sábado, 29 de dezembro de 2012

O mundo continua

Pra fechar o ano, aí vai umas tirinhas do Caco Galhardo. Todas elas estão no blog dele no link à direita. São geniais!! Falou moçada!!!!!!





sábado, 22 de dezembro de 2012

Fragmento

Henry Miller e Twinka - 1975 Foto.: Mary Ellen
"Ninguém avança pela vida em linha reta. Muitas vezes, não paramos nas estações indicadas no horário. Por vezes, saímos dos trilhos. Por vezes, perdemo-nos, ou levantamos voo e desaparecemos como pó. As viagens mais incríveis fazem-se às vezes sem se sair do mesmo lugar. No espaço de alguns minutos, certos indivíduos vivem aquilo que um mortal comum levaria toda a sua vida a viver. Alguns gastam um sem número de vidas no decurso da sua estadia cá em baixo. Alguns crescem como cogumelos, enquanto outros ficam inelutávelmente para trás, atolados no caminho. Aquilo que, momento a momento, se passa na vida de um homem é para sempre insondável. É absolutamente impossível que alguém conte a história toda, por muito limitado que seja o fragmento da nossa vida que decidamos tratar". Henry Miller

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Tarde de Quarta-feira

Pra não deixar o bate papo do boteco tedioso preferi escrever esse texto
(Ontem a cerveja estava trincando de gelada)

Talvez a palavra que possa trazer mais dificuldade pra quem quer se expressar seja uma só: linguagem. Ela vai instrumentalizar o que tem a se dizer. E a maneira de como se dizer algo tem a sua razão de estar ali. Quando se tem domínio da sua própria linguagem, a palavra se torna uma espécie de arma. Mas como não é agradável entender a palavra como arma, vou substituí-la por ferramenta. Uma ferramenta de poder infinito, mas que também tem os seus abismos. O artista assim como o homem comum persegue a sua linguagem com o intuito de manter-se vivo, e em contato com o outro. A diferença é que o homem comum não tem que prestar contas com a arte, e talvez por isso que muitos artistas se sintam com essa missão tola de tentar revelar o que não se vê, ou se sente como se fosse um trabalho indispensável. Não quero jogar no lixo o poder que a arte tem de interferir na nossa vida. É que pensá-la numa mão única impõe o que não se entende como um problema a ser combatido. O que vai prevalecer? O purismo artístico ou a liberdade niilista? Independente de qual o caminho a seguir, não se pega bem encarar a arte como instrumento evangelizador. 

A arte não é pra isso, se existir algum propósito que ele seja não-diretivo. Se algo mudar pras pessoas, ou pra sociedade é por que o artista conseguiu mexer com a sua própria vaidade. Colocou ela a prova. É como aquele suicida que joga um galão de gasolina no próprio corpo e ascende o fósforo. Ou aquele amante que de repente diz “Eu te amo” na frente de todo mundo sem medo de ser idiota. Existem razões que nunca vamos descobrir, e nem adianta especular. O escritor vai ter a sua palavra, a fotografa o seu click, e o lixeiro a sua vassoura. A arte está exclusivamente na mão de alguém? Do profissional diriam alguns, mas vou citar outra vez o poeta Luís Garcia Montero

Numa entrevista no ano passado ele arrematou essa ideia de maneira brilhante. 

“Creio que a poesia jovem espanhola vive um bom momento, ela tem uma vitalidade difícil de encontrar na Europa. Não é raro que um poeta espanhol venda cinco, seis mil exemplares porque a poesia está conectada com as pessoas. Creio que, muitas vezes, o primeiro culpado de não se ler poesia são os próprios poetas. Quando eles escrevem numa linguagem que as pessoas não entendem, sobre coisas que não têm nada a ver com a vida das pessoas, não podem esperar que as pessoas leiam poesia. E como o capitalismo é muito positivista, muito industrialista, ele não se interessa pela poesia, aí a poesia acaba não se interessando pela sociedade e os poetas se colocam numa postura de escrever numa linguagem difícil, sobre coisas que nada têm a ver com a sociedade. Isso já deu poesia vanguardista muito boa, mas também afastou a poesia da sociedade. Recuperar com dignidade poética a linguagem das pessoas é voltar a crer na comunidade, é recuperar a linguagem comum do espaço público onde a rebeldia da consciência pode encontrar um sonho coletivo capaz de se opor a toda essa perda de valores democráticos da sociedade contemporânea”. 


Então ao ler uma matéria dizendo que a criação poética é obrigatoriamente para poucos, já que contraria o senso comum é muito triste de se aceitar. A criação pode até ser para poucos, mas o senso comum não deve ser subestimado. A linguagem do dia a dia é viva, e não há como se negar isso seja qual for a formação do artista. Tanto faz se ele venha de uma escola acadêmica, ou das ruas. Aliás, ainda existe alguma escola? O único dever do artista é mudar-se a si mesmo. Não tem ideia mais besta do que querer mudar o mundo. Tenho vários amigos e amigas que escrevem, mas que se sentem incapazes de mostrar um risco sequer, por receio de serem mal interpretados, simplesmente, por estarem fincados até o pescoço numa instituição acadêmica. Tá na hora de dar um chute na porta, moçada! Esse negócio de ser aceito é uma tremenda bobeira. Pode ser um fardo também. Não existe jeito certo ou errado. Como diria o Bukowski: "escrever é uma forma de lamento. Alguns simplesmente lamentam melhor que os outros". 

