quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Tá faltando uma borracha por perto

Os objetos dispostos à mesa. Quietos no seu canto. Como se passassem despercebidos. Mas há um recado no papel. Outra anotação qualquer. Um e-mail. O nome de uma banda com a música logo abaixo. O fone de ouvido que não funciona mais. Aquele bloco de notas com um monte de rabiscos. Uma pequena lista com material de construção. 10 vigotas. Porta retratos. O grampeador tão útil, e pronto para ser usado. Um disquete velho (o que tem arquivado?). Objetos que estão sempre por perto. A caneta que não tem mais tinta. O dicionário fechado. Objetos que despertam a vontade por listas. Quais são os melhores zagueiros dos últimos dois anos? Objetos que mudam a rotina. Que tal ligar o ventilador? O calor agora ainda está suportável. A janela aberta é bem melhor do que qualquer ar condicionado. Uma crônica sem intenção. O registro de uma caneta sem tinta. Palavras na tela do computador. É só ir juntando uma com a outra até chegar ao ponto final. E quando chegar lá. Será isso o que for dito, e basta: os objetos que quebram um galho. É hora de terminar. Então ponto final. Acabo de pegar uma caneta que funciona só para desenhar um barco numa folha que está de bobeira ao lado da caneta que não tem mais tinta.     

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Meio desligado

Nunca curti esse negócio de horário de verão. Ainda bem que acabou. Olha só que beleza: 11 e pouco da matina. O dia vai ficar mais lento. O domingo tem que ter essa calmaria. Você passa os olhos nas manchetes dos jornais, anda descalço, escreve um pouco, e deixa o tempo correr sem preocupação. Acordei assoviando sunday morning do velvet underground. Esse fim-de-semana tô desligado. Tá aí outra música que reflete o meu estado de espírito. Ando meio desligado do Mutantes. Sempre gostei do dia de domingo. Tem muita gente que detesta. Eu particularmente adoro, mas entendo, principalmente, quando a noite chega mansa, e você pensa que vai ter uma segunda-feira daquelas, então a coisa se torna terrível, né. Mas deixo isso pra lá. Sem horário de verão. E sem se preocupar com o relógio. Mais uma hora de brinde. Vou ficar de molho sem pensar em nada. Aliás, vou largar esse computador e fazer alguma coisa. Tocar um violãozinho, por exemplo. 

Sunday Morning

Velvet Underground

Pra começar a manhã bem.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Você tem fome de quê?

Hoje pensei em um peixe assado. Ia cair bem. Um belo tucunaré de 1 kl e pouquinho, mais um pouco de azeite, alcaparra, alho, cheiro verde, pimenta do reino, e limão. Nos cortes transversais você coloca a alcaparra. A brasa tem que tá numa temperatura legal. Quando o peixe começar a ganhar cor, o cheiro da alcaparra vai surgindo aos poucos. E o gosto fica nele. Já fiz alguns na churrasqueira, e ficou bom. Já pensei também em colocar manjericão. É capaz de ficar no jeito. Mas vai ficar pra outra hora. Isso requer preparativos. E para comprar um tucunaré de qualidade só lá na feira do guará. Tá longe demais. Vou ter que me contentar com um tira-gosto e umas cervas geladas. Aliás, já vou pegar uma ali agora, vou dar um pontapé nesse fim-de-semana largado, nesse dia que começa lerdo, um ótimo dia pra vadiar. Bom sábado aí!  

