quinta-feira, 28 de julho de 2011

Na Tabela

O jogo de ontem - Flamengo X Santos - foi de arrepiar. O mengo até o primeiro tempo estava sendo humilhado quando tomou três gols na lata. Mas você sabe como o futebol tem das suas façanhas. O time conseguiu empatar. Aí tomou outro, empatou novamente, e virou. O bar foi quase abaixo nesse momento. O dono ficou agoniado tentando acalmar os ânimos da torcida. Enfim, o Ronaldinho Gaúcho fez uma belíssima partida. O porra do Neymar realmente joga muita bola. O moleque deitou e rolou na área do mengo. No fim da partida cansou, e o caneco foi pro mengo. Esse vai ser daqueles jogos que será lembrado pra sempre. Jogaço de bola. Sem um minuto de descanso. Que jogo de seleção brasileira que nada! Aliás, obrigado grande Elano.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Fica pro Jantar

Ao chegar à cidade Dona Matilde não se mostrou muito animada. Brasília estava feia. O tempo frio, seco, um vento forte, chato. A poeira tomava conta da paisagem. No caminho do aeroporto ela passou a mão no creme e espalhou por todo o braço. Aí notou o quanto a pele estava bonita, e queimada de sol. Ela havia passado uma pequena temporada no Rio de Janeiro. Foi só para curtir o réveillon, mas acabou ficando pro carnaval, e aí veio a semana santa, a páscoa, e se fosse por ela ficaria por lá mesmo. O clima do Rio lhe fez muito bem. As netas não gostaram muito dessa visita inesperada. Que negócio era esse de passar o réveillon e não voltar mais? Foi difícil se livrar da velha. Só que a Dona Matilde não estava nem aí pra nada. Achava que as netinhas estavam adorando a sua presença.  

Já na capital precisou voltar à rotina. Esquecer o tempo bom que passou, e encarar a baixa a umidade, e o frio que gelava até a alma. Pelo visto esses longos dias de espera seriam duros. Que verão maravilhoso! Agora estava muito longe dele chegar novamente.

A primeira coisa que pensou foi em reencontrar as amigas. Contar as novidades. Então passou a mão no telefone e conversou um pouco com a Dona Maria. Marcaram de se encontrar pela tarde. Elas só conversavam nesse horário. É que nessa hora a Maria ficava sozinha em casa. O marido aposentando sempre batia o ponto no dominó lá do outro lado da cidade. E o velho era ranzinza que só vendo. Daqueles que não aceitava nenhuma visita sequer. Então quando o ponteiro marcou 14:10 ela ligou. Tranquilo. O estraga prazer já estava na jogatina.

- Como é que tá as coisas? Saudade... disse a Dona Matilde.

A Dona Maria estava numa carranca de fazer medo. Demonstrava total indiferença. E sem muita opção pediu que a amiga entrasse. Daí serviu um suco, puxou uma cadeira. Foi quando a carioca honorária desandou a falar. A Dona Matilde não parou nem para tomar o suco, não deu colher de chá. Parecia uma metralhadora ambulante.

Do outro lado, a amiga, só usava três respostas:

- Ah é?

- Hum...

- Tá!

Quando a garganta da "carioca" falante secou, Dona Maria, resolveu falar alguma coisa. Passou a mão no cabelo. Ajeitou os óculos no rosto enrugado. E com o olhar triste escondido ali naquele fundo de garrafa, disse sem emoção:

- Não tô preparada pra morte.

Dona Matilde visivelmente incomodada, disparou:      

- Se for pra ficar falando disso, eu vou-me embora.

- Quando a gente é jovem, sabe, tem tempo. Pode até pensar na morte, mas agora...

Pintou um silêncio danado no ar. Só a TV participava. E a recém chegada de viagem tratou de mudar o rumo do papo. Logo voltaram a fofocar da vida alheia. Sem querer já estavam rindo da vida dos outros. A tarde passou rápida. Mas de repente escutaram um barulho no portão. Era o coroa que havia chegado. O velho estava com a cara vermelha, e puto de raiva. Abriu a porta, e viu as duas ali no sofá da sala. Elas se assustaram, e a Dona Maria voltou a ficar com a cara fechada. É que o velho não gostava de visita.