Na vida: o senso comum, o sexo, a fome, a covardia, a pornografia, a falta de pudor, o carinho, o respeito, o palavrão, o desprezo, e o que mais aparecer pela frente, vai servir de material pra arte fazer cócegas na sociedade e descobrir se existe essa tal democracia mesmo. O Montero foi bastante feliz na sua colocação. Recuperar com dignidade poética a linguagem das pessoas traz pra vida. Agora como lidar com essa dignidade poética?  Cada um lapida a sua obra conforme deseja, e isso tem que ser respeitado, ora. Por que serve de reflexo pra sociedade também. É uma espécie de contrapartida. O ideal a ser alcançado pode servir de combustível, mas a arte que se nega a olhar pra vida, se não morrer de madura, vai agonizar na praça com as melhores intenções.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O Motorista

Um pequeno ajuste na engrenagem, e uma calibrada no motor. A caranga ia ficar no jeito. Então abriu uma garrafa de cerveja e começou a desmontar as peças. Cada parafuso ganhava um cuidado especial. Nunca tinha desmontado um na vida, mas não parecia ser difícil. Foi ajeitando todas elas de acordo com o desmonte. Logo emendou um Motorhead no som da sala. A vizinha lá do outro lado da grade olhava de cara feia. Quando começou a tirar o sabão do capô, o Led Zeppelin tomou de assalto com Black Dog. Olhou as peças no chão, e fez uma careta. Nisso o celular tocou. Iria buscar as meninas às onze da noite. O negócio era tocar violão numa quebrada da cidade. Ao confirmar que levaria o baseado ouviu umas risadinhas do outro lado da linha. Abriu outra garrafa de cerveja, e encheu o copo. O vizinho da casa da esquina apareceu para bisbilhotar. Veio com um papo de que o dia ficaria melhor se estivessem assando uma carne. 

O dono da caranga topou na hora, e o vizinho da casa da esquina foi buscar o resto de algumas peças de carne, frango, linguiça, e metade de um tubo de cachaça na casa da mãe. Queria dar uma força ao amigo. Ascendeu a churrasqueira, e ficaram ali batendo papo. O som já estava no máximo quando a brasa começou a ganhar força. O vizinho da casa da esquina só ficava olhando sem se intrometer na bagunça. Também porque o cara não entendia porra nenhuma de carro. Então era melhor não atrapalhar. Aí ele ficou ali de frente pra churrasqueira com o copo de cerveja na mão. Num instante, a filha da vizinha do sobrado de dois andares surgiu na conversa. Os dois estavam esperando que ela aparecesse com aquele shortinho jeans. 

Quando o dono da caranga começou a limpar a caixa de câmbio: Surfin’bird, do The Trashmen, deu as cartas na sua versão original. O vizinho da casa da esquina começou a rir do som da banda. Nunca tinha escutado antes. No início achou estranho, mas logo já estava batendo o pé no chão. Então aproveitou o embalo e virou outra dose de cachaça enquanto a coxa de frango pingava gordura na brasa. Nessa hora a casa já estava numa fumaça miserável. A caranga estava toda desmontada. Iria ficar no jeito pra mais tarde. No som tocava She’s the one dos Ramones num show ao vivo de 1980 em Paris. As caixas de som estavam enfurecidas e a garagem agora parecia uma arena de rock and roll. 

Fez isso pra atazanar a vizinhança. Um dia antes, o vizinho da casa da direita tinha escutado música sertaneja o dia inteiro, então quis dar uma resposta. Nada é de graça. O churrasco começou a cheirar quando o vizinho da casa da esquina batia cabeça com a faca no ar. “Ramones é bom pra caralho”! As pessoas que passavam pela casa olhavam intrigadas. Rock and roll?! Que música mais agressiva é essa? É barulho demais. E ainda dizem que a nossa música é ruim. O vizinho da casa da esquina ascendeu um cigarro, virou o boné pra trás, e perguntou se o brother precisava de ajuda no carango. “Não! Tá tudo tranquilo”. A filha da vizinha enfim apareceu para animar o sábado. É ela! Aí os dois foram até a frente da casa. Só que a moça não estava com o tal shortinho famoso. Estava de saia. Mini-saia! E caminhava até o início da rua. Por incrível que pareça nesse momento o Ramones tocava uma balada. A trilha deu certinho com aquele rebolado inocente. Dois minutos de beleza. O vizinho da casa da esquina ainda ficou esperando ela voltar. Não voltou. O dono da caranga olhou as peças no chão, e fez aquela mesma careta. Pensou: não posso ficar enrolando. Preciso terminar antes da noite chegar, senão hoje não tem farra. Boa parte do motor continuava esparramada pelo chão. Era preciso se concentrar em cada peça, então pegou a lata de graxa, uma estopa, um tubo de óleo e uma chave phillips. A carne começou a ficar no ponto. Daí veio uma lasca, uma dose & outra cerveja para amaciar o estômago, e eis a montagem! Somente um pouco de concentração e o motor estaria tinindo. Foi quando a birita começou a fazer efeito. Precisou molhar a cabeça. 

Mas antes de ir ao banheiro colocou um disco do Blues Etílicos. Encheu mais um pote com querosene, e começou a lavar o carburador. Pronto! Tá limpo! Agora é cada peça no seu lugar. Não tem erro! O vizinho da casa da esquina resolveu fechar o bico por consideração. Tava na cara que o dono da caranga não tinha a manha. Que aquilo ali ia ser pedreira. Ajustar um motor sem experiência é fatal. Foi quando analisou a churrasqueira e resolveu tirar o espeto das coxas de frango, cortar a carne, e colocar mais carvão. O cheiro estava maravilhoso. Já tinha tomado conta da rua. Tanto é que apareceram uns dois ou três desocupados atrás de uma boquinha.  O dono da caranga parecia confiante. As peças estavam se encaixando. Quando chegou na metade do trabalho, o doidão percebeu que algumas peças haviam sobrado, e ficou puto por que não sabia aonde deveria encaixá-las. O vizinho da casa da esquina quis dar um palpite, mas preferiu ficar na sua.  Preferiu ir na sala trocar o som. Colocou Rolling Stones. O dono da caranga ao escutar Under my thumb ganhou outro fôlego. Sorriu! Quis ficar calmo. Mas logo começou a escurecer e nada da porcaria do motor se ajustar. 

