
e aos domingos 
saem todos a passear 
o problema, sua senhora 
e outros pequenos probleminhas.
(Paulo Leminski)


sábado, 18 de maio de 2013

O último trago

Notícia triste essa sobre o Paulo de Tharso. Grande artista! Tive a oportunidade de vê-lo em cena na peça do Bortolotto - Música para Ninar Dinossauros, e foi uma noite muito bacana. Num momento ele tocou uma canção no piano chamada Tati (composição dele) e a sua voz com aquele timbre rouco fez um clima blues tomar conta da cena. Ficou bonito pra caralho. A vida é um troço esquisito, de repente tudo muda num piscar de olhos. Abaixo vai um outro trecho da peça.  A atriz se chama Erika Puga. Dá uma sacada:

segunda-feira, 29 de abril de 2013

O Terno

Ontem assisti o show dessa banda (O Terno) no projeto Toca Raul, e foi massa. Eles só tocaram músicas do maluco beleza. E fizeram um som e tanto. Os arranjos estavam com uns timbres bonitos. O volume ficou no jeito, e as músicas se encaixavam perfeitamente na leitura da banda. Nota 10 aí pra galera da mesa de som. Entregaram um som de primeira pros músicos. Os caras se divertiram o tempo todo. Se o músico conseguir se divertir no palco, o público vai junto sem fazer esforço. E foi isso o que aconteceu ontem. Não conhecia o trabalho da banda, mas agora vou prestar atenção melhor. É bom quando se escuta um som bem montado. Traz uma sensação boa. Mesmo tocando Raul, fiquei pensando como seria as músicas autorais. Agora tô aqui escutando. Massa! Já está no set list.



Eu não preciso de ninguém



Aqui o Terno interpreta Canto de Ossanha (Vinicius de Moraes / Baden Powell) 2:01

terça-feira, 23 de abril de 2013

A Capital

Paulino Aversa

“No momento em que percebemos que nossa existência não está fundada em fatos objetivos do passado. Que a nossa existência consiste naquilo que fazemos dela, talvez haja algo de horrível sobre este reconhecimento; no momento em que você se livra de suas desculpas, se livra dos seus álibis”. (Jonathan Rée)

quarta-feira, 27 de março de 2013

Compasso 5/4


Escolha aquela rua com esse solo de bateria na cabeça. Sem pensar em imperativo. Palavra alguma irá amenizar a totalidade dos sentidos. Calar não é necessariamente silenciar. Daqui a pouco o solo acaba e essa música realmente tem me feito bem. O tema funciona como uma sensação. Sempre me trará lembranças desse momento. E aí será outro lance. Outra onda. Algo que surge enquanto tento me virar com o que pode acontecer.

terça-feira, 26 de março de 2013

A Hipnose Figurativa

Lucian Freud
Na foto acima, o neto do pai da psicanálise Lucian Freud trabalha no seu ateliê enquanto retrata a modelo deitada na cama. Essa foto é uma bela metalinguem do seu trabalho. Mas aí é que tá: o que passaria pela sua cabeça nesse momento?

(  ) Absolutamente nada, sou um profissional acima de tudo.

(  ) Preciso escutar o que o meu avô, Sigmund, disse em pensamentos vivos: “As criações, obras de arte, são imaginárias satisfações de desejos inconscientes, do mesmo modo que os sonhos, e, tanto como eles, são, no fundo, compromissos, dado que se vêem forçadas a evitar um conflito aberto com as forças de repressão”.

(  ) Esqueça! Continue pintando e finja que nenhum mecanismo de defesa vai atrapalhar o meio de campo.

(  ) O cachecol queimou o meu filme.

(  ) Deveria tê-la pintando mais alegrinha. Vai ver não gostou muito...

(  ) Um antigo provérbio judeu: “O Homem pensa, Deus ri”.

(  ) Será que pegaria mal se eu pedisse o telefone dela?

(  ) Relaxa! Não dê bandeira. Não gaste munição antes do tempo. Ela pode perceber.

(  ) n.d.a 

sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia da Mulé

Hoje é o dia da Mulher. Um grande abraço! Sem vocês a gente não é nada. Um brinde & um chopp do caneco!
Por.: Robert Crumb

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Velho Camus!


