Vou por uma conversa no meio da rua. O primeiro e único assunto
que toma conta do papo é um só: o mundo. A pessoa diz que o mundo não é mais o
mesmo, e as perguntas não acabam mais. O cara esta bem furioso. Gesticula sem
parar. Em seguida a mulher do lenço na cabeça concorda, e começa a mandar pau
também. Eu fico de olho na menina da calça colada que está à minha esquerda.
Que magia! Que sortudos são os caras do trabalho dela. Passar o dia inteiro
admirando aquele monumento. “As pessoas estão muito egoístas!” “É que ninguém
tem mais tempo”. “Que nada! As pessoas ficam no computador por que aprenderam a
olhar só para um ponto, e outra, elas estão solitárias. Mas no fundo é por que
elas não estão nem aí”. Da fúria o cara passa a angústia. A mulher do
lenço na cabeça parece ter compreendido. Acho que os dois formariam um casal da
pesada. Fico imaginando um olhando para o outro de frente pra televisão
discutindo qual seria o melhor canal pro mundo. A menina
da calça colada no rabo pega o celular e confere as horas. Obrigado mundo!
Obrigado por me fazer acreditar que existem pessoas boas que querem a alegria
dos outros somente com um rebolado simples e honesto. “O governo não está nem
aí pra gente, olha os hospitais!” “Sabe, a corrupção ainda vai afundar esse
país”. A menina da calça colada faz um sinal com a mão direita e o ônibus freia mais a frente. Ela
caminha na minha direção, passa por mim, e vai embora naquele coletivo que
ainda está vazio. Eu me afasto do casal mundo. Apesar das farpas, eles se
entenderam bem. Sento no banco sujo, e nem me importo se vou sujar a calça. Tive
a impressão de que por alguns minutos entendi o que o mundo queria me dizer.
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