Então largou de mão e desistiu de querer sabe aonde aquelas malditas peças deveriam ser colocadas. Aí só de sacanagem resolveu ligar o carro. Se explodisse! Foda-se! Depois de uma tarde inteira naquela trabalheira dos diabos, só queria ver que merda ia dar. Colocou a chave na ignição e ligou. O danado roncou forte. O vizinho da casa da esquina deu uma gargalhada de felicidade. Já estava chapado. Daí os dois ficaram rindo da situação. Onde já se viu um carro funcionar faltando peças? Acelerou com vontade, e escutou uma espécie de tiro, como se fosse de uma escopeta. Tirou o pé imediatamente. Nisso o vizinho da casa da esquina querendo mostrar serviço disse que poderia ser o platinado. No escapamento só se escutava os pipocos. Então o dono da caranga resolveu desligar. Catou as peças que sobraram e jogou no canto da garagem. Também já estava no grau. Quando anoiteceu, rezou para que o carro funcionasse. Deu a partida e bingo! Que possante de fibra! Garoto bom de briga. Mesmo faltando peça ainda estava funcionando. Trancou o portão e acelerou devagar até a entrada da rua. 

O vizinho da casa da esquina estava todo arrumado. Fez sinal e perguntou qual era a boa da noite. O dono da caranga resolveu convidá-lo pra farra. O porra estava sem rumo mesmo, então quis convidá-lo por consideração. Aí os dois foram atrás das garotas. Vinte e cinco minutos depois os faróis do carro se apagaram. A luz do painel também sumiu. O dono da caranga fez aquela mesma careta, só que agora com um ar de preocupação. Tirou o pé do acelerador, e parou no acostamento.  Desligou o carro, apagou os faróis, e ligou novamente. A luz do painel continuou apagada. Resolveu esperar um pouco. Um minuto. Três minutos. Ligou os faróis. Não funcionaram. Deu um murro no painel. Uma porrada forte. O vizinho da casa da esquina levou um susto, mas começou a rir. O dono da caranga ficou brabo, e mesmo assim resolveu seguir em frente. 

Fez um longo percurso até a casa das meninas. Precisava desviar da polícia. Não dá mole pro azar. Provavelmente, eles estariam só esperando algum vacilão pra darem o bote certeiro. Com as meninas na caranga foram para uma quebrada da cidade. Nesse momento tocava: Tora Tora dos Raimundos. Ao dobrar uma quadra infelizmente deu de cara com uma fila de carros. Puta que pariu! Blitz da polícia militar. O carango só tava funcionando meia boca, e agora? As meninas gritaram para que ele procurasse algum desvio. Já era! A parada era enfrentar. O vizinho da casa da esquina ficou pálido. O dono da caranga respirou fundo e deu uma risada de sacanagem, os faróis tinham voltado ao normal. Que carro de fibra! Na hora H, ele não ia deixar o seu brother em apuros. Quando chegou a sua vez de passar pelos cones, o primeiro policial fez sinal de que poderia passar, mas logo à frente o segundo mandou encostar à direita. Que coisa maluca! Mandou encostar ali na frente. Mas cadê aquela parada de furar os pneus? Ué! Tá lá atrás. Por que então parar na frente da blitz? Decerto porque a fila de carros já tinha ultrapassado o seu limite e eles queriam grampear sem dó nem piedade. 

O dono da caranga encostou e ficou olhando o soldado se aproximar. Quando ele encostou na porta e pediu o documento, o motorista não conseguiu conter a risada, e arrancou com a caranga acelerando até o talo. Ainda viu o policial atordoado com a avenida totalmente livre à sua frente. O vizinho da casa da esquina só balbuciava: “A minha mãe vai me matar”. No som tocava Ramones  enquanto a menina no banco de trás enchia os olhos de lágrimas. “Seu louco! Para essa porcaria agora! Seu babaca!”. Parece que a única pessoa que estava gostando da farra era a menina do banco da frente. Ela sempre o mantinha informado. “Olha a sua esquerda! Toma cuidado que eles estão chegando”. O dono da caranga sorria com o pé no acelerador. Nunca tinha visto um carro tão valente. Por que mesmo faltando várias peças, o danado parecia voar como um foguete. E foi assim até o final.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Copa

Tem essa matéria antiga na Revista Trip sobre a Janis Joplin quando ela aportou no Rio de Janeiro em 1970. Muito bacana. É só clicar na foto, e depois ir na sequência no link: Home.
Janis Joplin

