Na pequena estante ao lado da minha cama, alguns livros estão ali cheios de poeira. Um exemplar do Chefão do Mário Puzo, outro do Machado, um do Kafka, algumas revistas da playboy, uns papéis soltos. Estou relendo o Chefão novamente. Depois que terminar penso em jogá-lo no lixo. Só penso. Acho que não vou fazer isso até porque gosto muito desse livro. É que o meu exemplar está bem velhinho, as páginas amareladas, o cheiro de mofo já chega até incomodar. Só que o texto é o que importa, e ele não me deixa desistir, aí vou lendo sem reclamar de nada. E é bom reler esse livro.
Acho que resolvi fazer isso depois que li um post do Nilo Oliveira que está linkado aí do lado. Ele postou alguns diálogos, e frases do filme – O poderoso chefão que é baseado nesse livro. Já passei das trezentas páginas, e ainda me faltam bem umas duzentas. Vou navegando tranquilamente. Vou lendo cada capítulo como se fosse a primeira vez. Mesmo sabendo do enredo ainda me emociono, fico pensando em algumas coisas. O livro trata da máfia siciliana, os trâmites, as relações do mercado ilegal. Mas pra mim o forte dessa estória é a relação familiar implícita ali. Se a base da sociedade é a família, e ainda assim, se pensarmos que essa família deva seguir princípios éticos e morais. Como funcionaria uma que está no comando do crime organizado, e que além de disputar o poder com outras famílias, tendo o Estado também como rival, consegue lidar com as suas próprias relações? A princípio poderia se pensar que fosse da mesma maneira dos seus inimigos. Mas se engana. A família, embora dependa do crime permanece intacta. Claro que depois ela vai se deteriorar, passar por problemas cabeludos, mas até aí qualquer uma passa por isso. E com eles não vai ser diferente.
É só você ler o livro, ou assistir o filme pra perceber essa relação. Parece que os princípios estão invertidos, mas não é bem dessa forma. O que está invertido são os negócios. A ideia é pensarmos que como regra, a desestruturação familiar vai desembocar na criminalidade, mas parece que tanto no crime como na legalidade uma coisa é comum: a ética, e o respeito. Se bobear, já era... O crime é organizado mesmo. O Estado anda de muletas. Quando comecei a reler o texto percebi o marcador de página do livro: um santinho de Santo Expedito. Nem só devoto de santo algum, mas tenho um apreço por Nossa Senhora Aparecida. E esse santinho veio bem a calhar, um belo marcador de página. Li a oração no verso que diz que se você estiver precisando de uma ajuda urgente, peça a ele. Lembrei dos meus problemas, mas nada é tão urgente ou desesperador. Então olhei a imagem da mãe de Jesus na estante da sala e dei uma piscada. Se tiver que pedir alguma coisa, eu sei com quem falar. Antes de fechar o livro, surgiu uma frase do Balzac antes do primeiro capítulo: “Por trás de toda grande fortuna há um crime”. Bela frase! Deixa a gente sempre com pulga atrás da orelha.
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