quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Velho Camus!


O Compromisso Estraga o Escritor

Gosto mais dos homens que tomam um partido do que das literaturas que tomam partido. Coragem na vida e talento nas obras já não é nada mau. E, depois, o escritor só é comprometido quando quer. O seu mérito é o movimento. E se isso deve passar a ser uma lei, um ofício ou um terror, onde está então o mérito?
Parece que escrever hoje um poema sobre a Primavera é servir o capitalismo. Não sou poeta, mas fruiria sem rebuço uma semelhante obra se ela fosse bela. E se o homem tem necessidade de pão e de justiça, e se é preciso fazer o necessário para satisfazer essa necessidade, não se deve esquecer que ele precisa também de beleza pura, que é o pão do seu coração. O resto não é sério. 
Sim, eu desejá-los-ia menos comprometidos nas suas obras e um pouco mais na sua vida de todos os dias. 

Albert Camus, 'Cadernos'

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Braço a torcer

Daniel Melim - ABC Paulista, SP
A melhor frase veio quando não passava nada pela sua cabeça. Disse sem motivo algum, sem esboçar nenhuma emoção. Quando fechou a boca escutou um elogio na mesma sequência. Não quis falar mais nada. Apenas se calou. Ficou ali no seu canto fumando um cigarro. O mesmo elogio deu as cartas novamente, só que agora veio com mais ênfase e um gesto pra afirmar o seu brilhantismo. Continuou quieto, sem mover uma palha, ali no seu canto dando uma tragada no cigarro. O silêncio chegou sem pedir licença. Dava até pra escutar o som das moscas no ar. Mas do elogio surgiu uma queixa de que ele não sabia retribuir o que ganhara. E nesse momento o pai fez questão de mostrar que era o seu PAI e ponto final. Do tipo: pegue o elogio, e não discuta. Mas o filho não disse aquela frase com intenção de ganhar nada, apenas respondeu o que lhe foi perguntado, somente isso, não imaginava que pudesse vir um elogio, mas ele veio, e é por isso que preferiu continuar do mesmo jeito de quando o seu pai o chamou pra conversar.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Num dia qualquer


Teve um momento que estiquei os pés
Estava numa preguiça braba
Aí fiquei encostado na poltrona esperando a próxima notícia
Por causa da greve da polícia
Várias pessoas foram mortas sem boletim de ocorrência
Muita confusão no meio da rua e um bate boca implacável
Um homem se defendia a todo custo 
Enquanto alguns analisavam a situação de longe
Fiquei esticado na poltrona a procura do controle remoto
No outro canal passava um programa de culinária
Apertei uma tecla
E no canal ao lado passava um desenho do pica-pau
Avancei mais uma vez
Agora um pastor dizia algum trecho da bíblia com o semblante nervoso
Parecia puto de raiva!
Não deu pra saber o por que de tanto nervosismo
Mudei novamente
E num programa alguém contava alguma besteira sobre esses famosos da última hora Que papo sem graça!
Encontrei um jogo de futebol
Deixei um pouquinho até saber o placar
0 X 0
Na MTV um cara cantava uma letra boba e tinha o mesmo jeito do pastor
Chega de nervosismo!
Mudei aleatoriamente e encontrei umas gostosas dançando num programa de auditório
A música era uma porcaria, mas as danadas estavam com tudo
Depois o boboca do apresentador começou a querer ser descolado e fez umas graçinhas para me animar
Quer dizer: animar o telespectador
Esperei mais um pouco pelas meninas
Se não fossem por elas aquilo ali não duraria uma semana
Mas infelizmente as meninas não apareceram 
Desliguei a TV e fui tomar água

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Loki?!



"Aqui estão os loucos. Os desajustados.
Os rebeldes. Os encrenqueiros.
Os que fogem ao padrão.
Aqueles que não se adaptam às regras,
nem respeitam o status quo.
Você pode citá-los ou achá-los desagradáveis,
glorificá-los ou desprezá-los.
Mas a única coisa que você não pode é ignorá-los.
Porque eles mudam as coisas,
eles empurram adiante a raça humana.
E enquanto alguns os veem como loucos,
nós os vemos como gênios.
Porque as pessoas que são loucas
o bastante para pensarem que podem mudar o mundo
são as únicas que realmente podem fazê-lo".

(Jack Kerouac)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Na Hora Marcada


De volta a alguns hábitos, achei um banco, e decidi largar o que estava pensando na hora. Só sei disso porque me concentrei na paisagem lá fora, nas árvores, nos prédios. Então notei que estava sentado na cadeira reservada. Olhei ao redor e ninguém parecia se incomodar. Entrou uma menina com óculos escuros, e em seguida uma menina de cabelo rosa. A de óculos escuros parecia cansada. A outra sorria pra tudo quanto é lado. Achou uma cadeira lá no fundo. Só vi o cabelo rosa em destaque no canto. O ônibus começou a chacoalhar. E o motorista acelerava como se estivesse domando um rinoceronte. Esses caras devem ter uma cadeira cativa no céu. O ônibus encostou no ponto, e entrou uma mulher bastante gorda com uma criança no colo. Cedi o meu lugar. Opa! O lugar é dela por direito. Criança pequena num baú velho deve ser complicado, ainda mais com um moleque hiperativo daquele jeito, o pivete não parava quieto. Olhei pra ele e sorri. Se acostuma pequeno... Tenho certeza que daqui uns anos você vai estar puto de raiva. Se divirta enquanto é tempo. Ele sorriu pra mim alegremente. Me senti bem. A menina dos óculos escuros desceu no Shopping Center. Talvez fosse trabalhar. Encontrei um banco vazio à direita. Agora uma loira brincava com o pequeno no colo da mãe que eu tinha cedido a cadeira. Que loira adorável! Me lembrei da Vivi Fernandes. Tirando a sacanagem, pode até parecer brincadeira, mas a loira lembra ela mesmo. Por isso que me veio essa comparação. Moleque de sorte! Saudade de ser criança. É por isso que digo novamente meu pequeno: aproveita enquanto é tempo. Daqui uns dias você vai tá pagando passagem e ninguém vai olhar na tua cara. Nem mesmo te fazer um cafuné gostoso. Não é todo dia que esse ônibus chega desse jeito. Pelo ao menos hoje passou na hora.         

