Pra fechar o ano, aí vai umas tirinhas do Caco Galhardo. Todas elas estão no blog dele no link à direita. São geniais!! Falou moçada!!!!!!
sábado, 29 de dezembro de 2012
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
sábado, 22 de dezembro de 2012
Fragmento
Henry Miller e Twinka - 1975 Foto.: Mary Ellen |
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Tarde de Quarta-feira
Pra não deixar o bate papo do boteco tedioso preferi escrever esse texto
(Ontem a cerveja estava trincando de gelada)
Talvez a palavra que possa trazer mais dificuldade pra quem quer se expressar seja uma só: linguagem. Ela vai instrumentalizar o que tem a se dizer. E a maneira de como se dizer algo tem a sua razão de estar ali. Quando se tem domínio da sua própria linguagem, a palavra se torna uma espécie de arma. Mas como não é agradável entender a palavra como arma, vou substituí-la por ferramenta. Uma ferramenta de poder infinito, mas que também tem os seus abismos. O artista assim como o homem comum persegue a sua linguagem com o intuito de manter-se vivo, e em contato com o outro. A diferença é que o homem comum não tem que prestar contas com a arte, e talvez por isso que muitos artistas se sintam com essa missão tola de tentar revelar o que não se vê, ou se sente como se fosse um trabalho indispensável. Não quero jogar no lixo o poder que a arte tem de interferir na nossa vida. É que pensá-la numa mão única impõe o que não se entende como um problema a ser combatido. O que vai prevalecer? O purismo artístico ou a liberdade niilista? Independente de qual o caminho a seguir, não se pega bem encarar a arte como instrumento evangelizador.
A arte não é pra isso, se existir algum propósito que ele seja não-diretivo. Se algo mudar pras pessoas, ou pra sociedade é por que o artista conseguiu mexer com a sua própria vaidade. Colocou ela a prova. É como aquele suicida que joga um galão de gasolina no próprio corpo e ascende o fósforo. Ou aquele amante que de repente diz “Eu te amo” na frente de todo mundo sem medo de ser idiota. Existem razões que nunca vamos descobrir, e nem adianta especular. O escritor vai ter a sua palavra, a fotografa o seu click, e o lixeiro a sua vassoura. A arte está exclusivamente na mão de alguém? Do profissional diriam alguns, mas vou citar outra vez o poeta Luís Garcia Montero.
Numa entrevista no ano passado ele arrematou essa ideia de maneira brilhante.
“Creio que a poesia jovem espanhola vive um bom momento, ela tem uma vitalidade difícil de encontrar na Europa. Não é raro que um poeta espanhol venda cinco, seis mil exemplares porque a poesia está conectada com as pessoas. Creio que, muitas vezes, o primeiro culpado de não se ler poesia são os próprios poetas. Quando eles escrevem numa linguagem que as pessoas não entendem, sobre coisas que não têm nada a ver com a vida das pessoas, não podem esperar que as pessoas leiam poesia. E como o capitalismo é muito positivista, muito industrialista, ele não se interessa pela poesia, aí a poesia acaba não se interessando pela sociedade e os poetas se colocam numa postura de escrever numa linguagem difícil, sobre coisas que nada têm a ver com a sociedade. Isso já deu poesia vanguardista muito boa, mas também afastou a poesia da sociedade. Recuperar com dignidade poética a linguagem das pessoas é voltar a crer na comunidade, é recuperar a linguagem comum do espaço público onde a rebeldia da consciência pode encontrar um sonho coletivo capaz de se opor a toda essa perda de valores democráticos da sociedade contemporânea”.
Na vida: o senso comum, o sexo, a fome, a covardia, a pornografia, a falta de pudor, o carinho, o respeito, o palavrão, o desprezo, e o que mais aparecer pela frente, vai servir de material pra arte fazer cócegas na sociedade e descobrir se existe essa tal democracia mesmo. O Montero foi bastante feliz na sua colocação. Recuperar com dignidade poética a linguagem das pessoas traz pra vida. Agora como lidar com essa dignidade poética? Cada um lapida a sua obra conforme deseja, e isso tem que ser respeitado, ora. Por que serve de reflexo pra sociedade também. É uma espécie de contrapartida. O ideal a ser alcançado pode servir de combustível, mas a arte que se nega a olhar pra vida, se não morrer de madura, vai agonizar na praça com as melhores intenções.
(Ontem a cerveja estava trincando de gelada)
Talvez a palavra que possa trazer mais dificuldade pra quem quer se expressar seja uma só: linguagem. Ela vai instrumentalizar o que tem a se dizer. E a maneira de como se dizer algo tem a sua razão de estar ali. Quando se tem domínio da sua própria linguagem, a palavra se torna uma espécie de arma. Mas como não é agradável entender a palavra como arma, vou substituí-la por ferramenta. Uma ferramenta de poder infinito, mas que também tem os seus abismos. O artista assim como o homem comum persegue a sua linguagem com o intuito de manter-se vivo, e em contato com o outro. A diferença é que o homem comum não tem que prestar contas com a arte, e talvez por isso que muitos artistas se sintam com essa missão tola de tentar revelar o que não se vê, ou se sente como se fosse um trabalho indispensável. Não quero jogar no lixo o poder que a arte tem de interferir na nossa vida. É que pensá-la numa mão única impõe o que não se entende como um problema a ser combatido. O que vai prevalecer? O purismo artístico ou a liberdade niilista? Independente de qual o caminho a seguir, não se pega bem encarar a arte como instrumento evangelizador.
A arte não é pra isso, se existir algum propósito que ele seja não-diretivo. Se algo mudar pras pessoas, ou pra sociedade é por que o artista conseguiu mexer com a sua própria vaidade. Colocou ela a prova. É como aquele suicida que joga um galão de gasolina no próprio corpo e ascende o fósforo. Ou aquele amante que de repente diz “Eu te amo” na frente de todo mundo sem medo de ser idiota. Existem razões que nunca vamos descobrir, e nem adianta especular. O escritor vai ter a sua palavra, a fotografa o seu click, e o lixeiro a sua vassoura. A arte está exclusivamente na mão de alguém? Do profissional diriam alguns, mas vou citar outra vez o poeta Luís Garcia Montero.
Numa entrevista no ano passado ele arrematou essa ideia de maneira brilhante.
