Nesse caminho a distância parece menor. O telefone começa
a vibrar no bolso da calça, e o carro da polícia faz a curva em frente ao
colégio. Um número estranho. Quando vou atender a ligação cai. Procuro um
cachorro quente. Mudo de avenida. As chances de se encontrar algo pra comer são
maiores por aqui. Fechado. Fechado. Opa! Lá na frente parece ter um hot dog.
Fechado também. Cidade fantasma. Até as luzes dos apartamentos estão apagadas.
Nenhum ladrão. Nenhum flanelinha. Ninguém na rua. Tem um bar ali na esquina. Quem não
tem cachorro quente caça com churrasquinho de gato. E aí meu amigo vai um
espetinho aí? Sim. Bebe alguma coisa? Cerveja. É só dá um tempo aqui na brasa
que vai ficar no jeito. Hoje o movimento tá devagar, né. Tá. Deve ser por causa
do frio. Passa um homem com capuz fazendo cooper. Chega uma mulher bastante
arrumada, e também pede um churrasquinho. Ela começa a conversar com o dono do
estabelecimento. Me olha e cumprimenta. Ofereço a cerveja. Não! Obrigada. O
dono do estabelecimento me entrega o petisco. Tenho a impressão de que a minha
presença agora começa a incomodar. Ela fica perto de mim. O dono puxa papo. Só
de sacanagem eu elogio a carne, e ela começa a conversar comigo. Opa! A tática
funciona. Mas logo desvio o assunto a meu favor. Qualquer vacilo, já era. Só que aí o porra do churrasquinho tenta manter a
situação sob controle comentando sobre a qualidade do espetinho. Penso que o animal
deve ter pedigree. E vou te contar um negócio: quando um rabo
de saia pinta na área em fim de noite ninguém quer dar o braço a torcer, a
briga vai longe. Até os vendedores de churrasquinho se
esquecem de que o cliente sempre tem razão. Uma fêmea no pedaço muda qualquer ideia
precipitada. Do assunto mais bobo ao mais difícil que for. Peço mais uma cerveja, e mando
assar outro pedaço de carne. Afinal de contas, como dizem alguns amigos: a
noite é longa.
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