Na última parada da W3 sul ele desceu do ônibus sem deixar rastro. Foi embora com o semblante fechado. Até mesmo triste. Logo veio o engarrafamento, e o trânsito caótico deu as cartas. Se até os palhaços não conseguem mais sorrir, nós estamos ferrados, pensei. Duas paradas pra trás vi quando ele entrou no ônibus. Acenou e o motorista liberou a sua passagem. O palhaço se posicionou ao lado do trocador aparentemente alegre. Esperei algum número. Alguma zoação. Uma brincadeira para animar um pouquinho aquela tarde seca. Mas não foi o que aconteceu.
Ele começou a contar a sua vida sofrida, e que estava ajudando uma entidade para drogados, ou algo do tipo. Disse que há bastante tempo tinha sido palhaço, e que agora estava de volta. Que precisava ganhar a vida, e com isso levantar um troco. Achei honesto da parte dele, e me senti bastante triste. Muitas vezes você encontra muito malandro se passando por sofrido atrás de um troco qualquer. Bom, se o cara teve essa intenção mandou muito bem. Agora se for verdade, a situação tá braba mesmo, se os palhaços não trouxerem mais alegria, nós estamos fudidos. E ele foi embora sem fazer nenhuma graça. Nenhumazinha sequer. A coisa tá feia pra todo mundo, pensei. Pros artistas de rua então, nem se fala. Gostei desse palhaço. Ótima atitude meu camarada. Enquanto esperávamos o ar da sua graça, a vida se apresentou ali sem maquiagem, sem palmas e sem apresentação.
Quando cheguei em casa fui ver o trailer do filme do Selton Mello que se chama - O Palhaço. E olha o que encontrei por lá: “eu faço o povo rir, mas quem é que vai me fazer rir”. Será que tá dando grana não fazer mais piada, ou, essa é a nova tendência do picadeiro? Não sei. Quero pensar que fui enganado. Que o palhaço ali era eu. E que ele conseguiu passar a perna em todo mundo. Quero pensar que os palhaços estão mudados, só pode. Tinha tempo que não andava de ônibus. O trânsito faz a gente virar artista. Hoje tem festa?! Sim!!!!! Rá! Aqui
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