“Creio que a poesia jovem espanhola vive um bom momento, ela tem uma vitalidade difícil de encontrar na Europa. Não é raro que um poeta espanhol venda cinco, seis mil exemplares porque a poesia está conectada com as pessoas. Creio que, muitas vezes, o primeiro culpado de não se ler poesia são os próprios poetas. Quando eles escrevem numa linguagem que as pessoas não entendem, sobre coisas que não têm nada a ver com a vida das pessoas, não podem esperar que as pessoas leiam poesia. E como o capitalismo é muito positivista, muito industrialista, ele não se interessa pela poesia, aí a poesia acaba não se interessando pela sociedade e os poetas se colocam numa postura de escrever numa linguagem difícil, sobre coisas que nada têm a ver com a sociedade. Isso já deu poesia vanguardista muito boa, mas também afastou a poesia da sociedade. Recuperar com dignidade poética a linguagem das pessoas é voltar a crer na comunidade, é recuperar a linguagem comum do espaço público onde a rebeldia da consciência pode encontrar um sonho coletivo capaz de se opor a toda essa perda de valores democráticos da sociedade contemporânea”.
Então ao ler uma matéria
dizendo que a criação poética é obrigatoriamente para poucos, já que contraria
o senso comum é muito triste de se aceitar. A criação pode até ser para poucos,
mas o senso comum não deve ser subestimado. A linguagem do dia a dia é viva, e não há como se negar isso seja qual for a formação do artista. Tanto faz se
ele venha de uma escola acadêmica, ou das ruas. Aliás, ainda existe alguma
escola? O único dever do artista é mudar-se a si mesmo. Não tem ideia mais
besta do que querer mudar o mundo. Tenho vários amigos e amigas que escrevem,
mas que se sentem incapazes de mostrar um risco sequer, por receio de serem mal
interpretados, simplesmente, por estarem fincados até o pescoço numa
instituição acadêmica. Tá na hora de dar um chute na porta, moçada! Esse
negócio de ser aceito é uma tremenda bobeira. Pode ser um fardo também. Não
existe jeito certo ou errado. Como diria o Bukowski: "escrever é uma forma de lamento. Alguns simplesmente lamentam melhor que os outros".
Na vida: o senso comum, o sexo, a fome, a covardia, a pornografia, a falta de pudor, o carinho, o respeito, o palavrão, o desprezo, e o que mais aparecer pela frente, vai servir de material pra arte fazer cócegas na sociedade e descobrir se existe essa tal democracia mesmo. O Montero foi bastante feliz na sua colocação. Recuperar com dignidade poética a linguagem das pessoas traz pra vida. Agora como lidar com essa dignidade poética? Cada um lapida a sua obra conforme deseja, e isso tem que ser respeitado, ora. Por que serve de reflexo pra sociedade também. É uma espécie de contrapartida. O ideal a ser alcançado pode servir de combustível, mas a arte que se nega a olhar pra vida, se não morrer de madura, vai agonizar na praça com as melhores intenções.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
O Motorista
Um
pequeno ajuste na engrenagem, e uma calibrada no motor. A caranga ia ficar no
jeito. Então abriu uma garrafa de cerveja e começou a desmontar as peças. Cada parafuso
ganhava um cuidado especial. Nunca tinha desmontado um na vida, mas não parecia ser difícil. Foi ajeitando todas elas de acordo com o desmonte. Logo emendou um
Motorhead no som da sala. A vizinha lá do outro lado da
grade olhava de cara feia. Quando começou a tirar o sabão do capô, o Led Zeppelin tomou de assalto
com Black Dog. Olhou as peças no chão, e fez uma careta. Nisso o celular tocou.
Iria buscar as meninas às onze da noite. O negócio era tocar violão numa
quebrada da cidade. Ao confirmar que levaria o baseado ouviu umas risadinhas do
outro lado da linha. Abriu outra garrafa de cerveja, e encheu o copo. O vizinho
da casa da esquina apareceu para bisbilhotar. Veio com um papo de que o dia ficaria
melhor se estivessem assando uma carne.
O dono da caranga topou na hora, e o vizinho da casa da esquina foi buscar o resto de algumas peças de carne, frango, linguiça, e metade de um tubo de cachaça na casa da mãe. Queria dar uma força ao amigo. Ascendeu a churrasqueira, e ficaram ali batendo papo. O som já estava no máximo quando a brasa começou a ganhar força. O vizinho da casa da esquina só ficava olhando sem se intrometer na bagunça. Também porque o cara não entendia porra nenhuma de carro. Então era melhor não atrapalhar. Aí ele ficou ali de frente pra churrasqueira com o copo de cerveja na mão. Num instante, a filha da vizinha do sobrado de dois andares surgiu na conversa. Os dois estavam esperando que ela aparecesse com aquele shortinho jeans.
Quando o dono da caranga começou a limpar a caixa de câmbio: Surfin’bird, do The Trashmen, deu as cartas na sua versão original. O vizinho da casa da esquina começou a rir do som da banda. Nunca tinha escutado antes. No início achou estranho, mas logo já estava batendo o pé no chão. Então aproveitou o embalo e virou outra dose de cachaça enquanto a coxa de frango pingava gordura na brasa. Nessa hora a casa já estava numa fumaça miserável. A caranga estava toda desmontada. Iria ficar no jeito pra mais tarde. No som tocava She’s the one dos Ramones num show ao vivo de 1980 em Paris. As caixas de som estavam enfurecidas e a garagem agora parecia uma arena de rock and roll.
Fez isso pra atazanar a vizinhança. Um dia antes, o vizinho da casa da direita tinha escutado música sertaneja o dia inteiro, então quis dar uma resposta. Nada é de graça. O churrasco começou a cheirar quando o vizinho da casa da esquina batia cabeça com a faca no ar. “Ramones é bom pra caralho”! As pessoas que passavam pela casa olhavam intrigadas. Rock and roll?! Que música mais agressiva é essa? É barulho demais. E ainda dizem que a nossa música é ruim. O vizinho da casa da esquina ascendeu um cigarro, virou o boné pra trás, e perguntou se o brother precisava de ajuda no carango. “Não! Tá tudo tranquilo”. A filha da vizinha enfim apareceu para animar o sábado. É ela! Aí os dois foram até a frente da casa. Só que a moça não estava com o tal shortinho famoso. Estava de saia. Mini-saia! E caminhava até o início da rua. Por incrível que pareça nesse momento o Ramones tocava uma balada. A trilha deu certinho com aquele rebolado inocente. Dois minutos de beleza. O vizinho da casa da esquina ainda ficou esperando ela voltar. Não voltou. O dono da caranga olhou as peças no chão, e fez aquela mesma careta. Pensou: não posso ficar enrolando. Preciso terminar antes da noite chegar, senão hoje não tem farra. Boa parte do motor continuava esparramada pelo chão. Era preciso se concentrar em cada peça, então pegou a lata de graxa, uma estopa, um tubo de óleo e uma chave phillips. A carne começou a ficar no ponto. Daí veio uma lasca, uma dose & outra cerveja para amaciar o estômago, e eis a montagem! Somente um pouco de concentração e o motor estaria tinindo. Foi quando a birita começou a fazer efeito. Precisou molhar a cabeça.