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer

Por: Rodrigo Ferreira
Ontem enquanto tocava no boteco me disseram que o Niemeyer tinha acabado de falecer. Aí fiquei pensando num equívoco que cometi por anos, e anos seguidos. É que no 2º grau, eu estudei no Centro Educacional Elefante Branco, e por ignorância sempre achei que ele tinha projetado aquele prédio. Digo ignorância por que deveria ter pesquisado antes de pensar que ele de fato teria desenhado o colégio. O prédio é esquisito e sempre me causou agonia. Tem algumas salas que não tem as janelas laterais. Elas ficam no teto. Consegue imaginar? No teto. A sensação é terrível. Você se sente como se estivesse dentro de um labirinto. Claustrofobia de primeira! Dos três anos que passei por lá, teve um que não tive escapatória e caí nessa cela. Acho que foi no 2º ano. Meses e meses, rodeado por paredes cinzentas e rabiscadas. Lembro que em um dia de nota baixa, e falta de perspectiva, eu amaldiçoei o Niemeyer. Velho maluco! Como pode fazer uma prisão dessas? Onde já se viu, pô? Sala de aula tem que ter janela na altura do pescoço. E passei anos cometendo esse erro. Até que anteontem resolvi pesquisar (em cima da hora) e descobri que o arquiteto do Elefante Branco é o José de Sousa Reis. Pô! Niemeyer! Desculpa a minha idiotice. Erros acontecem. Você não foi um gênio, você é um gênio, e a sua marca tá fincada na história. Não vou puxar o teu saco agora. Seria muita falta de originalidade tomar esse rumo. Agir da mesma forma dos oportunistas de plantão. Pegar o bonde com a sua morte. É até engraçado as declarações que tenho lido na mídia. Não vou citar aqui, mas tem alguns políticos da cidade que não perdem por menos, e tentam criar uma comoção que soa besta. Fico pensando nas entrevistas antigas do Niemeyer. Quando leio as declarações desses caras, elas se tornam ridículas. Procurem as entrevistas antigas. Ele tinha opinião e falava com franqueza. Nessa época de estudante cheguei até pensar que seria arquiteto também. Estudei com afinco e só descobri que nunca seria um quando fui fazer a prova prática lá na Unb. Quando peguei o caderno de provas comecei a rir. Aquilo não me fazia sentido. Onde estava com a cabeça? Daí levei na galhofa. Lembro que teve uma questão que tínhamos que desenhar um modelo vivo. Graças a Deus que apareceu uma menina em cima do tablado e eu jurei que ela iria tirar a roupa, mas não tirou. E me desconcentrei por que a todo instante me vinha à cabeça: agora ela vai tirar, é agora, é agora, é agora, e a porcaria do desenho não saia de jeito nenhum, e cada vez mais, só piorava a minha situação. Quando terminei levantei a folha para conferir de longe. Tinha ficado uma merda. Meses e meses de empenho em vão. Adeus arquitetura. Fui embora com um sorriso besta na cara por ter descoberto que aquilo não era a minha praia. Até hoje imagino a menina do tablado nua. Aprendi com o Niemeyer que a beleza das curvas da mulher deve ser o combustível da invenção criativa. E ontem ao tocar no barzinho fiquei pensando nisso. Foi legal voltar a tocar. O bar foi reaberto por esses dias. E não sei se o nome vai continuar o mesmo: cidade livre. Nas paredes você encontra fotos antigas da construção de Brasília. E ontem foi um clima diferente. O Niemeyer morto, a cerveja gelada, o whisky em pequenas doses, e a música comendo até as quatro da matina. Um enterro que se preze tem que ter várias piadas nas conversas paralelas. E vocês arquitetos, tomem cuidado ao desenharem colégios públicos. Sala de aula deve ser um lugar tranquilo, pelo ao menos, no campo visual. Pra arrematar, na figura aí em cima, vai a minha singela homenagem por você ter feito Brasília. Só precisei de um ponto de fuga. Descanse em paz grande mestre!

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Quando o scotch dar as cartas


Só tinha uma garrafa de whisky pra festa inteira. Jack Daniel’s original. Várias pessoas tomavam com gelo. Eu só tomo caubói. E fiquei um pouco triste. Se todos tivessem essa mesma atitude a garrafa ia demorar mais um pouco pra acabar. Então a única solução que arranjei foi colocar doses cavalares no meu copo. Afinal é sacanagem encherem o copo até o tampo por causa do gelo, e o meu copo ficar com uma mísera dose caubói. A porcaria da garrafa só durou 15 minutos, e ainda bem que consegui 4 doses cavalares. Outra vez num sábado a noite, lá na Concha Acústica, ela me deu de presente uma garrafa de Johnny Walker zerada. Bebi até tarde. Quando estávamos vindo embora, não sei o que fiz com o copo que ele caiu entre os bancos molhando a marcha, e o freio de mão do carro. Ela ficou puta da vida.
- Eu não suporto mais, você jogar whisky no meu carro.
- Poxa, você não sabe o quanto eu tô mal por ter perdido a última dose.
- Isso é palhaçada.
- Ninguém mandou você me dar essa garrafa.
- Ah tá!
Voltamos em silêncio. E eu pedi para que ela parasse num posto de gasolina só pra comprar uma lata de cerveja. Mas toda vez que o posto se aproximava, ela passava direito.
- Você já bebeu demais.
- Puta merda! Agora eu vi mesmo. Tá querendo bancar a minha mãe, pô.
- CHEGA!
- Se você não parar esse carro, a coisa aqui vai esquentar.
- Cala a boca!
- Ah! Então vamos lá!
- Rodrigo! Fecha essa porta!  
- Quando você passar do lado do carro que for, eu vou abrir pra acertar com gosto. Para num posto agora.
- Idiota!
- Quer alguma coisa?
- ...
- Tá nervosinha?! O gato comeu a língua.
Quando volto, não vejo mais o carro. Procuro ao redor e nada. Penso que vou ter que voltar a pé, mas de repente ela aparece novamente com um sorriso cínico.
- Achei que tinha ido embora.
- Fui calibrar os pneus.
- Mulher de pulso! É isso aí.
- Entra logo e vamos embora.
- Meu bem eu vou te falar um negócio. Quando se bebe whisky primeiro, a cerveja demora a ficar no jeito, mas quando chegar o próximo posto, você encosta que eu já tô melhor.
- Não sou a sua motorista.
- Cadê aquela menina que adora me dar uns presentes? 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sem destino