O Compromisso Estraga o Escritor

Gosto mais dos homens que tomam um partido do que das literaturas que tomam partido. Coragem na vida e talento nas obras já não é nada mau. E, depois, o escritor só é comprometido quando quer. O seu mérito é o movimento. E se isso deve passar a ser uma lei, um ofício ou um terror, onde está então o mérito?
Parece que escrever hoje um poema sobre a Primavera é servir o capitalismo. Não sou poeta, mas fruiria sem rebuço uma semelhante obra se ela fosse bela. E se o homem tem necessidade de pão e de justiça, e se é preciso fazer o necessário para satisfazer essa necessidade, não se deve esquecer que ele precisa também de beleza pura, que é o pão do seu coração. O resto não é sério. 
Sim, eu desejá-los-ia menos comprometidos nas suas obras e um pouco mais na sua vida de todos os dias. 

Albert Camus, 'Cadernos'

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Braço a torcer

Daniel Melim - ABC Paulista, SP
A melhor frase veio quando não passava nada pela sua cabeça. Disse sem motivo algum, sem esboçar nenhuma emoção. Quando fechou a boca escutou um elogio na mesma sequência. Não quis falar mais nada. Apenas se calou. Ficou ali no seu canto fumando um cigarro. O mesmo elogio deu as cartas novamente, só que agora veio com mais ênfase e um gesto pra afirmar o seu brilhantismo. Continuou quieto, sem mover uma palha, ali no seu canto dando uma tragada no cigarro. O silêncio chegou sem pedir licença. Dava até pra escutar o som das moscas no ar. Mas do elogio surgiu uma queixa de que ele não sabia retribuir o que ganhara. E nesse momento o pai fez questão de mostrar que era o seu PAI e ponto final. Do tipo: pegue o elogio, e não discuta. Mas o filho não disse aquela frase com intenção de ganhar nada, apenas respondeu o que lhe foi perguntado, somente isso, não imaginava que pudesse vir um elogio, mas ele veio, e é por isso que preferiu continuar do mesmo jeito de quando o seu pai o chamou pra conversar.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Num dia qualquer


Teve um momento que estiquei os pés
Estava numa preguiça braba
Aí fiquei encostado na poltrona esperando a próxima notícia
Por causa da greve da polícia
Várias pessoas foram mortas sem boletim de ocorrência
Muita confusão no meio da rua e um bate boca implacável
Um homem se defendia a todo custo 
Enquanto alguns analisavam a situação de longe
Fiquei esticado na poltrona a procura do controle remoto
No outro canal passava um programa de culinária
Apertei uma tecla
E no canal ao lado passava um desenho do pica-pau
Avancei mais uma vez
Agora um pastor dizia algum trecho da bíblia com o semblante nervoso
Parecia puto de raiva!
Não deu pra saber o por que de tanto nervosismo
Mudei novamente
E num programa alguém contava alguma besteira sobre esses famosos da última hora Que papo sem graça!
Encontrei um jogo de futebol
Deixei um pouquinho até saber o placar
0 X 0
Na MTV um cara cantava uma letra boba e tinha o mesmo jeito do pastor
Chega de nervosismo!
Mudei aleatoriamente e encontrei umas gostosas dançando num programa de auditório
A música era uma porcaria, mas as danadas estavam com tudo
Depois o boboca do apresentador começou a querer ser descolado e fez umas graçinhas para me animar
Quer dizer: animar o telespectador
Esperei mais um pouco pelas meninas
Se não fossem por elas aquilo ali não duraria uma semana
Mas infelizmente as meninas não apareceram 
Desliguei a TV e fui tomar água

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Loki?!



"Aqui estão os loucos. Os desajustados.
Os rebeldes. Os encrenqueiros.
Os que fogem ao padrão.
Aqueles que não se adaptam às regras,
nem respeitam o status quo.
Você pode citá-los ou achá-los desagradáveis,
glorificá-los ou desprezá-los.
Mas a única coisa que você não pode é ignorá-los.
Porque eles mudam as coisas,
eles empurram adiante a raça humana.
E enquanto alguns os veem como loucos,
nós os vemos como gênios.
Porque as pessoas que são loucas
o bastante para pensarem que podem mudar o mundo
são as únicas que realmente podem fazê-lo".