Mas antes de ir ao banheiro colocou um disco do Blues Etílicos. Encheu mais um pote com querosene, e começou a lavar o carburador. Pronto! Tá limpo! Agora é cada peça no seu lugar. Não tem erro! O vizinho da casa da esquina resolveu fechar o bico por consideração. Tava na cara que o dono da caranga não tinha a manha. Que aquilo ali ia ser pedreira. Ajustar um motor sem experiência é fatal. Foi quando analisou a churrasqueira e resolveu tirar o espeto das coxas de frango, cortar a carne, e colocar mais carvão. O cheiro estava maravilhoso. Já tinha tomado conta da rua. Tanto é que apareceram uns dois ou três desocupados atrás de uma boquinha. O dono da caranga parecia confiante. As peças estavam se encaixando. Quando chegou na metade do trabalho, o doidão percebeu que algumas peças haviam sobrado, e ficou puto por que não sabia aonde deveria encaixá-las. O vizinho da casa da esquina quis dar um palpite, mas preferiu ficar na sua. Preferiu ir na sala trocar o som. Colocou Rolling Stones. O dono da caranga ao escutar Under my thumb ganhou outro fôlego. Sorriu! Quis ficar calmo. Mas logo começou a escurecer e nada da porcaria do motor se ajustar.
Então largou de mão e desistiu de querer sabe aonde aquelas malditas peças deveriam ser colocadas. Aí só de sacanagem resolveu ligar o carro. Se explodisse! Foda-se! Depois de uma tarde inteira naquela trabalheira dos diabos, só queria ver que merda ia dar. Colocou a chave na ignição e ligou. O danado roncou forte. O vizinho da casa da esquina deu uma gargalhada de felicidade. Já estava chapado. Daí os dois ficaram rindo da situação. Onde já se viu um carro funcionar faltando peças? Acelerou com vontade, e escutou uma espécie de tiro, como se fosse de uma escopeta. Tirou o pé imediatamente. Nisso o vizinho da casa da esquina querendo mostrar serviço disse que poderia ser o platinado. No escapamento só se escutava os pipocos. Então o dono da caranga resolveu desligar. Catou as peças que sobraram e jogou no canto da garagem. Também já estava no grau. Quando anoiteceu, rezou para que o carro funcionasse. Deu a partida e bingo! Que possante de fibra! Garoto bom de briga. Mesmo faltando peça ainda estava funcionando. Trancou o portão e acelerou devagar até a entrada da rua.
O vizinho da casa da esquina estava todo arrumado. Fez sinal e perguntou qual era a boa da noite. O dono da caranga resolveu convidá-lo pra farra. O porra estava sem rumo mesmo, então quis convidá-lo por consideração. Aí os dois foram atrás das garotas. Vinte e cinco minutos depois os faróis do carro se apagaram. A luz do painel também sumiu. O dono da caranga fez aquela mesma careta, só que agora com um ar de preocupação. Tirou o pé do acelerador, e parou no acostamento. Desligou o carro, apagou os faróis, e ligou novamente. A luz do painel continuou apagada. Resolveu esperar um pouco. Um minuto. Três minutos. Ligou os faróis. Não funcionaram. Deu um murro no painel. Uma porrada forte. O vizinho da casa da esquina levou um susto, mas começou a rir. O dono da caranga ficou brabo, e mesmo assim resolveu seguir em frente.
Fez um longo percurso até a casa das meninas. Precisava desviar da polícia. Não dá mole pro azar. Provavelmente, eles estariam só esperando algum vacilão pra darem o bote certeiro. Com as meninas na caranga foram para uma quebrada da cidade. Nesse momento tocava: Tora Tora dos Raimundos. Ao dobrar uma quadra infelizmente deu de cara com uma fila de carros. Puta que pariu! Blitz da polícia militar. O carango só tava funcionando meia boca, e agora? As meninas gritaram para que ele procurasse algum desvio. Já era! A parada era enfrentar. O vizinho da casa da esquina ficou pálido. O dono da caranga respirou fundo e deu uma risada de sacanagem, os faróis tinham voltado ao normal. Que carro de fibra! Na hora H, ele não ia deixar o seu brother em apuros. Quando chegou a sua vez de passar pelos cones, o primeiro policial fez sinal de que poderia passar, mas logo à frente o segundo mandou encostar à direita. Que coisa maluca! Mandou encostar ali na frente. Mas cadê aquela parada de furar os pneus? Ué! Tá lá atrás. Por que então parar na frente da blitz? Decerto porque a fila de carros já tinha ultrapassado o seu limite e eles queriam grampear sem dó nem piedade.
O dono da caranga encostou e ficou olhando o soldado se aproximar. Quando ele encostou na porta e pediu o documento, o motorista não conseguiu conter a risada, e arrancou com a caranga acelerando até o talo. Ainda viu o policial atordoado com a avenida totalmente livre à sua frente. O vizinho da casa da esquina só balbuciava: “A minha mãe vai me matar”. No som tocava Ramones enquanto a menina no banco de trás enchia os olhos de lágrimas. “Seu louco! Para essa porcaria agora! Seu babaca!”. Parece que a única pessoa que estava gostando da farra era a menina do banco da frente. Ela sempre o mantinha informado. “Olha a sua esquerda! Toma cuidado que eles estão chegando”. O dono da caranga sorria com o pé no acelerador. Nunca tinha visto um carro tão valente. Por que mesmo faltando várias peças, o danado parecia voar como um foguete. E foi assim até o final.
O dono da caranga topou na hora, e o vizinho da casa da esquina foi buscar o resto de algumas peças de carne, frango, linguiça, e metade de um tubo de cachaça na casa da mãe. Queria dar uma força ao amigo. Ascendeu a churrasqueira, e ficaram ali batendo papo. O som já estava no máximo quando a brasa começou a ganhar força. O vizinho da casa da esquina só ficava olhando sem se intrometer na bagunça. Também porque o cara não entendia porra nenhuma de carro. Então era melhor não atrapalhar. Aí ele ficou ali de frente pra churrasqueira com o copo de cerveja na mão. Num instante, a filha da vizinha do sobrado de dois andares surgiu na conversa. Os dois estavam esperando que ela aparecesse com aquele shortinho jeans.
