terça-feira, 17 de julho de 2012

O mundo é grande pra caramba


Vou por uma conversa no meio da rua. O primeiro e único assunto que toma conta do papo é um só: o mundo. A pessoa diz que o mundo não é mais o mesmo, e as perguntas não acabam mais. O cara esta bem furioso. Gesticula sem parar. Em seguida a mulher do lenço na cabeça concorda, e começa a mandar pau também. Eu fico de olho na menina da calça colada que está à minha esquerda. Que magia! Que sortudos são os caras do trabalho dela. Passar o dia inteiro admirando aquele monumento. “As pessoas estão muito egoístas!” “É que ninguém tem mais tempo”. “Que nada! As pessoas ficam no computador por que aprenderam a olhar só para um ponto, e outra, elas estão solitárias. Mas no fundo é por que elas não estão nem aí”. Da fúria o cara passa a angústia. A mulher do lenço na cabeça parece ter compreendido. Acho que os dois formariam um casal da pesada. Fico imaginando um olhando para o outro de frente pra televisão discutindo qual seria o melhor canal pro mundo. A menina da calça colada no rabo pega o celular e confere as horas. Obrigado mundo! Obrigado por me fazer acreditar que existem pessoas boas que querem a alegria dos outros somente com um rebolado simples e honesto. “O governo não está nem aí pra gente, olha os hospitais!” “Sabe, a corrupção ainda vai afundar esse país”. A menina da calça colada faz um sinal com a mão direita e o ônibus freia mais a frente. Ela caminha na minha direção, passa por mim, e vai embora naquele coletivo que ainda está vazio. Eu me afasto do casal mundo. Apesar das farpas, eles se entenderam bem. Sento no banco sujo, e nem me importo se vou sujar a calça. Tive a impressão de que por alguns minutos entendi o que o mundo queria me dizer.

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