Meio sumido aqui do blog. Tenho vagabundado pela internet. Quando vou escrever algo invento de escutar um disco, ou ler uma matéria na hora, aí acabo largando de mão. Nessas minhas andanças pelos blogs, colunas, e outras quebradas, notei que a internet não tem mudado muito, mas tem coisas interessantes. As pessoas ficam putas da vida com determinadas opiniões e brigam para se mostrarem antenadas, ou que a suas razões devem ser ouvidas. Vejo sites que são bombardeados e fico pensando por que essas pessoas não montam um blog, e de lá vão mostrando o que pensam ao invés de passarem por um papelão desses. Algumas vezes essa raiva toda soa meio boba. Mas a internet tem coisas legais, como por exemplo, a educação. Achei que ela não existia mais. Li uma matéria sobre o roqueiro Serguei e pensei que ele seria imediatamente sacaneado, mas não foi isso que aconteceu. Bacana! Fui lá bisbilhotar os comentários, e várias pessoas falavam detalhes bacanas a respeito dele, sem essa de usar o anonimato da rede pra hostilizar, ou qualquer outra merda. Então ainda existe educação e respeito. Pô! Muito bacana. O meu fone de ouvido tá impossível: Beatles, Stones, Henry Mancini, The Jesus Mary in Chain, Jards Macalé, Mombojó, Feist, Nei Lisboa, então assim que ele cansar devo escrever o próximo post. 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Nas Manchetes

Como são as coisas... Pela manhã li a crônica do Veríssimo sobre futebol, e agora vejo que ele está internado em estado grave. Que está com uma infecção generalizada. Isso é triste! Torcida aí pra ele sair bem dessa pedreira. Assisti a um show da banda dele aqui em Brasília na Expotchê, e o cara manda muito no saxofone.  Uma noite bacana com vinho, comida gostosa, e música de primeira. Melhoras! Aí vai um John Coltrane pra agitar a torcida num pensamento forte, e positivo.

Final de campeonato só ano que vem


O time dos sonhos
E aí? Como está o seu time nesse fim de Brasileirão? O meu mengo escapou do fantasma do rebaixamento. Ufa! Um problema a menos. Esse ano foi difícil de assistir algumas partidas. O time em muitos momentos se comportou como time de várzea. Mas tá perdoado. Enquanto não mexer na casa de maribondos (diretoria e toda a cartolagem) o time vai continuar nessa mesma levada, sem rumo. Uma hora você acha que está no caminho, e de repente uma maré de azar se instala, e não vai embora . Flamenguista! Prepare o seu coração para 2013. O time é grande, mas trabalha mal em todos aspectos.

Abaixo vai uma crônica do Luis F. Veríssimo que está no jornal Estadão de hoje. Sugiro que leia primeiro a crônica (abaixo) e depois volte até esse ponto aqui e finalize o restante do parágrafo. Vai lá! Não concordo com a tese dele. Se o time terá que se submeter às regras amadoras da série B é por que durante o ano inteiro se comportou de maneira amadora. E nesse ano, o Palmeiras não foi nem um pouco profissional. Foi terrível! A série B é truculenta e mostra como o futebol brasileiro é de fato. Acho que o time que cai ali dentro, ele vai ter que mostrar se a sua tradição, e o seu tamanho realmente tem força pra manter o seu respeito intocável. Não tem essa de clube do bolinha. Time grande ou pequeno tem botar a cara à tapa, sem medo, e com muita coragem. Seria sacanagem, só por causa da tradição e do tamanho, continuar num posto privilegiado por incompetência. Pra mim incompetência no futebol é sinônimo de degola, ou se você quiser: segunda divisão. Ou se for mais incompetente ainda: terceira divisão. E assim até o fim do buraco. Seja quem for. Gosto dos textos do Veríssimo, e da sua obra, mas futebol é assim mesmo, seja em crônica ou num papo no boteco, cada um tem a sua tese. Desce uma gelada e outra dose de São Francisco aí, Seu Léo! (o irmão gêmeo do Charlie Watts dos Stones)    
Uma Potência que Cai
Por.: Luis Fernando Veríssimo - Jornal: Estadão

Fluminense campeão por antecipação, Palmeiras na segunda divisão. O que pior se espera de um campeonato de pontos corridos e com bloco de rebaixados aconteceu: um líder disparado que torna as últimas rodadas supérfluas, a não ser para quem ainda busca consolo na classificação para uma das competições satélites, e uma potência que cai.
Defendo, solitariamente, a tese de que deveria haver uma espécie de liga de intocáveis, clubes que por sua tradição e pelo tamanho e poder econômico da sua torcida estariam imunes ao vexame do rebaixamento. Isto não eliminaria o ascenso e o descenso, ainda haveria lugar para os times que vêm de baixo subirem na vida. Apenas os grandes clubes, por pior que fossem nos campeonatos, e por pior administrados, não correriam o risco de cair. Estariam, por assim dizer, protegidos da sua própria incompetência.
Minha tese não é elitista nem sentimental. Se baseia em frio raciocínio capitalista. Qual é a lógica de um negócio que de uma hora para outra mutila o seu próprio mercado, tirando de cena uma das suas maiores atrações e dispensando o seu público? Eu sei, eu sei. As estatísticas mostram que as grandes torcidas não abandonam o time rebaixado, antes reforçam a sua devoção para ajudar a tirá-lo do buraco. O que é muito bonito, mas não esconde o fato de que grandes organizações profissionais como o Palmeiras são obrigadas a se submeter a regras amadorísticas.
Shakespeare sabia que a morte de um comum pode ser trágica mas só a morte de reis dava boas peças. Uma potência que cai tem ressonâncias e implicações que fazem pensar, como a queda dos reis shakespearianos, na transitoriedade da glória fugaz, e nunca é um espetáculo menos que impressionante - mesmo que a imagem que perdure seja apenas a de uma torcedora enxugando as lágrimas com a camiseta do clube.
Mas eu não deveria estar escrevendo tudo isto. Ultimamente minha única alegria como torcedor tem sido a de poder dizer que, falem o que falarem dele, o Internacional jamais caiu para a segunda divisão.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Mão na Cabeça