Quando o dono da caranga começou a limpar a caixa de câmbio: Surfin’bird, do The Trashmen, deu as cartas na sua versão original. O vizinho da casa da esquina começou a rir do som da banda. Nunca tinha escutado antes. No início achou estranho, mas logo já estava batendo o pé no chão. Então aproveitou o embalo e virou outra dose de cachaça enquanto a coxa de frango pingava gordura na brasa. Nessa hora a casa já estava numa fumaça miserável. A caranga estava toda desmontada. Iria ficar no jeito pra mais tarde. No som tocava She’s the one dos Ramones num show ao vivo de 1980 em Paris. As caixas de som estavam enfurecidas e a garagem agora parecia uma arena de rock and roll.
Fez isso pra atazanar a vizinhança. Um dia antes, o vizinho da casa da direita tinha escutado música sertaneja o dia inteiro, então quis dar uma resposta. Nada é de graça. O churrasco começou a cheirar quando o vizinho da casa da esquina batia cabeça com a faca no ar. “Ramones é bom pra caralho”! As pessoas que passavam pela casa olhavam intrigadas. Rock and roll?! Que música mais agressiva é essa? É barulho demais. E ainda dizem que a nossa música é ruim. O vizinho da casa da esquina ascendeu um cigarro, virou o boné pra trás, e perguntou se o brother precisava de ajuda no carango. “Não! Tá tudo tranquilo”. A filha da vizinha enfim apareceu para animar o sábado. É ela! Aí os dois foram até a frente da casa. Só que a moça não estava com o tal shortinho famoso. Estava de saia. Mini-saia! E caminhava até o início da rua. Por incrível que pareça nesse momento o Ramones tocava uma balada. A trilha deu certinho com aquele rebolado inocente. Dois minutos de beleza. O vizinho da casa da esquina ainda ficou esperando ela voltar. Não voltou. O dono da caranga olhou as peças no chão, e fez aquela mesma careta. Pensou: não posso ficar enrolando. Preciso terminar antes da noite chegar, senão hoje não tem farra. Boa parte do motor continuava esparramada pelo chão. Era preciso se concentrar em cada peça, então pegou a lata de graxa, uma estopa, um tubo de óleo e uma chave phillips. A carne começou a ficar no ponto. Daí veio uma lasca, uma dose & outra cerveja para amaciar o estômago, e eis a montagem! Somente um pouco de concentração e o motor estaria tinindo. Foi quando a birita começou a fazer efeito. Precisou molhar a cabeça.
Mas antes de ir ao banheiro colocou um disco do Blues Etílicos. Encheu mais um pote com querosene, e começou a lavar o carburador. Pronto! Tá limpo! Agora é cada peça no seu lugar. Não tem erro! O vizinho da casa da esquina resolveu fechar o bico por consideração. Tava na cara que o dono da caranga não tinha a manha. Que aquilo ali ia ser pedreira. Ajustar um motor sem experiência é fatal. Foi quando analisou a churrasqueira e resolveu tirar o espeto das coxas de frango, cortar a carne, e colocar mais carvão. O cheiro estava maravilhoso. Já tinha tomado conta da rua. Tanto é que apareceram uns dois ou três desocupados atrás de uma boquinha. O dono da caranga parecia confiante. As peças estavam se encaixando. Quando chegou na metade do trabalho, o doidão percebeu que algumas peças haviam sobrado, e ficou puto por que não sabia aonde deveria encaixá-las. O vizinho da casa da esquina quis dar um palpite, mas preferiu ficar na sua. Preferiu ir na sala trocar o som. Colocou Rolling Stones. O dono da caranga ao escutar Under my thumb ganhou outro fôlego. Sorriu! Quis ficar calmo. Mas logo começou a escurecer e nada da porcaria do motor se ajustar.
Então largou de mão e desistiu de querer sabe aonde aquelas malditas peças deveriam ser colocadas. Aí só de sacanagem resolveu ligar o carro. Se explodisse! Foda-se! Depois de uma tarde inteira naquela trabalheira dos diabos, só queria ver que merda ia dar. Colocou a chave na ignição e ligou. O danado roncou forte. O vizinho da casa da esquina deu uma gargalhada de felicidade. Já estava chapado. Daí os dois ficaram rindo da situação. Onde já se viu um carro funcionar faltando peças? Acelerou com vontade, e escutou uma espécie de tiro, como se fosse de uma escopeta. Tirou o pé imediatamente. Nisso o vizinho da casa da esquina querendo mostrar serviço disse que poderia ser o platinado. No escapamento só se escutava os pipocos. Então o dono da caranga resolveu desligar. Catou as peças que sobraram e jogou no canto da garagem. Também já estava no grau. Quando anoiteceu, rezou para que o carro funcionasse. Deu a partida e bingo! Que possante de fibra! Garoto bom de briga. Mesmo faltando peça ainda estava funcionando. Trancou o portão e acelerou devagar até a entrada da rua.
O vizinho da casa da esquina estava todo arrumado. Fez sinal e perguntou qual era a boa da noite. O dono da caranga resolveu convidá-lo pra farra. O porra estava sem rumo mesmo, então quis convidá-lo por consideração. Aí os dois foram atrás das garotas. Vinte e cinco minutos depois os faróis do carro se apagaram. A luz do painel também sumiu. O dono da caranga fez aquela mesma careta, só que agora com um ar de preocupação. Tirou o pé do acelerador, e parou no acostamento. Desligou o carro, apagou os faróis, e ligou novamente. A luz do painel continuou apagada. Resolveu esperar um pouco. Um minuto. Três minutos. Ligou os faróis. Não funcionaram. Deu um murro no painel. Uma porrada forte. O vizinho da casa da esquina levou um susto, mas começou a rir. O dono da caranga ficou brabo, e mesmo assim resolveu seguir em frente.
Fez um longo percurso até a casa das meninas. Precisava desviar da polícia. Não dá mole pro azar. Provavelmente, eles estariam só esperando algum vacilão pra darem o bote certeiro. Com as meninas na caranga foram para uma quebrada da cidade. Nesse momento tocava: Tora Tora dos Raimundos. Ao dobrar uma quadra infelizmente deu de cara com uma fila de carros. Puta que pariu! Blitz da polícia militar. O carango só tava funcionando meia boca, e agora? As meninas gritaram para que ele procurasse algum desvio. Já era! A parada era enfrentar. O vizinho da casa da esquina ficou pálido. O dono da caranga respirou fundo e deu uma risada de sacanagem, os faróis tinham voltado ao normal. Que carro de fibra! Na hora H, ele não ia deixar o seu brother em apuros. Quando chegou a sua vez de passar pelos cones, o primeiro policial fez sinal de que poderia passar, mas logo à frente o segundo mandou encostar à direita. Que coisa maluca! Mandou encostar ali na frente. Mas cadê aquela parada de furar os pneus? Ué! Tá lá atrás. Por que então parar na frente da blitz? Decerto porque a fila de carros já tinha ultrapassado o seu limite e eles queriam grampear sem dó nem piedade.