Foi quando Dona Matilde tentou ser gentil.

- Como vai Seu Angenor?

- Indo...

O velho estava brabo porque tinha perdido 100 pilas no dominó. Jogou uma pedra errada, e acabou a partida com a mão cheia de bucha.

- A janta já tá pronta, perguntou ele.

- Vou preparar agora.

- Ah tá. O que têm?

- Bife.

- MAS SÓ TEM BIFE NESSA CASA.

Dona Matilde se despediu sem graça e foi embora. No caminho sentiu falta do casaco. Brasília estava friorenta demais. Se tivesse no Rio nem teria se preocupado com a blusa de frio. Pensou nas netas. Imaginou que elas realmente tivessem gostado da sua presença. Sentiu-se contente. E as netas lá no Rio estavam num remorso tremendo por ter mandado a velha embora, sem que ela, estivesse com muita vontade de voltar.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A Melodia

As palavras carregam os sentimentos, ela me disse. Então se livre delas, respondi. Como? Use outras que prendam essas que estão te incomodando. Você faz isso? Não. Então porque tá me recomendando usar outras palavras? Só pra encher o teu saco. As tintas também carregam os sentimentos, ela continuou. Olha aquele quadro ali, percebe as cores, se você for ver; por atrás daqueles traços as sensações estão todas ali, os rabiscos são como as palavras, ela finalizou. A realidade para o sonho é uma coisa, e o sonho enquanto realidade segue outro rumo, completei. A nossa percepção nos engana, a gente escuta uma coisa e sente outra. Come com os olhos. Sente sabor com o cheiro. Gostei dessa parte do comer com os olhos, respondi. Ah! Você já tá querendo pensar besteira, né. Que isso! Não é a minha intenção. Será que não é você que tá pensando o que suponhe o que eu esteja pensando? Vamos mudar o rumo da prosa, ela despistou. Claro, sem problemas. Queria tomar um conhaque, ela sorriu. Pede um, disse eu. Pede pra mim? Garçom? Um domeq caprichado. Tá frio, né, ela se ajeitou na cadeira. Ótimo para um conhaque, respondi. Tava pensando naquela música do Cartola, disse ela. Qual? Aquela do moinho. Ah tá. Você sabe cantar? Não sei direito, só algumas partes. Aquela música só funciona na madrugada, completei. Você sabia que as melodias carregam os sentimentos? Sim. A melodia desperta uma sensação. Opa, me desculpa, aqui tá o conhaque, senhor. Ah! Obrigado. A sensação remete os sentimentos que por sua vez foram despertados por uma melodia, ela me perguntou. Sim. Acho que é isso, respondi, nisso ela bebericou o conhaque. Canta um pedaço dessa música do Cartola, insistiu. Não sei a letra. Só faz a melodia, então... É mais ou menos assim, né. play  

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Pelota Sanguinária

Pelada é o nome que se dá aquela partida de futebol no fim de semana. Sabe qual é: aquele encontro, ou melhor, aquela confraternização entre os amigos que se reúnem para jogar uma pelota, e depois vão todos encher a cara no churrasco. Pois é! Eu achava que o futebol aí era só um pretexto para a farra, mas depois de ontem já não sei mais. Tem tempo que não jogo uma partida. E nem me lembro da última vez que joguei. Só me lembro do churrasco. E das piadas. Tô mentindo. A última vez que joguei, fiquei cinco minutos e desisti. Dei um pique da defesa até o ataque, e só. A pressão subiu. A sede aumentou. E a falta de preparo juntamente com o efeito etílico da noite anterior falou tão alto que me fez desisti sem remorso algum. Catei uma garrafa d’água, e fiquei vendo os pernas de pau em atividade. 