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Sábado de Carnaval


Sei dos caminhos que chegam, sei dos que se afastam
Conheço como começa, como termina o que faço
Só não sei como chegar
Ao nosso próximo passo 

Ontem, meu bem, contei até cem
Hoje já não sei
Hoje já não sei 

Ontem, meu bem, contei até três
Hoje só pensei
Hoje só pensei 

Sei que me encontro sozinho
Sei também quando me acho
Sei tudo o que você acha
O buraco é mais embaixo
Foi um achado te achar
Perdido acho diacho 

Meu bem, porque não vens que tem
Ontem eu pensei
Ontem eu pensei

(Itamar Assumpção e Alice Ruiz)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

"E a essa altura do fato nem fumaça tem cano de descarga"

Eu e a minha mania de colocar apelido nos outros. Não faço isso por maldade, ou pra difamar. É só uma traquinagem de moleque. Só isso! Apelidos com nomes de pessoas que admiramos, só funcionam pra quem a gente tem respeito. O garçom do bar agora se chama: Adílio, meia-direita do flamengo nos anos 80. É só berrar que ele atende o pedido num instante. Aparentemente ele até gostou da brincadeira. Acho que o seu nome oficial deve ser Pedrito, ou algo por aí, e isso quer dizer que Adílio soa bem melhor. O cara é gente boa. Tem um doidão que anda pelo comércio resmungando sem parar que virou o Sid Vicious. Aliás, ele e a sua esposa ganharam a alcunha de Nancy e Sid. Os dois são barra pesada. Outro dia vi ele na mercearia andando de um lado pro outro com a cara vermelha. A Nancy nem tinha dado sinal de vida. Pelo visto tinha sumido do mapa. O punk rock não estava com cara de bons amigos. Naquele dia o pau deve ter quebrado. Tem um funcionário público que é meu amigo de bar. Até hoje não sei o nome dele. E ele também não sabe o meu, mas o camarada sempre vem conversar comigo. Pouca gente vai com a cara dele. Não gostam da sua presença. Tenho a impressão de que isso acontece porque ele sempre anda meio doidão, meio com a cara amarrada. Pra falar a verdade o Hunter nunca me encheu o saco. Hunter! Bom... Esse é o seu apelido. Coloquei em homenagem ao Hunter Thompson. Ele é a lata do cara. Toma sempre uma dose de conhaque até a boca do copo. É daqueles boêmios que tem o fígado do Wolverine. Às vezes ele tá numa deprê braba e entra de sola no destilado. Mas além do pai do jornalismo gonzo, o meu amigo também lembra o personagem - Elias do filme do BelmonteMeu Mundo em Perigo. Quando ele chega nesse naipe a semelhança é assustadora. O tema da conversa é praticamente o mesmo. Impressionante! Já vi o Hunter com aquela mesma carga emocional. Mergulhado até o pescoço. Tinha tomado um soco no olho direito. E talvez por isso que algumas pessoas o evitava. Tinham um pé atrás com ele. Besteira! Os otimistas podem ser muito mais nocivos. Ele, pelo ao menos, consegue ficar em silêncio, e os felizes-para-sempre nunca fecham a matraca. Acham que a sua felicidade deve ser compartilhada a qualquer custo. Provavelmente isso seja efeito dessa maldição da internet: compartilhe os seus melhores momentos... E nessa tradição teve um dia que ele chegou de óculos raiban e uma camisa florida. Ficou ainda mais parecido com o doidão do Thompson. Parecia que estava em Porto Rico enchendo a cara de rum feito o diário de um jornalista bêbado. Pra falar a verdade parece que aquela camisa espalhafatosa lhe fez um bem danado. Deu um chega pra lá no seu mundo em perigo. Depois disso ele sumiu da área. Será que fez como o seu xará de medo e delírio em Las Vegas, e colocou o pé na estrada? “O porta-malas do carro mais parecia um laboratório móvel do departamento de narcóticos. Tínhamos dois sacos de maconha, 75 bolinhas de mescalina, cinco folhas de ácido de alta concentração, um saleiro cheio até a metade com cocaína e mais uma galáxia inteira de pílulas multicoloridas, estimulantes, tranquilizantes, berrantes, gargalhantes... além de um litro de tequila, outro de rum, uma caixa de Budweiser, meio litro de éter puro e duas dúzias de amilas”. Ah! Já ia me esquecendo. Também tem o Louis Ferdinand Celine, ou para os íntimos: Sr. Celine. Tá aí outro apelido apropriado. O velho tem pinta de ranzinza, anda sozinho e fica esperando o dono do bar abrir a porta no domingo de manhã. Ali não tem carnaval. Nem mesmo aquele sorrisinho cínico pra relaxar. O velhote leva o seu radicalismo ao extremo. Não conversa com ninguém. Num dia de calor, enquanto todos estavam sentados na parte da sombra e água fresca, ele bebia a sua cevada na parte do sol, ali prostrado na cadeira. Depois caminhava lentamente até o banheiro e logo voltava para os seus pensamentos. A cerveja esquentou e ele não deu nenhuma pinta de que iria reclamar. É profissional. E a vida segue.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sem título

O baixista se emocionou com os braços do púbico nesse andróide paranóico. Bela canção!