O dono da caranga encostou e ficou olhando o soldado se aproximar. Quando ele encostou na porta e pediu o documento, o motorista não conseguiu conter a risada, e arrancou com a caranga acelerando até o talo. Ainda viu o policial atordoado com a avenida totalmente livre à sua frente. O vizinho da casa da esquina só balbuciava: “A minha mãe vai me matar”. No som tocava Ramones enquanto a menina no banco de trás enchia os olhos de lágrimas. “Seu louco! Para essa porcaria agora! Seu babaca!”. Parece que a única pessoa que estava gostando da farra era a menina do banco da frente. Ela sempre o mantinha informado. “Olha a sua esquerda! Toma cuidado que eles estão chegando”. O dono da caranga sorria com o pé no acelerador. Nunca tinha visto um carro tão valente. Por que mesmo faltando várias peças, o danado parecia voar como um foguete. E foi assim até o final.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Copa
Tem essa matéria antiga na Revista Trip sobre a Janis Joplin quando ela aportou no Rio de Janeiro em 1970. Muito bacana. É só clicar na foto, e depois ir na sequência no link: Home.
Janis Joplin |
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Oscar Niemeyer
Por: Rodrigo Ferreira |
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Quando o scotch dar as cartas
Só tinha uma garrafa de whisky pra festa inteira.
Jack Daniel’s original. Várias pessoas tomavam com gelo. Eu só tomo caubói. E
fiquei um pouco triste. Se todos tivessem essa mesma atitude a garrafa ia
demorar mais um pouco pra acabar. Então a única solução que arranjei foi
colocar doses cavalares no meu copo. Afinal é sacanagem encherem o copo até o
tampo por causa do gelo, e o meu copo ficar com uma mísera dose caubói. A
porcaria da garrafa só durou 15 minutos, e ainda bem que consegui 4 doses
cavalares. Outra vez num sábado a noite, lá na Concha Acústica, ela me deu de
presente uma garrafa de Johnny Walker zerada. Bebi até tarde. Quando estávamos
vindo embora, não sei o que fiz com o copo que ele caiu entre os bancos
molhando a marcha, e o freio de mão do carro. Ela ficou puta da vida.
- Eu não suporto mais, você jogar whisky no meu carro.
- Eu não suporto mais, você jogar whisky no meu carro.
- Poxa, você não sabe o quanto eu tô mal por ter
perdido a última dose.
- Isso é palhaçada.
- Ninguém mandou você me dar essa garrafa.
- Ah tá!
Voltamos em silêncio. E eu pedi para que ela
parasse num posto de gasolina só pra comprar uma lata de cerveja. Mas toda vez
que o posto se aproximava, ela passava direito.
- Você já bebeu demais.
- Puta merda! Agora eu vi mesmo. Tá querendo bancar
a minha mãe, pô.
- CHEGA!
- Se você não parar esse carro, a coisa aqui vai
esquentar.
- Cala a boca!
- Ah! Então vamos lá!
- Rodrigo! Fecha essa porta!
- Quando você passar do lado do carro que for, eu
vou abrir pra acertar com gosto. Para num posto agora.
- Idiota!
- Quer alguma coisa?
- ...
- Tá nervosinha?! O gato comeu a língua.
Quando volto, não vejo mais o carro. Procuro ao
redor e nada. Penso que vou ter que voltar a pé, mas de repente ela aparece
novamente com um sorriso cínico.
- Achei que tinha ido embora.
- Fui calibrar os pneus.
- Mulher de pulso! É isso aí.
- Entra logo e vamos embora.
- Meu bem eu vou te falar um negócio. Quando se
bebe whisky primeiro, a cerveja demora a ficar no jeito, mas quando chegar o
próximo posto, você encosta que eu já tô melhor.
- Não sou a sua motorista.
- Cadê aquela menina que adora me dar uns
presentes?
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Sem destino
Meio sumido aqui do blog. Tenho vagabundado pela internet.
Quando vou escrever algo invento de escutar um disco, ou ler uma matéria na
hora, aí acabo largando de mão. Nessas minhas andanças pelos blogs, colunas, e
outras quebradas, notei que a internet não tem mudado muito, mas tem coisas interessantes. As pessoas ficam
putas da vida com determinadas opiniões e brigam para se mostrarem antenadas,
ou que a suas razões devem ser ouvidas. Vejo sites que são bombardeados e fico
pensando por que essas pessoas não montam um blog, e de lá vão mostrando o que
pensam ao invés de passarem por um papelão desses. Algumas vezes essa raiva toda soa meio boba. Mas a
internet tem coisas legais, como por exemplo, a educação. Achei que ela não
existia mais. Li uma matéria sobre o roqueiro Serguei e pensei que ele seria imediatamente
sacaneado, mas não foi isso que aconteceu. Bacana! Fui lá bisbilhotar os
comentários, e várias pessoas falavam detalhes bacanas a respeito dele, sem essa de
usar o anonimato da rede pra hostilizar, ou qualquer outra merda. Então ainda existe educação e respeito. Pô! Muito bacana. O meu fone de ouvido tá impossível: Beatles, Stones, Henry Mancini, The Jesus Mary in Chain, Jards Macalé, Mombojó, Feist, Nei Lisboa, então assim que ele cansar devo escrever o próximo post.
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Nas Manchetes
Como são as coisas... Pela manhã li a crônica do Veríssimo
sobre futebol, e agora vejo que ele está internado em estado grave. Que está com
uma infecção generalizada. Isso é triste! Torcida aí pra ele sair bem dessa
pedreira. Assisti a um show da banda dele aqui em Brasília na Expotchê, e o
cara manda muito no saxofone. Uma noite
bacana com vinho, comida gostosa, e música de primeira. Melhoras! Aí vai um
John Coltrane pra agitar a torcida num pensamento forte, e positivo.
