segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Uma hora pode dar certo


Dois minutos e não chegaria a tempo. Prestei atenção na música da rádio FM. Por que eles tocam tanto Ana Carolina? Um grupo de adolescentes entrou na loja pela direita. Eles pareciam animados. Um senhor conversava com a atendente. Perguntou pra ela qual era a boa da noite. Ela tentava mudar o assunto, mas ele não deixava a peteca cair. “O que você vai fazer hoje noite? Beber uma cervejinha, beijar na boca”.  “O que é isso?! Eu vou buscar o meu filho, e vou pra casa, ora, não tenho tempo pra isso não”. Só que o coroa voltava a insistir. Num momento ela já estava rindo. Fui embora, e ele ficou lá perto do caixa. No outro dia tive que passar lá novamente e encontrei a mesma atendente no seu posto. Agora tinha um ajudante no mesmo lugar em que o velho estava encostado. E ele não arredava o pé dali. Pelo visto a cervejinha ficou só no papo. O coroa vai ter que mudar de tática, ou brigar pelo posto. 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

No Fone de Ouvido


Pra não deixar o blog parado, aí vão alguns vídeos. O primeiro tem uma música inédita do Barão Vermelho. A música estava perdida nos arquivos da gravadora, e ia entrar no primeiro disco da banda, mas por ser uma balada acabou ficando de fora. Agora eles fizeram um arranjo novo e aproveitaram a voz do Cazuza. Ficou muito bacana. É legal escutar o velho Cazuza mandando ver nos vocais. A banda tá comemorando trinta anos do lançamento desse disco. O segundo vídeo é um documentário sobre o Renato Fernandes, vocalista da banda: Bêbados Habilidosos. Muito bom! Grande bluseiro!!! O documentário foi feito pelo Kleomar Carneiro, e o Vinícius Bazenga. Mostra bem a personalidade do Renato, e é imperdível. Se tivesse que dizer qual bebida representaria a sua poesia, com certeza, seria um Jack Daniel’s original numa bela dose de caubói. O terceiro vídeo, também é um documentário, só que agora, dirigido pelo Grima Grimaldi sobre a banda: Saco de Ratos Blues.  Formada pelo Bortolotto, Fábio Brum, Rick Vecchione, Watanabe, e Pagotto, os caras fazem um som infernal. E mesmo que seja uma balada, você não vai sair ileso. É só curtir!

Sorte e Azar:

Ele é o Blues:


Saco de Ratos Blues:

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Pata de Elefante

Nunca tomei uma surra de verdade. Nem dos meus pais. Nem de ninguém na rua. Só troquei uns tapas. Agora discutir... Pô! Já troquei farpa com muita gente. Hoje quando vejo que a coisa começa a esquentar me mando sem olhar pra trás. Nunca valeu a pena, e nunca vai valer nada. Outro dia vi meus amigos quase se matando. Chegou um momento que nem eles sabiam o motivo da discussão. De alguma forma da até pra entender. Tem hora que a encheção de saco faz a gente tomar atitudes inesperadas. Certa vez eu tinha levado o meu violão pro bar, e um cara que estava no boteco ao lado, chegou, e me pediu emprestado. Depois de algum tempo fui lá buscar a viola, só que o infeliz não quis me devolver, e ainda ficou tirando sarro com a minha cara. Num ato de fúria apliquei um soco no queixo do babaca, e um bicudo na mesa. Ele caiu no meio da rua, e saiu correndo desesperado. O idiota que estava com ele também se mandou. Ainda bem que tenho amigos por que foi só dar aquele soco pra moçada pintar na área. Os dois poderiam acabar comigo. Foi aquela balbúrdia. A dona da birosca ainda veio com um papo sobre a conta, e a cadeira quebrada. Catei o meu violão e voltei pra mesa. Noite maluca. Tenho um amigo que sabe o que é tomar um soco bem dado. E tudo por discussão besta. Quando vi, o murrão já tinha entrado no seu olho direito. Inchou tanto que parecia o Balboa no final de Rock 01 naquela luta contra o Apolo. Fiquei chateado pelos idiotas. Amigo brigando não é legal. Descolei um gelo e fiquei ali até o cara se recompor. Deve ser terrível tomar uma porrada na cara. Aí hoje eu enfiei a cabeça num armário com tanta força que achei que tinha tomado uma patada de elefante. A sensação deve ser parecida com um murro. Você fica desnorteado. Sem rumo. Só que aí foi só a pancada. E briga tem aquela sensação de deixar você pra baixo. Mas não imaginava que uma pancada na moringa doesse tanto. Essa porrada de hoje me deixou na lona. Tô com um galo na cabeça. Maldito armário! Nunca imaginava que levaria uma patada de você. Mas foi bom. Fiquei mais esperto.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Conselho Besta