(Jack Kerouac)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Na Hora Marcada


De volta a alguns hábitos, achei um banco, e decidi largar o que estava pensando na hora. Só sei disso porque me concentrei na paisagem lá fora, nas árvores, nos prédios. Então notei que estava sentado na cadeira reservada. Olhei ao redor e ninguém parecia se incomodar. Entrou uma menina com óculos escuros, e em seguida uma menina de cabelo rosa. A de óculos escuros parecia cansada. A outra sorria pra tudo quanto é lado. Achou uma cadeira lá no fundo. Só vi o cabelo rosa em destaque no canto. O ônibus começou a chacoalhar. E o motorista acelerava como se estivesse domando um rinoceronte. Esses caras devem ter uma cadeira cativa no céu. O ônibus encostou no ponto, e entrou uma mulher bastante gorda com uma criança no colo. Cedi o meu lugar. Opa! O lugar é dela por direito. Criança pequena num baú velho deve ser complicado, ainda mais com um moleque hiperativo daquele jeito, o pivete não parava quieto. Olhei pra ele e sorri. Se acostuma pequeno... Tenho certeza que daqui uns anos você vai estar puto de raiva. Se divirta enquanto é tempo. Ele sorriu pra mim alegremente. Me senti bem. A menina dos óculos escuros desceu no Shopping Center. Talvez fosse trabalhar. Encontrei um banco vazio à direita. Agora uma loira brincava com o pequeno no colo da mãe que eu tinha cedido a cadeira. Que loira adorável! Me lembrei da Vivi Fernandes. Tirando a sacanagem, pode até parecer brincadeira, mas a loira lembra ela mesmo. Por isso que me veio essa comparação. Moleque de sorte! Saudade de ser criança. É por isso que digo novamente meu pequeno: aproveita enquanto é tempo. Daqui uns dias você vai tá pagando passagem e ninguém vai olhar na tua cara. Nem mesmo te fazer um cafuné gostoso. Não é todo dia que esse ônibus chega desse jeito. Pelo ao menos hoje passou na hora.         

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Sábado de Carnaval


Sei dos caminhos que chegam, sei dos que se afastam
Conheço como começa, como termina o que faço
Só não sei como chegar
Ao nosso próximo passo 

Ontem, meu bem, contei até cem
Hoje já não sei
Hoje já não sei 

Ontem, meu bem, contei até três
Hoje só pensei
Hoje só pensei 

Sei que me encontro sozinho
Sei também quando me acho
Sei tudo o que você acha
O buraco é mais embaixo
Foi um achado te achar
Perdido acho diacho 

Meu bem, porque não vens que tem
Ontem eu pensei
Ontem eu pensei

(Itamar Assumpção e Alice Ruiz)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

"E a essa altura do fato nem fumaça tem cano de descarga"