Final de campeonato só ano que vem
O time dos sonhos |
Abaixo vai uma
crônica do Luis F. Veríssimo que está no jornal Estadão de
hoje. Sugiro que leia primeiro a crônica (abaixo) e depois volte até esse ponto
aqui e finalize o restante do parágrafo. Vai lá! Não concordo com a tese
dele. Se o time terá que se submeter às regras amadoras da série B é por que
durante o ano inteiro se comportou de maneira amadora. E nesse ano, o Palmeiras
não foi nem um pouco profissional. Foi terrível! A série B é truculenta e
mostra como o futebol brasileiro é de fato. Acho que o time que cai
ali dentro, ele vai ter que mostrar se a sua tradição, e o seu tamanho
realmente tem força pra manter o seu respeito intocável. Não tem essa de clube
do bolinha. Time grande ou pequeno tem botar a cara à tapa, sem medo, e com
muita coragem. Seria sacanagem, só por causa da tradição e do tamanho,
continuar num posto privilegiado por incompetência. Pra mim
incompetência no futebol é sinônimo de degola, ou se você quiser: segunda divisão.
Ou se for mais incompetente ainda: terceira divisão. E assim até o fim do
buraco. Seja quem for. Gosto dos textos do Veríssimo, e da sua obra, mas
futebol é assim mesmo, seja em crônica ou num papo no boteco, cada um tem a sua tese.
Desce uma gelada e outra dose de São Francisco aí, Seu Léo! (o irmão
gêmeo do Charlie Watts dos Stones)
Uma Potência que Cai
Por.: Luis Fernando Veríssimo - Jornal: Estadão
Fluminense campeão por antecipação,
Palmeiras na segunda divisão. O que pior se espera de um campeonato de pontos
corridos e com bloco de rebaixados aconteceu: um líder disparado que torna as
últimas rodadas supérfluas, a não ser para quem ainda busca consolo na
classificação para uma das competições satélites, e uma potência que cai.
Defendo, solitariamente, a tese de que deveria haver uma espécie de liga de intocáveis, clubes que por sua tradição e pelo tamanho e poder econômico da sua torcida estariam imunes ao vexame do rebaixamento. Isto não eliminaria o ascenso e o descenso, ainda haveria lugar para os times que vêm de baixo subirem na vida. Apenas os grandes clubes, por pior que fossem nos campeonatos, e por pior administrados, não correriam o risco de cair. Estariam, por assim dizer, protegidos da sua própria incompetência.
Minha tese não é elitista nem sentimental. Se baseia em frio raciocínio capitalista. Qual é a lógica de um negócio que de uma hora para outra mutila o seu próprio mercado, tirando de cena uma das suas maiores atrações e dispensando o seu público? Eu sei, eu sei. As estatísticas mostram que as grandes torcidas não abandonam o time rebaixado, antes reforçam a sua devoção para ajudar a tirá-lo do buraco. O que é muito bonito, mas não esconde o fato de que grandes organizações profissionais como o Palmeiras são obrigadas a se submeter a regras amadorísticas.
Shakespeare sabia que a morte de um comum pode ser trágica mas só a morte de reis dava boas peças. Uma potência que cai tem ressonâncias e implicações que fazem pensar, como a queda dos reis shakespearianos, na transitoriedade da glória fugaz, e nunca é um espetáculo menos que impressionante - mesmo que a imagem que perdure seja apenas a de uma torcedora enxugando as lágrimas com a camiseta do clube.
Mas eu não deveria estar escrevendo tudo isto. Ultimamente minha única alegria como torcedor tem sido a de poder dizer que, falem o que falarem dele, o Internacional jamais caiu para a segunda divisão.
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Mão na Cabeça
O noticiário comentava sobre o Belchior. A imprensa quando quer encher o saco, ela vai com tudo. Fica ali na cola feito vampiro atrás de sangue novo, pedindo explicações da vida particular do cara, exigindo uma palavra que seja. Belchior: o criminoso. Só tá faltando ele assaltar um banco, aí a novela iria estourar no ibope. Aliás, o rapaz latino americano deveria fazer isso, dar um belo cano nesses bancos, sequestrar uma repórter, pedir um resgate, mandar felicitações a justiça pela soltura do Cachoeira, biritar um whisquinho amigo na festa de posse do Joaquim Barbosa do STF, e depois torrar o dinheiro até acabar. Torço pra que ele não perca a sua força. Gosto de artista dessa envergadura: marginal. O Brasil tá precisando disso. Chega de santinho do pau oco que sonega imposto, e faz o caralho, e ainda é aplaudido pelo grande público. Sem falar nessas dancinhas miseráveis. "Eu não estou interessado em nenhuma teoria / Em nenhuma fantasia / Nem no algo mais". E nem eu. É isso aí!
sábado, 17 de novembro de 2012
Quem sabe amanhã?
Quantas horas? Sete da matina. Caramba! O tempo voou. Acho
que esse som tá alto. Se não reclamaram até agora é porque o sono deve estar
pesado. Então vamos colocar outro som. Ainda tem a saideira, aí? Tem! Lá embaixo
um mendigo perambulava com um saco nas costas. Mais ninguém por perto. O sol da
manhã ia manso quando me lembrei de uma piada. Já pensou se nessa manhã, as
pessoas ao acordarem descobrissem que estavam mudas, e surdas, e que de agora em
diante só se comunicariam por gestos ou pela escrita? Ia ser engraçado.
Depois da saideira fui embora pensando nisso. Vi uma padaria funcionando, e
percebi que a minha teoria tinha ido por água abaixo, se todos estivessem mudos e surdos,
o estardalhaço ia ser grande, só que o clima ali parecia bem normal. Logo topei com uma dessas pessoas
que caminham bem cedo. Ela me disse: bom dia! Eu também respondi: bom dia. É! Pelo que parece estava
tudo do mesmo jeito. Mas apesar da minha teoria furada, a manhã estava bastante agradável.
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
domingo, 11 de novembro de 2012
sábado, 10 de novembro de 2012
Tirar a poeira
Abbey Road. Tenho esse disco dos Beatles em vinil. Tô aqui
escutando no you tube. Ótima companhia. Desde ontem venho pensando nele. Tava
com vontade de escutar. Peguei ali no meio da bagunça do quarto só pra dar uma
olhada no bolachão. É uma pena que não tenho mais um som pra escutá-lo em vinil.