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Em ré maior

Um refrão na cabeça, sem parar: you gotta tell me you're coming back to me. Aí o violão fica ainda mais pancada, e o tempo vai passando sem me incomodar, ou bancar o futuro. Mais tarde canto o mesmo entre uma gelada e outra. You gotta tell me you're coming back to me. Refrão agora. Que música aquela pessoa ali na frente pensou hoje, cantou hoje? Não preciso saber. You gotta tell me you're coming back to me. Esse é o teu refrão. Um disco furado na cabeça. Até a noite. Até a madrugada. Sem pedir licença. Tem um chiclete no bolso da calça. O tom é esse. Cantar até a hora que tiver que cantar. Depois vai ver o que sobrou. Sempre causa alguma coisa. Quando esquecer tenta escutar o restante da melodia perdida em algum canto da memória.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Cachoeira da Toca em Ilhabela

Por.: Cárcamo
Essa aquarela do Cárcamo ficou muito bonita. O cara manda muito bem. A técnica deixou o tema ainda mais expressivo. Cada pincelada transmite uma sensação. A tonalidade da cor com a luz vinda do alto mostra detalhes que num primeiro olhar já sentimos o clima, ou até mesmo, o sentimento que esse lugar pode nos causar. Pra conseguir um resultado assim, só com muito talento. O cara é fera. O link do blog dele está aí do lado na parte de blogs e sites. Tem mais por lá. 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Heart Attack Grill

Essa iguaria da foto acima é o Triple Bypass Burger. Aí tem três hambúrgueres, 12 fatias de Bacon, queijo, cebola roxa, e molho especial. Uma verdadeira granada cardíaca. Quando será que vai chegar por aqui? Vou dar uma olhada lá naquela lanchonete do Guará. Às vezes eles já adaptaram ao cardápio. É bem capaz deles já terem feito algumas alterações naquele hambúrguer que tem o singelo nome de Bomba Atômica. Que maravilha! Aqui

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A cidade não para

Cuidado com a calçada. Olha lá na frente. Ninguém na rua. Nenhum cachorro por perto. Todos estão dentro de casa. Todo mundo dessa redondeza está nesse momento dentro dos seus apartamentos. Isso mesmo: anda mais rápido. Lembra que o teu amigo e a namorada dele foram assaltados do outro lado daquela avenida. Lembrou? Agora, esquece, e continua. Vai. Abre a porta do carro, liga e se manda. Não fica de bobeira. Depois que tiver saído, aí sim, você liga o som. Por que está fazendo o contrário? O especialista de segurança deu dicas incríveis de como se portar na rua. A televisão está cheia de estórias de vacilo.  Quer ser o próximo da lista? Pronto garotão. Agora tá tudo bem. Acelera. Se manda. A cidade não tá pra brincadeira. O especialista iria te repreender por sua atitude. Procurar o mp3 do the doors no porta-luvas do carro com a porta aberta não foi uma boa ideia. Da próxima vez pode ser fatal. Não tem medo de sequestro relâmpago? Sim! É um crime estúpido. Mas agora já está tudo bem. Dá uma olhada no retrovisor. Ninguém na rua. Então aumenta o som. Qual o nome da música? She smells so nice. Essa música estava perdida. É verdade. Ela estava engavetada há quarenta anos. O som é bom. Poderia ser a irmã gostosa de L.A. Woman. Então agora curte, e acelera. Hoje, você deu um mole danado, meu camarada. A cidade agora é só isso: tensão, e crime. Ela não deixa por menos. Relaxa. Vai. Acelera! Daqui a pouco você tá em casa. Lembra! O especialista no jornal do almoço disse que a porcentagem dos crimes... E o que ele vai dizer amanhã? Algo técnico resumido em números. Estatística terrível. Mas todo mundo sabe que a cidade anda pior do que a selva. Ela fingi que dorme pra descolar uma presa pro jantar. PLAY

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Buuuuuuu!

Robert Crumb

Quando a hora é da razão

Qual o sentido da vida? Se essa pergunta for feita numa segunda-feira às 6:30 da matina é bem capaz de que a resposta não seja lá muito animadora. De vez em quando vejo alguém com esses tipos de questões ali querendo uma solução rápida, e indolor. Fico intrigado com as respostas. Cada um se apega da maneira que lhe convém. Uma vez ou outra me pego com essas inutilidades no meu encalço, não sou diferente. De vez quando essas bobeiras pintam por aí sem pedir licença. Só que desenvolvi um método que acho infalível. Quando algo não está legal e quero sumir da face da terra, evito perder o meu tempo com esses tipos de chatices, não fico me perguntado ou arranjando mais problema do que já tenho de fato. Por que como disse a resposta não vai ser boa. 