Depois de algum tempo vi que fiz a escolha certa porque os caras jogavam como se fosse a última partida da vida deles. Eles se trombavam, xingavam, entravam de sola, davam cotoveladas. Por uns segundos pensei que não era mais futebol ali e sim um vale tudo dos bons. Eles ignoravam até o comando do juiz. Era hilário. Fiquei pensando - essa moçada tá levando essa partidinha fuleira a sério demais. Pra que tudo isso, porra? Tenho um amigo que por esses dias fez uma cirurgia no braço por causa dessas partidas de fim-de-semana. O cara levou uma trombada, e o ombro foi pro espaço. Agora tá aí com uma coleção de pinos nas articulações. Mas depois de ontem daquela partida do Brasil, principalmente, daqueles pênaltis fiquei na dúvida sobre quem realmente era os pernas de pau da jogada. Os milhares de anônimos que se racham só pelo prazer de jogar bola, ou esses profissionais tarimbados do futebol nacional? 

Ontem foi hilário. Colocando na balança seria um crime comparar os pernas de pau com os jogadores da seleção. Os pernas de pau têm alegria, xingamento, ressaca, mas com um detalhe: eles são muito mais determinados. Se o juiz bobear é bem capaz dele tomar uns tapas, e ainda ter que sair correndo. Aquele jogo de ontem foi uma piada bem sem graça. Rachão de fim-de-semana vale muito mais.           

sábado, 16 de julho de 2011

É ela!



A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
(Manuel Bandeira)

Linkado do blog do Nilo Oliveira que tá aí do lado

quinta-feira, 14 de julho de 2011

LOW DREAM

Nos anos 90 aqui em Brasília tinha uma banda chamada LOW DREAM. Lá da asa norte. Escutar o som deles me faz bem. Aprecio a sonoridade. A primeira vez que ouvi falar da banda foi na rádio Cultura FM. Era sábado, bem no começo da noite. Alternava entrevista com as canções. Nesse dia o guitarrista solista não apareceu, e os caras ficaram brincando com a ausência dele. Me lembro que estava no carro do meu pai. E depois, já na farra da madrugada fiquei pensando no som. Eles estavam lançando o segundo disco (Reaching for Ballons/1996). Uma semana depois comprei na Berlin Discos lá no Conic. E então descobri o porque de ter gostado tanto daquela levada. Era por causa da bateria. Quando entrava a voz ao invés do batera acompanhar com o chimbau, ele mantinha o compasso no prato de condução. Muito tempo depois escutei a primeira fita demo - Dreamland (se não me engano), e ele não usava muito esse recurso. 

Mas no segundo disco essa técnica é o carro chefe. Pra mim ele foi certeiro. Mudou a cara do som completamente. Aí passei anos com essa fita e o segundo disco. Nunca tinha escutado o primeiro (Between My Dreams and The Real Things/1994). Alguns meses atrás escutei, e é muito bom também. Música tem esse lance de agregar, sabe. E daí você percebe como a sonoridade vai sendo construída, e lapidada. Pelo que me lembro só meu amigo Marcelo Mendes foi num show deles. Ao vivo deveria ser bom pra caralho. Escutar Low Dream me traz lembranças ótimas, e porra, tô ficando mô tiozão. Uma cerva gelada ao som de Low Dream a onda é garantida.

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Achei alguns links (abaixo), mas não sei se eles estão funcionando. Tenta aí:
Primeiro disco (aqui)
Segundo disco (aqui)
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No you tube encontrei alguns clipes (até um tempo atrás não tinha nada)
From the ocean... (PLAY)
My garden (PLAY)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Caderno de Notas


eu

mulheres não sabem como amar,
ela me disse.
você sabe como amar
mas mulheres só querem
parasitar.
sei disso porque sou
mulher.

hahaha, eu ri

por isso não se preocupe por ter terminado
com Susan
porque ela apenas irá parasitar
outro homem

falamos um pouco mais
então eu me despedi
desliguei o telefone
fui ao banheiro
e mandei uma boa merda de cerveja
basicamente pensando, bem,
continuo vivo
e tenho a capacidade de expelir
sobras do meu corpo.
e poemas.
e enquanto isso acontecer
serei capaz de lidar com
traição
solidão
unhas encravadas
gonorreia
e o boletim econômico do
caderno de finanças.

com isso
me levantei
me limpei
dei a descarga
e então pensei:
é verdade:
eu sei como
amar.

ergui minhas calças e caminhei
para a outra peça.