Esse disco fazia parte da coleção do tio de um grande amigo meu, um cara que
considero irmão, tenho amigos e amigas que considero meus irmãos, aí o disco
passou pra ele, e agora tá comigo. Na época eu ainda tinha o som que dava pra
tocar vinil. Tenho saudade dele. Legal que nessa versão do you tube tem uma
música a mais chamada – Her Majesty – não me lembro de ter escutado. Vou
deixando o disco rolar até chegar lá. Desde ontem venho pensando no lado B do
disco. Só em vinil para você ter o prazer de escutar o lado B de uma obra de
arte. Começa a partir da música Here Comes The Sun que é cantada pelo George
Harrison. Foi uma fase complicada na banda. Mas os caras como sempre fizeram um
dicaço. Lembro da primeira vez que escutei ainda moleque. Simplesmente, eu não quis ir mais pra escola naquele
dia. Agora tô aqui curtindo e deixando o almoço se
acalmar no estômago pra começar os trabalhos: abrir uma latinha que está
geladíssima ali no freezer. Putz! Começou Because. Vou parar por aqui. Bom
final de semana aí. Quer escutar? PLAY
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Pelos seus 110 anos
Um
professor de português na época em que eu fazia o cursinho pré-vestibular,
certa vez, numa aula de gramática, se lembrou de quando era estudante, e disse
que ao escutar do seu professor o poema do Drummond - “No meio do caminho tinha
uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho / Tinha uma pedra / No meio do
caminho tinha uma pedra / Nunca me esquecerei desse acontecimento / Na vida de
minhas retinas tão fatigadas / Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha
uma pedra / Tinha uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho / No meio do
caminho tinha uma pedra” – , ele comentou com o seu amigo na cadeira ao lado:
“Ah! Esse aí até eu fazia!” Só que o comentário saiu um pouco alto, e na mesma
hora o velhote indignado mandou na lata: “Pode até fazer, mas o problema é que
o Drummond já fez, rapaz, então faça outro”. Até hoje o cara deve estar
tentando fazer, mas sinceramente, não sei por que isso me veio à lembrança,
justamente, naquele momento em que eu vinha andando de volta pra casa. Talvez
fosse, porque ao notar que nenhum carro me atrapalhava da esquerda pra direita e
nem da direita pra esquerda, a avenida estivesse livre. Que no meio do caminho,
nem pedra, nem carro, nem porra nenhuma iria me atrapalhar. Até que enfim,
né, pô! Já estava merecendo. Continuei na mesma levada até o outro lado
tranquilamente. Se fosse só pedra, a vida estava até bem tranquila, mas é que
na verdade ela está cheia de entulho, ou melhor, bala pra tudo quanto é lado.
Olá! São Paulo! Se vacilar, os problemas vão impedir de você degustar até uma
cervejinha no boteco da esquina. Sempre achei o Drummond um poeta que
sabia usar a palavra. Mas achava também que faltava alguma coisa na sua obra. Via a
figura dele e pensava com a mesma visão da época de moleque quando achava que
eles estavam mentindo. Que aquilo era somente uma fresta do seu real pensamento, e no caso do
Drummond, eu não estava errado, a prova disso veio no seu livro póstumo – Amor
Natural, onde você encontra os seus poemas eróticos. Pelo que se sabe ele
só pediu que o lançasse depois de alguns anos de morto. Ali você encontra um
poeta sem onda. Tudo bem que é póstumo, mas ele fez. Existe poeta que está
preso à sua figura imaculada de poeta. E vou te falar: bem acomodado, só
mamando na teta do título; feio no seu mundo estéril e acadêmico, preso às
amarras linguísticas, longe do ser humano que vive num inferno de cão todo
santo dia, ali com a sua patota universitária bebendo ponche em sarau
mequetrefe. Sarau que de tão organizado nem os vizinhos reclamam do barulho. Fico pensando nos seus
pupilos que o veneravam como santo lendo os poemas póstumos: “ela a me beijar o membro (...) como beijava uma santa / no
mais divino transporte / e num solene e arrepio / beijava, beijava o membro /
Pensando nos outros homens / eu tinha pena de todos aprisionados no mundo”. E
agora, José? Ele soube dar uma rasteira muito bem em quem tentava seguir os seus passos. É que o seu lado poeta não o deixo bobo, não o desligou dos seus desejos. Poeta ou não, todo homem sabe que a gente não consegue viver sem uma bela mulher, um
belo par de coxas, e uma buceta que deixa a gente sem rumo. Viva Drummond!
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Uma hora pode dar certo
Dois minutos e não chegaria a tempo. Prestei atenção na
música da rádio FM. Por que eles tocam tanto Ana Carolina? Um grupo de adolescentes
entrou na loja pela direita. Eles pareciam animados. Um senhor conversava com a
atendente. Perguntou pra ela qual era a boa da noite. Ela tentava mudar o
assunto, mas ele não deixava a peteca cair. “O que você vai fazer hoje noite?
Beber uma cervejinha, beijar na boca”. “O
que é isso?! Eu vou buscar o meu filho, e vou pra casa, ora, não tenho tempo
pra isso não”. Só que o coroa voltava a insistir. Num momento ela já estava rindo.
Fui embora, e ele ficou lá perto do caixa. No outro dia tive que passar lá
novamente e encontrei a mesma atendente no seu posto. Agora tinha um ajudante no
mesmo lugar em que o velho estava encostado. E ele não arredava o pé dali. Pelo
visto a cervejinha ficou só no papo. O coroa vai ter que mudar de tática, ou
brigar pelo posto.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
No Fone de Ouvido
Pra não deixar o blog parado, aí vão alguns vídeos. O primeiro tem uma música inédita do Barão Vermelho. A música estava perdida nos arquivos da gravadora, e ia entrar no primeiro disco da banda, mas por ser uma balada acabou ficando de fora. Agora eles fizeram um arranjo novo e aproveitaram a voz do Cazuza. Ficou muito bacana. É legal escutar o velho Cazuza mandando ver nos vocais. A banda tá comemorando trinta anos do lançamento desse disco. O segundo vídeo é um documentário sobre o Renato Fernandes, vocalista da banda: Bêbados Habilidosos. Muito bom! Grande bluseiro!!! O documentário foi feito pelo Kleomar Carneiro, e o Vinícius Bazenga. Mostra bem a personalidade do Renato, e é imperdível. Se tivesse que dizer qual bebida representaria a sua poesia, com certeza, seria um Jack Daniel’s original numa bela dose de caubói. O terceiro vídeo, também é um documentário, só que agora, dirigido pelo Grima Grimaldi sobre a banda: Saco de Ratos Blues. Formada pelo Bortolotto, Fábio Brum, Rick Vecchione, Watanabe, e Pagotto, os caras fazem um som infernal. E mesmo que seja uma balada, você não vai sair ileso. É só curtir!