Agora quando vejo uma menina linda tirando a roupa só pra mim. Ah! Aí resolvo ir em frente, e só de sacanagem me faço essa pergunta universal: qual o sentido da vida? Resolvi adotar esse método por que a resposta está ali na minha frente: ela dançando devagar, tirando peça por peça sem nenhuma preocupação. Como se em cada ato, a peça retirada me dissesse: a vida já tem pergunta demais seu besta, larga de ser otário, olha aqui seu idiota, se a vida tem algum sentido que isso fique pra mais tarde. Não tem coisa mais bonita do que mulher tirando a roupa. Melhor do que qualquer filosofia, ou qualquer explicação de fim de noite. Lembro de um carnaval que apareceu uma mulher fantasiada de Eva. A fantasia era só um tapa-sexo, e purpurina por todo o corpo. De onde surgiu? Não sei. Quando vi a danada estava na minha frente sambando feito uma gata no cio. Imagina só: eu que nem gosto de dançar, e de repente me surge uma mulher praticamente nua dançando sem nenhum pudor. Porra! Qual o sentido da vida? Olhei pr’aquele monumento e com os braços abertos, disse em voz alta: obrigado meu senhor! Nunca mais vou reclamar da vida. Abraçei com jeito, e ela respondeu. Perfeito! Peguei-a pela cintura e pude sentir aquela vibração, a sua respiração quase ofegante. Vou te falar, viu. A cerveja desceu macia. 

Então decidi que de lá pra cá só faria perguntas difíceis em momentos de pura descontração, e sem compromisso. Que toda vez que tivesse mal simplesmente tomaria um banho e iria dormir. Por que quando a barra pesa você não só se arrebenta todo como também se torna um chato. Mas você poderia me confrontar dizendo que dessa forma não vale. Que essa pergunta é séria demais e que eu deturpei o seu propósito. O lance é que a gente adora se maltratar. Gostamos de ir fundo até perder o sentido. Se isso ajuda? Tenho lá minhas dúvidas. Com perguntas ou respostas o meu carnaval já começou. Vou escutar rock, mas quero dar um pulo nas ruas só pra ir atrás daquela beldade de outros carnavais. Decidi que só faço pergunta difícil na gandaia. Lá é onde encontro todas as respostas que procuro. Inclusive quando a música está nas alturas e você encontra uma gata chorando no meio da multidão. Sempre penso que deve ser por causa de algum caso de amor mal resolvido. Chifre! Fora! Sei lá. Mas agora quando ela vier novamente na minha direção, vier do jeito que veio ao mundo, pode saber que vou fazer a pergunta novamente: qual o sentido da vida? E pode acreditar que nem a alegria, e nem a tristeza vai me atrapalhar.    

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

1, 2, 3, 4 Gravando!

Ontem a noite fui ao estúdio gravar uma música com a minha amiga Elbamari. O projeto é em parceria com o irmão dela -, o meu brother de longa data - Junior Vilela. O trabalho tem música conhecida e também autoral. Eles me pediram um samba. Um samba que fiz já há algum tempo. E confesso que tava meio enferrujado nos acordes. Tem umas notas de travar a mão. Bom! Treinei na segunda-feira, e ontem gravamos. Acho que deu pra sair. Agora eles vão trabalhar, e ajustar os detalhes, construir os arranjos para ficar ainda mais bacana. Os dois são feras. Têm bagagem musical e além disso são bastante cuidadosos com o que estão fazendo, então o trabalho vai ficar de primeira. Fiquei pensando quando cômpus essa música. Gosto bastante de samba, mas ultimamente não tenho escutado com muita frequência. Tô mô rockeiro e blueseiro. Apesar disso não deixo de escutar. O Luiz Melodia me salva de vez quando. Principalmente na madrugada.