O noticiário comentava sobre o Belchior. A imprensa quando quer encher o saco, ela vai com tudo. Fica ali na cola feito vampiro atrás de sangue novo, pedindo explicações da vida particular do cara, exigindo uma palavra que seja. Belchior: o criminoso. Só tá faltando ele assaltar um banco, aí a novela iria  estourar no ibope. Aliás, o rapaz latino americano deveria fazer isso, dar um belo cano nesses bancos, sequestrar uma repórter, pedir um resgate, mandar felicitações a justiça pela soltura do Cachoeira, biritar um whisquinho amigo na festa de posse do Joaquim Barbosa do STF, e depois torrar o dinheiro até acabar. Torço pra que ele não perca a sua força. Gosto de artista dessa envergadura: marginal. O Brasil tá precisando disso. Chega de santinho do pau oco que sonega imposto, e faz o caralho, e ainda é aplaudido pelo grande público. Sem falar nessas dancinhas miseráveis. "Eu não estou interessado em nenhuma teoria / Em nenhuma fantasia / Nem no algo mais". E nem eu. É isso aí!

sábado, 17 de novembro de 2012

Quem sabe amanhã?


Quantas horas? Sete da matina. Caramba! O tempo voou. Acho que esse som tá alto. Se não reclamaram até agora é porque o sono deve estar pesado. Então vamos colocar outro som. Ainda tem a saideira, aí? Tem! Lá embaixo um mendigo perambulava com um saco nas costas. Mais ninguém por perto. O sol da manhã ia manso quando me lembrei de uma piada. Já pensou se nessa manhã, as pessoas ao acordarem descobrissem que estavam mudas, e surdas, e que de agora em diante só se comunicariam por gestos ou pela escrita? Ia ser engraçado. Depois da saideira fui embora pensando nisso. Vi uma padaria funcionando, e percebi que a minha teoria tinha ido por água abaixo, se todos estivessem mudos e surdos, o estardalhaço ia ser grande, só que o clima ali parecia bem normal. Logo topei com uma dessas pessoas que caminham bem cedo. Ela me disse: bom dia! Eu também respondi: bom dia. É! Pelo que parece estava tudo do mesmo jeito. Mas apesar da minha teoria furada, a manhã estava bastante agradável. 

Voltei a cantar

sábado, 10 de novembro de 2012

Tirar a poeira


Abbey Road. Tenho esse disco dos Beatles em vinil. Tô aqui escutando no you tube. Ótima companhia. Desde ontem venho pensando nele. Tava com vontade de escutar. Peguei ali no meio da bagunça do quarto só pra dar uma olhada no bolachão. É uma pena que não tenho mais um som pra escutá-lo em vinil. Esse disco fazia parte da coleção do tio de um grande amigo meu, um cara que considero irmão, tenho amigos e amigas que considero meus irmãos, aí o disco passou pra ele, e agora tá comigo. Na época eu ainda tinha o som que dava pra tocar vinil. Tenho saudade dele. Legal que nessa versão do you tube tem uma música a mais chamada – Her Majesty – não me lembro de ter escutado. Vou deixando o disco rolar até chegar lá. Desde ontem venho pensando no lado B do disco. Só em vinil para você ter o prazer de escutar o lado B de uma obra de arte. Começa a partir da música Here Comes The Sun que é cantada pelo George Harrison. Foi uma fase complicada na banda. Mas os caras como sempre fizeram um dicaço. Lembro da primeira vez que escutei ainda moleque.  Simplesmente, eu não quis ir mais pra escola naquele dia. Agora tô aqui curtindo e deixando o almoço se acalmar no estômago pra começar os trabalhos: abrir uma latinha que está geladíssima ali no freezer. Putz! Começou Because. Vou parar por aqui. Bom final de semana aí.  Quer escutar? PLAY