Eu e a minha mania de colocar apelido nos outros. Não faço isso por maldade, ou pra difamar. É só uma traquinagem de moleque. Só isso! Apelidos com nomes de pessoas que admiramos, só funcionam pra quem a gente tem respeito. O garçom do bar agora se chama: Adílio, meia-direita do flamengo nos anos 80. É só berrar que ele atende o pedido num instante. Aparentemente ele até gostou da brincadeira. Acho que o seu nome oficial deve ser Pedrito, ou algo por aí, e isso quer dizer que Adílio soa bem melhor. O cara é gente boa. Tem um doidão que anda pelo comércio resmungando sem parar que virou o Sid Vicious. Aliás, ele e a sua esposa ganharam a alcunha de Nancy e Sid. Os dois são barra pesada. Outro dia vi ele na mercearia andando de um lado pro outro com a cara vermelha. A Nancy nem tinha dado sinal de vida. Pelo visto tinha sumido do mapa. O punk rock não estava com cara de bons amigos. Naquele dia o pau deve ter quebrado. Tem um funcionário público que é meu amigo de bar. Até hoje não sei o nome dele. E ele também não sabe o meu, mas o camarada sempre vem conversar comigo. Pouca gente vai com a cara dele. Não gostam da sua presença. Tenho a impressão de que isso acontece porque ele sempre anda meio doidão, meio com a cara amarrada. Pra falar a verdade o Hunter nunca me encheu o saco. Hunter! Bom... Esse é o seu apelido. Coloquei em homenagem ao Hunter Thompson. Ele é a lata do cara. Toma sempre uma dose de conhaque até a boca do copo. É daqueles boêmios que tem o fígado do Wolverine. Às vezes ele tá numa deprê braba e entra de sola no destilado. Mas além do pai do jornalismo gonzo, o meu amigo também lembra o personagem - Elias do filme do BelmonteMeu Mundo em Perigo. Quando ele chega nesse naipe a semelhança é assustadora. O tema da conversa é praticamente o mesmo. Impressionante! Já vi o Hunter com aquela mesma carga emocional. Mergulhado até o pescoço. Tinha tomado um soco no olho direito. E talvez por isso que algumas pessoas o evitava. Tinham um pé atrás com ele. Besteira! Os otimistas podem ser muito mais nocivos. Ele, pelo ao menos, consegue ficar em silêncio, e os felizes-para-sempre nunca fecham a matraca. Acham que a sua felicidade deve ser compartilhada a qualquer custo. Provavelmente isso seja efeito dessa maldição da internet: compartilhe os seus melhores momentos... E nessa tradição teve um dia que ele chegou de óculos raiban e uma camisa florida. Ficou ainda mais parecido com o doidão do Thompson. Parecia que estava em Porto Rico enchendo a cara de rum feito o diário de um jornalista bêbado. Pra falar a verdade parece que aquela camisa espalhafatosa lhe fez um bem danado. Deu um chega pra lá no seu mundo em perigo. Depois disso ele sumiu da área. Será que fez como o seu xará de medo e delírio em Las Vegas, e colocou o pé na estrada? “O porta-malas do carro mais parecia um laboratório móvel do departamento de narcóticos. Tínhamos dois sacos de maconha, 75 bolinhas de mescalina, cinco folhas de ácido de alta concentração, um saleiro cheio até a metade com cocaína e mais uma galáxia inteira de pílulas multicoloridas, estimulantes, tranquilizantes, berrantes, gargalhantes... além de um litro de tequila, outro de rum, uma caixa de Budweiser, meio litro de éter puro e duas dúzias de amilas”. Ah! Já ia me esquecendo. Também tem o Louis Ferdinand Celine, ou para os íntimos: Sr. Celine. Tá aí outro apelido apropriado. O velho tem pinta de ranzinza, anda sozinho e fica esperando o dono do bar abrir a porta no domingo de manhã. Ali não tem carnaval. Nem mesmo aquele sorrisinho cínico pra relaxar. O velhote leva o seu radicalismo ao extremo. Não conversa com ninguém. Num dia de calor, enquanto todos estavam sentados na parte da sombra e água fresca, ele bebia a sua cevada na parte do sol, ali prostrado na cadeira. Depois caminhava lentamente até o banheiro e logo voltava para os seus pensamentos. A cerveja esquentou e ele não deu nenhuma pinta de que iria reclamar. É profissional. E a vida segue.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sem título

O baixista se emocionou com os braços do púbico nesse andróide paranóico. Bela canção!

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Primeiras horas

Um dia bom pra não se fazer muita coisa. Somente passar o olho no jornal, beber água, e ler um pouco. Boa companhia esse exemplar do Chefão do Mário Puzo. "O que impressionava Don Corleone era a validade legal dessas falcatruas de vendas. Evidentemente, havia um lugar para um homem de seu talento nesse outro mundo que esteve fechado para ele quando era um rapaz honesto". Depois é só encostar e tirar um cochilo. Daqui a pouco escurece. Provavelmente vai ter algo pra se fazer. Só acertamos um número no bolão. Ninguém ficou milionário. Por enquanto moçada: pedir demissão ainda vai demorar mais um pouco. Amanhã é quarta-feira? É! Então ainda temos alguns dias até a sexta-feira. Bueno Janeiro. Vou dar um tempo desse blog. Aproveitar o mês sem muita atividade. Adios Amigos!

2013



Soneto de fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
(Vinicius de Moraes)