Nessa época quando cheguei em casa depois da farra, liguei num canal (acho que era no GNT) e lá estava passando um documentário sobre o Paulinho da Viola. E o cara tem uma história de vida muito bonita. Aí fiquei entusiasmado com aquela magia do samba, do choro, das rodas de samba com cerveja gelada, caipirinha, comida, peixada, feijoada, mulher, farra, e fui dormir num clima bom. Só que assim como no rock, no samba também existe muita porcaria. Mas fiquei pensando nós caras que fazem valer a tradição, fazem valer a raiz, e compõem sem pensar nesse lance de moda. Não tenho nada contra quem segue a maré. Gosto de artista que tem autenticidade. Daquele que você escuta e já sabe o que ele é, e pronto. 

E como na época andava meio puto com algumas coisas. No outro dia acabei compondo um samba meio partido alto. Acordei, peguei o violão e a música já estava pronta. A última vez que toquei ela já deve ter uns dois anos. Aí destravei os dedos e toquei ontem lá no estúdio. Foi muito legal. Vou ficar na curiosidade pra escutar tudo pronto. Isso vai levar alguns meses. Por enquanto vai a letra aí pra vocês curtirem. Acho que vou retomar essa canção, e colocar  no repertório novamente.   

Samba Insônia
Rodrigo Ferreira

Quando acordei meio atrasado
Já olhei foi pro teu lado
E esperei agoniado
O teu abraço de insônia
A minha cara não avisa
Se você é a mais bonita
Das meninas lá da Vila
Mas não esquece o que sobrou
Se você sabe o que marcou
O sucesso da nossa vida
Me deixa um lençol e um cobertor
E olha pra mim
Ah meu amor não volta mais

Quando acordei meio embaçado
Do teu amor atrapalhado
E num olhar inusitado
Não era mera fuga
A minha cara quando avisa
Se você é capa de revista
Ou é a menina mais bonita
Mas não esquece o que sobrou
Se você sabe o que marcou
O sucesso da nossa vida
Me deixa um lençol e um cobertor
E olha pra mim
Ah meu amor não volta mais

Elbamari e o Meliante

Leva a sério, rapaz! Toca esse violão direito!
Rascunho
Faz o acorde certo. Opa! Isso aí...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Pra salvar o fim de tarde

Hoje li uma matéria no caderno policial aqui de Brasília e me lembrei de um conto do Plínio Marcos. Dá uma conferida aí logo abaixo.

Alvinho, bom palpite
Plínio Marcos

O Alvinho encarava um batente que não era mole. Se virava mais que charuto em boca de bêbado por uma grana muito mixuruca, que mal dava pra ele escorar os repuxos. Coisa que não é mole, hoje em dia, com a vida custando os olhos da cara como anda. Muito nego se abilola. Principalmente se o pinta é casado e tem montes de filhos pra sustentar. Às vezes, entra em bobeira e sai falando sozinho. E esse era o lance do Alvinho. Cheio de bronca com a sinuca de bico em que estava, ficava pelos botecos cavernosos e biroscas escamosas fazendo o maior quás-quás-quás da paróquia:

— Estou na piorada. Sei que estou. Mas um dia vira o jogo. Tem que virar. Do jeito que está não pode ser. Vê eu? Mino linha de frente, me atucanando nessa zorra encardida. Tá direito? Tá, não. Eu, Alvinho boa cuca, cheio de embaixada, perdido aqui nessa joça. Entregue às traças. A perigo perpétuo. Um dia tem que mudar.

E como esse papo que ele engrenava não dizia nada a ninguém, o jeito era ele mesmo continuar charlando:

— Nasci pra ser tratado a pão-de-ló. E, no entanto, estou só comendo capim pela raiz. Não dá pedal. Um dia me arrumo. Nem que precise fazer uma desgraça.