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Pra fechar o dia

Pelos seus 110 anos

Um professor de português na época em que eu fazia o cursinho pré-vestibular, certa vez, numa aula de gramática, se lembrou de quando era estudante, e disse que ao escutar do seu professor o poema do Drummond “No meio do caminho tinha uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho / Tinha uma pedra / No meio do caminho tinha uma pedra / Nunca me esquecerei desse acontecimento / Na vida de minhas retinas tão fatigadas / Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra / Tinha uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho / No meio do caminho tinha uma pedra” – , ele comentou com o seu amigo na cadeira ao lado: “Ah! Esse aí até eu fazia!” Só que o comentário saiu um pouco alto, e na mesma hora o velhote indignado mandou na lata: “Pode até fazer, mas o problema é que o Drummond já fez, rapaz, então faça outro”. Até hoje o cara deve estar tentando fazer, mas sinceramente, não sei por que isso me veio à lembrança, justamente, naquele momento em que eu vinha andando de volta pra casa. Talvez fosse, porque ao notar que nenhum carro me atrapalhava da esquerda pra direita e nem da direita pra esquerda, a avenida estivesse livre. Que no meio do caminho, nem pedra, nem carro, nem porra nenhuma iria me atrapalhar. Até que enfim, né, pô! Já estava merecendo. Continuei na mesma levada até o outro lado tranquilamente. Se fosse só pedra, a vida estava até bem tranquila, mas é que na verdade ela está cheia de entulho, ou melhor, bala pra tudo quanto é lado. Olá! São Paulo! Se vacilar, os problemas vão impedir de você degustar até uma cervejinha no boteco da esquina. Sempre achei o Drummond um poeta que sabia usar a palavra. Mas achava também que faltava alguma coisa na sua obra. Via a figura dele e pensava com a mesma visão da época de moleque quando achava que eles estavam mentindo. Que aquilo era somente uma fresta do seu real pensamento, e no caso do Drummond, eu não estava errado, a prova disso veio no seu livro póstumo – Amor Natural, onde você encontra os seus poemas eróticos. Pelo que se sabe ele só pediu que o lançasse depois de alguns anos de morto. Ali você encontra um poeta sem onda. Tudo bem que é póstumo, mas ele fez. Existe poeta que está preso à sua figura imaculada de poeta. E vou te falar: bem acomodado, só mamando na teta do título; feio no seu mundo estéril e acadêmico, preso às amarras linguísticas, longe do ser humano que vive num inferno de cão todo santo dia, ali com a sua patota universitária bebendo ponche em sarau mequetrefe. Sarau que de tão organizado nem os vizinhos reclamam do barulho. Fico pensando nos seus pupilos que o veneravam como santo lendo os poemas póstumos: “ela a me beijar o membro (...) como beijava uma santa / no mais divino transporte / e num solene e arrepio / beijava, beijava o membro / Pensando nos outros homens / eu tinha pena de todos aprisionados no mundo”. E agora, José? Ele soube dar uma rasteira muito bem em quem tentava seguir os seus passos. É que o seu lado poeta não o deixo bobo, não o desligou dos seus desejos. Poeta ou não, todo homem sabe que a gente não consegue viver sem uma bela mulher, um belo par de coxas, e uma buceta que deixa a gente sem rumo. Viva Drummond!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Uma hora pode dar certo


Dois minutos e não chegaria a tempo. Prestei atenção na música da rádio FM. Por que eles tocam tanto Ana Carolina? Um grupo de adolescentes entrou na loja pela direita. Eles pareciam animados. Um senhor conversava com a atendente. Perguntou pra ela qual era a boa da noite. Ela tentava mudar o assunto, mas ele não deixava a peteca cair. “O que você vai fazer hoje noite? Beber uma cervejinha, beijar na boca”.  “O que é isso?! Eu vou buscar o meu filho, e vou pra casa, ora, não tenho tempo pra isso não”. Só que o coroa voltava a insistir. Num momento ela já estava rindo. Fui embora, e ele ficou lá perto do caixa. No outro dia tive que passar lá novamente e encontrei a mesma atendente no seu posto. Agora tinha um ajudante no mesmo lugar em que o velho estava encostado. E ele não arredava o pé dali. Pelo visto a cervejinha ficou só no papo. O coroa vai ter que mudar de tática, ou brigar pelo posto. 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

No Fone de Ouvido


Pra não deixar o blog parado, aí vão alguns vídeos. O primeiro tem uma música inédita do Barão Vermelho. A música estava perdida nos arquivos da gravadora, e ia entrar no primeiro disco da banda, mas por ser uma balada acabou ficando de fora. Agora eles fizeram um arranjo novo e aproveitaram a voz do Cazuza. Ficou muito bacana. É legal escutar o velho Cazuza mandando ver nos vocais. A banda tá comemorando trinta anos do lançamento desse disco. O segundo vídeo é um documentário sobre o Renato Fernandes, vocalista da banda: Bêbados Habilidosos. Muito bom! Grande bluseiro!!! O documentário foi feito pelo Kleomar Carneiro, e o Vinícius Bazenga. Mostra bem a personalidade do Renato, e é imperdível. Se tivesse que dizer qual bebida representaria a sua poesia, com certeza, seria um Jack Daniel’s original numa bela dose de caubói. O terceiro vídeo, também é um documentário, só que agora, dirigido pelo Grima Grimaldi sobre a banda: Saco de Ratos Blues.  Formada pelo Bortolotto, Fábio Brum, Rick Vecchione, Watanabe, e Pagotto, os caras fazem um som infernal. E mesmo que seja uma balada, você não vai sair ileso. É só curtir!

Sorte e Azar:

Ele é o Blues:


Saco de Ratos Blues:

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Pata de Elefante

Nunca tomei uma surra de verdade. Nem dos meus pais. Nem de ninguém na rua. Só troquei uns tapas. Agora discutir... Pô! Já troquei farpa com muita gente. Hoje quando vejo que a coisa começa a esquentar me mando sem olhar pra trás. Nunca valeu a pena, e nunca vai valer nada. Outro dia vi meus amigos quase se matando. Chegou um momento que nem eles sabiam o motivo da discussão. De alguma forma da até pra entender. Tem hora que a encheção de saco faz a gente tomar atitudes inesperadas. Certa vez eu tinha levado o meu violão pro bar, e um cara que estava no boteco ao lado, chegou, e me pediu emprestado. Depois de algum tempo fui lá buscar a viola, só que o infeliz não quis me devolver, e ainda ficou tirando sarro com a minha cara. Num ato de fúria apliquei um soco no queixo do babaca, e um bicudo na mesa. Ele caiu no meio da rua, e saiu correndo desesperado. O idiota que estava com ele também se mandou. Ainda bem que tenho amigos por que foi só dar aquele soco pra moçada pintar na área. Os dois poderiam acabar comigo. Foi aquela balbúrdia. A dona da birosca ainda veio com um papo sobre a conta, e a cadeira quebrada. Catei o meu violão e voltei pra mesa. Noite maluca. Tenho um amigo que sabe o que é tomar um soco bem dado. E tudo por discussão besta. Quando vi, o murrão já tinha entrado no seu olho direito. Inchou tanto que parecia o Balboa no final de Rock 01 naquela luta contra o Apolo. Fiquei chateado pelos idiotas. Amigo brigando não é legal. Descolei um gelo e fiquei ali até o cara se recompor. Deve ser terrível tomar uma porrada na cara. Aí hoje eu enfiei a cabeça num armário com tanta força que achei que tinha tomado uma patada de elefante. A sensação deve ser parecida com um murro. Você fica desnorteado. Sem rumo. Só que aí foi só a pancada. E briga tem aquela sensação de deixar você pra baixo. Mas não imaginava que uma pancada na moringa doesse tanto. Essa porrada de hoje me deixou na lona. Tô com um galo na cabeça. Maldito armário! Nunca imaginava que levaria uma patada de você. Mas foi bom. Fiquei mais esperto.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Conselho Besta


