As palavras carregam os sentimentos, ela me disse. Então se livre delas, respondi. Como? Use outras que prendam essas que estão te incomodando. Você faz isso? Não. Então porque tá me recomendando usar outras palavras? Só pra encher o teu saco. As tintas também carregam os sentimentos, ela continuou. Olha aquele quadro ali, percebe as cores, se você for ver; por atrás daqueles traços as sensações estão todas ali, os rabiscos são como as palavras, ela finalizou. A realidade para o sonho é uma coisa, e o sonho enquanto realidade segue outro rumo, completei. A nossa percepção nos engana, a gente escuta uma coisa e sente outra. Come com os olhos. Sente sabor com o cheiro. Gostei dessa parte do comer com os olhos, respondi. Ah! Você já tá querendo pensar besteira, né. Que isso! Não é a minha intenção. Será que não é você que tá pensando o que suponhe o que eu esteja pensando? Vamos mudar o rumo da prosa, ela despistou. Claro, sem problemas. Queria tomar um conhaque, ela sorriu. Pede um, disse eu. Pede pra mim? Garçom? Um domeq caprichado. Tá frio, né, ela se ajeitou na cadeira. Ótimo para um conhaque, respondi. Tava pensando naquela música do Cartola, disse ela. Qual? Aquela do moinho. Ah tá. Você sabe cantar? Não sei direito, só algumas partes. Aquela música só funciona na madrugada, completei. Você sabia que as melodias carregam os sentimentos? Sim. A melodia desperta uma sensação. Opa, me desculpa, aqui tá o conhaque, senhor. Ah! Obrigado. A sensação remete os sentimentos que por sua vez foram despertados por uma melodia, ela me perguntou. Sim. Acho que é isso, respondi, nisso ela bebericou o conhaque. Canta um pedaço dessa música do Cartola, insistiu. Não sei a letra. Só faz a melodia, então... É mais ou menos assim, né. play
2 comentários:
Essa foto parece a Lapa!!!
É verdade. Abraço
Postar um comentário