Sorte e Azar:
Ele é o Blues:
Saco de Ratos Blues:
sábado, 20 de outubro de 2012
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Pata de Elefante
Nunca
tomei uma surra de verdade. Nem dos meus pais. Nem de ninguém na rua. Só
troquei uns tapas. Agora discutir... Pô! Já troquei farpa com muita gente. Hoje
quando vejo que a coisa começa a esquentar me mando sem olhar pra trás. Nunca
valeu a pena, e nunca vai valer nada. Outro dia vi meus amigos quase se matando.
Chegou um momento que nem eles sabiam o motivo da discussão. De alguma forma da até pra entender. Tem
hora que a encheção de saco faz a gente tomar atitudes inesperadas. Certa vez eu
tinha levado o meu violão pro bar, e um cara que estava no boteco ao lado, chegou, e me pediu emprestado. Depois de algum tempo fui lá buscar a viola, só
que o infeliz não quis me devolver, e ainda ficou tirando sarro com a minha
cara. Num ato de fúria apliquei um soco no queixo do babaca, e um bicudo na
mesa. Ele caiu no meio da rua, e saiu correndo desesperado. O idiota que estava
com ele também se mandou. Ainda bem que tenho amigos por que foi só dar aquele
soco pra moçada pintar na área. Os dois poderiam acabar comigo. Foi aquela
balbúrdia. A dona da birosca ainda veio com um papo sobre a conta, e a cadeira
quebrada. Catei o meu violão e voltei pra mesa. Noite maluca. Tenho um amigo que
sabe o que é tomar um soco bem dado. E tudo por discussão besta. Quando vi, o
murrão já tinha entrado no seu olho direito. Inchou tanto que parecia o Balboa
no final de Rock 01 naquela luta contra o Apolo. Fiquei chateado pelos idiotas.
Amigo brigando não é legal. Descolei um gelo e fiquei ali até o cara se
recompor. Deve ser terrível tomar uma porrada na cara. Aí hoje eu enfiei a
cabeça num armário com tanta força que achei que tinha tomado uma patada de elefante. A sensação deve ser parecida com um murro. Você fica desnorteado. Sem
rumo. Só que aí foi só a pancada. E briga tem aquela sensação de deixar você
pra baixo. Mas não imaginava que uma pancada na moringa doesse tanto. Essa
porrada de hoje me deixou na lona. Tô com um galo na cabeça. Maldito armário!
Nunca imaginava que levaria uma patada de você. Mas foi bom. Fiquei mais esperto.
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Conselho Besta
Me pediu um conselho. Falei o que me veio à cabeça naquela hora. Depois fiquei tentando me lembrar de qual foi o último que pedi a alguém. Realmente devo ser cabeça dura. Ela foi embora com o meu conselho, e a sua confusão mental. Semana que vem a gente deve se topar de novo. Dependendo do que me falar, não vai ser difícil descobrir se ela botou fé no que eu disse ou não. Tomará que não. Tomará que a sua confusão mental tenha servido pra alguma coisa. Ficaria triste se o meu conselho besta pudesse interferir em alguma coisa. Preferia escutar: olha, pensei no que você me disse, mas... E esse, mas, soasse forte. Certeiro! Por que, diabos, todo conselho tem o seu perigo. E se ela acatar agora, provavelmente, virá atrás de outro, e se bobear, outro. Não devia ter dado conselho algum. Isso é coisa de amador. Então aprende e não vacila da próxima vez. Se é que vai ter a próxima vez.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Hei!!!!
O mengo não jeito. Haja cerva pra conseguir acompanhar um jogo mais tranquilo. Tava com vontade de escutar esse som da Patti Smith. Grande mulher!
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
GRRR! 2013
Algumas taças de vinho e agora umas antarcticas pra ver o jogo do mengo. Olha só que palavra bonita: noite!
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Vagabundos Iluminados
Aí vai alguns trechos da entrevista do Claudio Willer para Correio Brasiliense em 29/9/2012.
Quem são os precursores reconhecidos ou não da literatura
beat? Walt Whitman?
Jean-Arthur Rimbaud? Baudelaire? Louis Ferdinand Céline?
E William Blake. Mas ele e outros autores que você cita –
Whitman, Rimbaud, Baudelaire – são universais. Influenciaram tudo, a beat e o
restante. É forte a influência dos românticos – Gregory Corso idolatrava
Shelly, fez que o enterrasse em Roma ao lado do túmulo do poeta inglês. E de
formalistas: Ezra Pound e dois de seus seguidores, William Carlos William,
mentor de Ginsberg, e Charles Olson, cultuado por Michael McClure. E muito
mais. Kerouac e amigos faziam leituras em voz alta de Ulisses e Finnegan’s Wake
de James Joyce, para captar a prosódia. Viajavam com um volume de Proust, como
foi mostrado no filme de Walter Salles, Na Estrada.
Há uma leitura talvez rasa segundo a qual os autores da
literatura beat eram pouco letrados. Isso procede?
Basta lê-los! O tempo todo comentam suas leituras. Kerouac,
nos diários e em Anjos da desolação: “Histórias de dor! De repente estou
escrevendo como Céline”. Etc. Mais importante que os comentários é o
intertexto: reescreveram e recriaram o que leram. Em todos eles, constantemente,
se observa o diálogo criativo com outros autores.
Parece que Charles Bukowski não gostava de ser ligado à
literatura beat. Como avalia as relações dele com o movimento?
Bukowski reconheceu a importância de Ginsberg, e da beat em
geral, em Pedaços de um caderno manchado de vinho. Mas, naquela altura, os
beats eram celebridades, e Bukowski fazia questão de ser a margem da margem, o
rebelde perante a rebelião. Beat, já convertida em beatniks e em contracultura,
era algo coletivo demais para ele, individualista radical: “Eu era um movimento
de protesto, sozinho”, escreveu. Ademais, religiosidade e misticismo, fortes em
Ginsberg, Kerouac ou Snyder, eram algo ausente de seu interesse ou
sensibilidade.
Pra fechar! Um trecho do poema Uivo de Allen Ginsberg traduzido pelo
Claudio Willer também.
"Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura,
morrendo de fome, histéricos, nus,
Arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em
busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
“hipsters” com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato
celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite,
Que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando
sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente,
flutuando sobre os tetos das cidades contemplando jazz,
Que desnudaram seus cérebros ao céu sob Elevado e viram
anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados das casas de cômodos,
Que passaram por universidades com olhos frios e radiantes
alucinando Arkansas e tragédias à luz de Blake entre os estudiosos da guerra,
Que foram expulsos das universidades por serem loucos &
publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
Que se refugiaram em quartos de parede de pintura descascada
sem roupa de baixo queimando seu dinheiro em cestos de papel, escutando o
Terror através da parede".
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