Me pediu um conselho. Falei o que me veio à cabeça naquela hora. Depois fiquei tentando me lembrar de qual foi o último que pedi a alguém. Realmente devo ser cabeça dura. Ela foi embora com o meu conselho, e a sua confusão mental. Semana que vem a gente deve se topar de novo. Dependendo do que me falar, não vai ser difícil descobrir se ela botou fé no que eu disse ou não. Tomará que não. Tomará que a sua confusão mental tenha servido pra alguma coisa. Ficaria triste se o meu conselho besta pudesse interferir em alguma coisa. Preferia escutar: olha, pensei no que você me disse, mas... E esse, mas, soasse forte. Certeiro! Por que, diabos, todo conselho tem o seu perigo. E se ela acatar agora, provavelmente, virá atrás de outro, e se bobear, outro. Não devia ter dado conselho algum. Isso é coisa de amador. Então aprende e não vacila da próxima vez. Se é que vai ter a próxima vez. 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Hei!!!!

O mengo não jeito. Haja cerva pra conseguir acompanhar um jogo mais tranquilo. Tava com vontade de escutar esse som da Patti Smith. Grande mulher!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

GRRR! 2013

Algumas taças de vinho e agora umas antarcticas pra ver o jogo do mengo. Olha só que palavra bonita: noite!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Vagabundos Iluminados


Aí vai alguns trechos da entrevista do Claudio Willer para Correio Brasiliense em 29/9/2012.

Quem são os precursores reconhecidos ou não da literatura beat? Walt Whitman? Jean-Arthur Rimbaud? Baudelaire? Louis Ferdinand Céline?

E William Blake. Mas ele e outros autores que você cita – Whitman, Rimbaud, Baudelaire – são universais. Influenciaram tudo, a beat e o restante. É forte a influência dos românticos – Gregory Corso idolatrava Shelly, fez que o enterrasse em Roma ao lado do túmulo do poeta inglês. E de formalistas: Ezra Pound e dois de seus seguidores, William Carlos William, mentor de Ginsberg, e Charles Olson, cultuado por Michael McClure. E muito mais. Kerouac e amigos faziam leituras em voz alta de Ulisses e Finnegan’s Wake de James Joyce, para captar a prosódia. Viajavam com um volume de Proust, como foi mostrado no filme de Walter Salles, Na Estrada.

Há uma leitura talvez rasa segundo a qual os autores da literatura beat eram pouco letrados. Isso procede?

Basta lê-los! O tempo todo comentam suas leituras. Kerouac, nos diários e em Anjos da desolação: “Histórias de dor! De repente estou escrevendo como Céline”. Etc. Mais importante que os comentários é o intertexto: reescreveram e recriaram o que leram. Em todos eles, constantemente, se observa o diálogo criativo com outros autores.

Parece que Charles Bukowski não gostava de ser ligado à literatura beat. Como avalia as relações dele com o movimento?

Bukowski reconheceu a importância de Ginsberg, e da beat em geral, em Pedaços de um caderno manchado de vinho. Mas, naquela altura, os beats eram celebridades, e Bukowski fazia questão de ser a margem da margem, o rebelde perante a rebelião. Beat, já convertida em beatniks e em contracultura, era algo coletivo demais para ele, individualista radical: “Eu era um movimento de protesto, sozinho”, escreveu. Ademais, religiosidade e misticismo, fortes em Ginsberg, Kerouac ou Snyder, eram algo ausente de seu interesse ou sensibilidade.

Pra fechar! Um trecho do poema Uivo de Allen Ginsberg traduzido pelo Claudio Willer também.

"Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
Arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
“hipsters” com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite,
Que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando sobre os tetos das cidades contemplando jazz,
Que desnudaram seus cérebros ao céu sob Elevado e viram anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados das casas de cômodos,
Que passaram por universidades com olhos frios e radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz de Blake entre os estudiosos da guerra,
Que foram expulsos das universidades por serem loucos & publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
Que se refugiaram em quartos de parede de pintura descascada sem roupa de baixo queimando seu dinheiro em cestos de papel, escutando o Terror através da parede".

sábado, 6 de outubro de 2012

Leitura de Sábado

Mulher andando nua pela casa
envolve a gente de tamanha paz. 
Não é nudez datada, provocante.
É um andar vestida de nudez,
inocência de irmã e copo d’água.

O corpo nem sequer é percebido 
pelo ritmo que o leva.
Transitam curvas em estado de pureza,
dando este nome à vida: castidade.

Pêlos que fascinavam não perturbam.
Seios, nádegas (tácito armistício)
repousam de guerra. Também eu repouso.

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A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica. 

Não lhe importa o que vai pela frente do corpo.
A bunda basta-se.
Existe algo mais?
Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmea
sem rotundo meneio.
Anda por sina cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte por conta própria. E ama. 
Na cama agita-se. Montanhas 
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda.
Vai feliz na carícia de ser e balançar 
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda 
redunda.

(Carlos Drummond de Andrade em O amor natural, 1992)