Claro que era conversa de bêbado. Nem o mais loque dos ouvintes botava fé. Estava tão escancarado que o bafo de boca do Alvinho era só desabafo que a curriola nem se tocava. E assim foi por anos e anos a fio. O Alvinho, na volta do trampo, parava na tendinha, enchia a fuça de cachaça e chorava as pitangas. Mas até araruta tem seu dia de mingau. Certa tarde, o Alvinho piou na parada e só deu um alô:

— Manda a penúltima.

O português do boteco fez a vontade do freguês. Botou a pinga, o Alvinho virou num gole e deu uma dica que fundiu a cuca de muito xereta:

— Inté. Vou cuidar de mim, que tou na bica pra ficar rico. E, sem maiores explicações, se picou. Largou a patota se badalando no seu destino:

— Não gostei dessa história do Alvinho.

— Nem eu. Ele não é de sair daqui antes das nove.

— Não vai ele, com essa mania de se acertar, entrar em canoa furada.

— Que ele pode fazer?

— Sei lá. Com essa mania de ficar rico, ele pode aprontar.

— Quê? Meter a mão grande em cima dos outros?

— E não pode querer sair por aí?

— Não ele. O Alvinho é de coisa nenhuma.

— Já vi muito papagaio enfeitado endoidar e fazer façanha.

— Isso eu também vi. Mas deixa andar. A cabeça dele é o seu guia. Se arrumar sarna, que se coce.

Mas não tinha chaveco nenhum na esperança do Alvinho. Acontece que, naquela semana, inaugurava a Loteria Esportiva. E como todo o povão das quebradas do mundaréu, desde onde o vento encosta o lixo até onde o vagau pisa devagarinho, o Alvinho via naquele babado a chance de tirar o pé do lodo. E, na cisma firme, se vidrou na loteria. Dali pra frente, até deixou de beber. Nem estrilava mais. Seu negócio era saber quem era o A.B.C. do escambau, o Lagarto da Barra do Catimbó, Nacional do fim da linha e tal e coisa. Então, era tentar a sorte. Sacrificava a família, deixava os mumus sem gororoba, mas arriscava seu palpite. Se alguém botava areia, ele descurtia:

— Que nada! Um dia eu faço treze pontos. Um dia dá eu na cabeceira. E tem um negócio: se eu beliscar uma nota, que nem precisa ser grande, pode ser dividida com um gango, eu nunca mais fico duro. Podem crer. Eu sei de mim. Se meu orixá me valer, eu faço e aconteço. Juro por essa luz que me ilumina.

E por nada desse mundo saía da cola. Estava rente. Fazia doze, onze, nunca menos de dez pontos. E, com essas e outras, o bruto sofria. Torcia. Passava o fim de semana inteiro com um brinco de malandro pendurado na orelha. Só de radinho de pilha, conferindo o resultado. E, remando a catraia em águas barrentas, o Alvinho ficava plantado na boca de espera.

E ficou nesse chove-não-molha até que veio o teste 44. Fanático como era, o Alvinho manjou o cartão e urrou. Se pudesse fazer três triplos, era barbada. Não teria erro. Contou sua grana e se apavorou: só tinha dois pixulés muito sem-vergonhas. No desespero, saiu caitituando pra cima do seu irmão e do seu cunhado. Azucrinou tanto os parentes que conseguiu dobrá-los. Conseguiu a bufunfa, apostou. Ficou na moita e se deu bem. Treze pontos. Uma glória! Treze pontos. Porém (e sempre tem um porém), mais novecentos e sessenta e oito negos, além dele, fizeram os treze pontos. A parte que lhe tocou foi de treze mil e novecentas jiripocas. Como teve que rachar por três, ficou com quatro milhos e caqueiradas. Quase nada. Mas, pra ele, que era salário-mínimo, era uma fortuna. E, sem se afobar, anunciou pros cupinchas:

—Como falei, nunca mais vou ficar duro.