(Charles Bukowski em O Amor é Um Cão dos Diabos)

terça-feira, 12 de julho de 2011

Black Dog

Viva o Rock and Roll!!!!!!!!!!!! 13 de Julho - 2011. Velho, mas enchendo o saco sempre! Foda-se! Play!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Clube da Insônia

- Qual é o seu problema?
- Problema doutor?
- É! Qual o teu problema?
- Hum! Acho que é levar a diversão sério demais. Ou a seriedade divertida demais.
-...
- Eu tô louco da cabeça, doutor?

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Meu Bife Amigo

Passei ao lado de uma casa e veio um cheiro de bife acebolado maravilhoso. Oh! Que beleza... Pensei em tocar a campainha só pra dar uma conferida no prato. Mas fui embora. Certa vez uns amigos voltando da farra, mais ou menos, umas seis da manhã passaram ao lado de uma casa, e no varal tinha uma peça de carne de sol. Me disseram que a danada era de primeira, então alguém pegou uma vara, alcançou a carne, contaram até 3, e no 4 jogaram por cima do portão. Ainda a pegaram no ar. E depois foi só passar na padaria, e comprar uns pães. A moçada se acabou. Tiveram um café da manhã pra ninguém botar defeito - carne de sol com pão francês, e mais algumas latinhas de cerveja. Fiquei imaginando o dono casa bem na hora do almoço. Ué! Eu tinha colocado a carne aqui, cadê? Uma coisa é certa: carne dando sopa no varal, cachorro malandro não perdoa.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Caderno de Notas

"Sempre faça sóbrio o que você disse que faria bêbado. Isso lhe ensinará a manter a boca fechada". 
(Ernest Hemingway)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Do outro lado da rua

Conversava sobre qualquer assunto que pintava na mesa. Uns banais. Outros importantes. E no entanto o papo transcorria calmo. O sol aos poucos ia incomodando. Então se ajeitou na cadeira, e olhou ao redor. Uma menina passava pela calçada do outro lado da pista devagar. Ela falava ao telefone com um sorriso leve. Conferiu o trânsito, e atravessou a rua. Veio na sua direção. Deu uma volta no carro estacionado, e passou por fora da mesa. Ele ficou com vontade de olhar pra trás. Virou a cabeça. Fez um comentário consigo mesmo. Algo sobre a beleza daquela mulher. Principalmente por ela estar sem nenhuma maquiagem ou roupa chamativa, e ainda assim estar tão bela. Encostou o braço na cadeira. A garota ainda continuava ao telefone. Ela foi embora pela calçada e entrou no prédio adiante. E nesse momento passou pela sua cabeça uma cena do filme The doors do Oliver Stone. Aquela parte em que o Morrison sobe na árvore para conversar com a Pam, e ao fundo toca Love Street. Tá aí uma mulher andando despretensiosamente na rua consegue despertar sentimentos que se você fosse à caça talvez não conseguisse encontrar. Dois dias depois abriu um site de notícias, e encontrou uma nota sobre o velho Jim. Sem querer veio a sensação do sol e o caminhar daquela menina vindo em sua direção, e também porque se lembrou de love street. O prédio ficava próximo, agora era só saber qual o apartamento.

sábado, 2 de julho de 2011

Recibo como marcador de livro

Anda pela avenida sem pensamento algum. Os passos da noite fria. Ainda bem que tem um endereço. Vai. Caminha com a mão no bolso. Só faz o momento. Procura a chave. Um amontoado de canções por terminar. E nenhuma parece muito a vontade. Boas idéias. O velho discurso sobre o tempo. Percebe a sensação de somente tocar os utensílios, fazer o que tinha que fazer, e seguir o compasso. Os pequenos movimentos inofensivos. Pobre cachorro que tem que tomar banho nesse clima de inverno.