No som do carro a rádio divulgava o boletim econômico do
dia. O engarrafamento estava bravo. Dá aonde vinha toda essa
gente? Ou melhor: todo mundo precisava ir pra casa por esse mesmo caminho? A
resposta era sim. Mudou de faixa e o fluxo piorou mais um pouco. A fila estava terrível.
Apareceu um camarada lá do lado de fora vendendo água. Tá errado cara. Você tem
que vender é cerveja. Vai ganhar muito mais. E de quebra já emenda um espetinho
de gato. Esse kit ameniza qualquer trânsito caótico. Nesse instante o celular
começou a tocar.
Oi?!
Benhê, vai demorar muito?
Pô! O engarrafamento hoje tá foda.
Sério?!
Vai demorar.
A gente tem que fazer compra! Só tem um sabonete no armário,
a carne acabou, o saco de arroz tá pela metade, papel higiênico, o café também no fim, temos que
comprar o feijão preto pra feijoada amanhã, comprar alguma verdura, couve,
tomate, açúcar, acabou o desinfetante, só tem uma cebola...
Oh! Quando eu chegar aí a gente vê isso!
Vou fazer uma listinha, tá?!
Tá bom. Vou desligar.
Tenta vir por outro caminho.
Vou ver.
Quando deixou o
celular no porta-luvas sentiu uma pancada forte. Um ônibus tinha arrebentado a
traseira do seu carro. Mas por incrível que pareça ao mandar a cabeça no volante conseguiu escutar PERFEITAMENTE a voz da sua esposa naquele tom meloso: benhê, vai demorar muito?
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