quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Viagem ao fim da noite


Nesse caminho a distância parece menor. O telefone começa a vibrar no bolso da calça, e o carro da polícia faz a curva em frente ao colégio. Um número estranho. Quando vou atender a ligação cai. Procuro um cachorro quente. Mudo de avenida. As chances de se encontrar algo pra comer são maiores por aqui. Fechado. Fechado. Opa! Lá na frente parece ter um hot dog. Fechado também. Cidade fantasma. Até as luzes dos apartamentos estão apagadas. Nenhum ladrão. Nenhum flanelinha. Ninguém na rua. Tem um bar ali na esquina. Quem não tem cachorro quente caça com churrasquinho de gato. E aí meu amigo vai um espetinho aí? Sim. Bebe alguma coisa? Cerveja. É só dá um tempo aqui na brasa que vai ficar no jeito. Hoje o movimento tá devagar, né. Tá. Deve ser por causa do frio. Passa um homem com capuz fazendo cooper. Chega uma mulher bastante arrumada, e também pede um churrasquinho. Ela começa a conversar com o dono do estabelecimento. Me olha e cumprimenta. Ofereço a cerveja. Não! Obrigada. O dono do estabelecimento me entrega o petisco. Tenho a impressão de que a minha presença agora começa a incomodar. Ela fica perto de mim. O dono puxa papo. Só de sacanagem eu elogio a carne, e ela começa a conversar comigo. Opa! A tática funciona. Mas logo desvio o assunto a meu favor. Qualquer vacilo, já era. Só que aí o porra do churrasquinho tenta manter a situação sob controle comentando sobre a qualidade do espetinho. Penso que o animal deve ter pedigree. E vou te contar um negócio: quando um rabo de saia pinta na área em fim de noite ninguém quer dar o braço a torcer, a briga vai longe. Até os vendedores de churrasquinho se esquecem de que o cliente sempre tem razão. Uma fêmea no pedaço muda qualquer ideia precipitada. Do assunto mais bobo ao mais difícil que for. Peço mais uma cerveja, e mando assar outro pedaço de carne. Afinal de contas, como dizem alguns amigos: a noite é longa.

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