E, mesmo a moçada do pedaço estranhando, o Alvinho meteu os peitos. Jogou o emprego pro alto. Comprou uma bicheira Buick 58, se encheu de roupas e virou outro Alvinho. Se embandeirou. Estava sempre à vontade. Sem ter que levantar cedo pra trabalhar, o pinta ficou um alegrão. E, de tanta folga que ele tinha, despertou inveja. Os bochichos começaram:

— Pombas! Quatro milhos dá pra tanto luxo?

— Sei lá. Eu nunca tive.

— Já faz tempo que ele ganhou na loteria.

— Pra tu ver. Já dava pra ter torrado a bufunfa.

— Principalmente gastando como gasta.

— E sem trampo.

— Deixa ele. Está com a vida que pediu a Deus.

E tanto o povaréu cortou o assunto que a pala bateu nas antenas de um cachorrinho. O cagüeta alertou o tira que era seu chapa. O tira precisava mostrar serviço e se botou na campana do Alvinho. O pesqueiro dele era maconha. Sem rodeio, o tira deu a dura. Flagrou o vencedor da loteria com a boca na botija. E foi cana dura.

No aperto, o Alvinho se abriu:

— Sabe como é. Arrumei a grana, me botei no comércio. 


Agora, ele vai puxar um tempão na galera gelada. Talvez dê pra ele se mancar que grana em bolso de otário atrapalha paca.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Dica do Mestre

Abre o teu olho Papai Joel. Se fritaram o Luxa, o tira gosto, agora, pode ser você. Fica esperto com a prancheta, e o goró. Se liga! Porque senão: é só no forevis!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Desorganizados Venceremos!

Esta semana deixei o caneco aqui meio que pela metade, né. É que toda vez que ia escrever pintava alguma coisa. Começava a digitar, e logo tinha que resolver algo de urgente. Tem hora que penso que essa coisa de escrever, ou tocar violão é quase uma forma de vício. Se não rabisco um desenho ou se não faço um acorde no violão, depois não me sinto bem. Parece um alimento, sei lá. Na época do colégio rabiscava a carteira de cabo a rabo. Desenhos, palavras, números, e o que mais pintasse na minha cabeça. Os meus cadernos se pareciam com paredes pichadas. Mas teve um dia que resolvi mudar. Já na faculdade comprei um caderno novo, e decidi que ia ser diferente. Que iria deixá-lo organizado, e um pouco mais legível. Aí passou uma semana e conseguir manter a palavra. Só que ao voltar do banheiro pressenti algo estranho no ar. Já imaginei merda. E ao abrir o caderno: as capas internas estavam todas rabiscadas. Tinha recado de amiga, desenho, pichação. Aí me disseram que o meu caderno estava comportado demais, e que eu não era assim, mas retruquei que estava tentando me curar dessa coisa de escrever em tudo quanto era canto, e que apesar de estar em crise de abstinência tinha conseguido segurar a onda. Às vezes ia procurar determinado assunto, mas não encontrava no seu lugar de fato. Tinha estatística na parte de sociologia. Psicologia social na parte de Fisiologia. Uma zona do cão. Só que sempre entendi a minha bagunça. Sei onde esta tudo o que quero. Às vezes demora um pouco, mas sempre está lá. Uma antiga chefe certa vez abriu a minha gaveta e levou um susto. Quis me encher o saco por causa da bagunça. Ficou doida da cabeça com tamanha zona. Ali dentro tinha revista de mulher pelada, rolha de vinho, cortador de unha, moeda, palheta de violão. Comecei a rir e paguei um sapo. "Ninguém mandou você abrir a minha gaveta, pô, quem manda aí sou eu. Qualé?!" Ela começou a rir, e me largou de mão. Sou desse jeito. Vasculho, jogo pro alto, fico bravo, mas do nada surge aquele disco, aquela agenda, e tá tudo resolvido. Estava olhando os meus livros na foto aí de cima e sei que ali por perto tem umas cartelas com várias bandas de rock. Todas daquela revista antiga, chamada: Bizz. Sei que tem uma cartela com os The Doors. Vou procurar e quando achar publico as frases do Jim Morrison aqui.