Me pediu um conselho. Falei o que me veio à cabeça naquela hora. Depois fiquei tentando me lembrar de qual foi o último que pedi a alguém. Realmente devo ser cabeça dura. Ela foi embora com o meu conselho, e a sua confusão mental. Semana que vem a gente deve se topar de novo. Dependendo do que me falar, não vai ser difícil descobrir se ela botou fé no que eu disse ou não. Tomará que não. Tomará que a sua confusão mental tenha servido pra alguma coisa. Ficaria triste se o meu conselho besta pudesse interferir em alguma coisa. Preferia escutar: olha, pensei no que você me disse, mas... E esse, mas, soasse forte. Certeiro! Por que, diabos, todo conselho tem o seu perigo. E se ela acatar agora, provavelmente, virá atrás de outro, e se bobear, outro. Não devia ter dado conselho algum. Isso é coisa de amador. Então aprende e não vacila da próxima vez. Se é que vai ter a próxima vez. 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Hei!!!!

O mengo não jeito. Haja cerva pra conseguir acompanhar um jogo mais tranquilo. Tava com vontade de escutar esse som da Patti Smith. Grande mulher!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

GRRR! 2013

Algumas taças de vinho e agora umas antarcticas pra ver o jogo do mengo. Olha só que palavra bonita: noite!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Vagabundos Iluminados


Aí vai alguns trechos da entrevista do Claudio Willer para Correio Brasiliense em 29/9/2012.

Quem são os precursores reconhecidos ou não da literatura beat? Walt Whitman? Jean-Arthur Rimbaud? Baudelaire? Louis Ferdinand Céline?

E William Blake. Mas ele e outros autores que você cita – Whitman, Rimbaud, Baudelaire – são universais. Influenciaram tudo, a beat e o restante. É forte a influência dos românticos – Gregory Corso idolatrava Shelly, fez que o enterrasse em Roma ao lado do túmulo do poeta inglês. E de formalistas: Ezra Pound e dois de seus seguidores, William Carlos William, mentor de Ginsberg, e Charles Olson, cultuado por Michael McClure. E muito mais. Kerouac e amigos faziam leituras em voz alta de Ulisses e Finnegan’s Wake de James Joyce, para captar a prosódia. Viajavam com um volume de Proust, como foi mostrado no filme de Walter Salles, Na Estrada.

Há uma leitura talvez rasa segundo a qual os autores da literatura beat eram pouco letrados. Isso procede?

Basta lê-los! O tempo todo comentam suas leituras. Kerouac, nos diários e em Anjos da desolação: “Histórias de dor! De repente estou escrevendo como Céline”. Etc. Mais importante que os comentários é o intertexto: reescreveram e recriaram o que leram. Em todos eles, constantemente, se observa o diálogo criativo com outros autores.

Parece que Charles Bukowski não gostava de ser ligado à literatura beat. Como avalia as relações dele com o movimento?

Bukowski reconheceu a importância de Ginsberg, e da beat em geral, em Pedaços de um caderno manchado de vinho. Mas, naquela altura, os beats eram celebridades, e Bukowski fazia questão de ser a margem da margem, o rebelde perante a rebelião. Beat, já convertida em beatniks e em contracultura, era algo coletivo demais para ele, individualista radical: “Eu era um movimento de protesto, sozinho”, escreveu. Ademais, religiosidade e misticismo, fortes em Ginsberg, Kerouac ou Snyder, eram algo ausente de seu interesse ou sensibilidade.

Pra fechar! Um trecho do poema Uivo de Allen Ginsberg traduzido pelo Claudio Willer também.

"Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
Arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
“hipsters” com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite,
Que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando sobre os tetos das cidades contemplando jazz,
Que desnudaram seus cérebros ao céu sob Elevado e viram anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados das casas de cômodos,
Que passaram por universidades com olhos frios e radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz de Blake entre os estudiosos da guerra,
Que foram expulsos das universidades por serem loucos & publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
Que se refugiaram em quartos de parede de pintura descascada sem roupa de baixo queimando seu dinheiro em cestos de papel, escutando o Terror através da parede".

sábado, 6 de outubro de 2012

Leitura de Sábado

Mulher andando nua pela casa
envolve a gente de tamanha paz. 
Não é nudez datada, provocante.
É um andar vestida de nudez,
inocência de irmã e copo d’água.

O corpo nem sequer é percebido 
pelo ritmo que o leva.
Transitam curvas em estado de pureza,
dando este nome à vida: castidade.

Pêlos que fascinavam não perturbam.
Seios, nádegas (tácito armistício)
repousam de guerra. Também eu repouso.

.................................................................................................

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica. 

Não lhe importa o que vai pela frente do corpo.
A bunda basta-se.
Existe algo mais?
Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmea
sem rotundo meneio.
Anda por sina cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte por conta própria. E ama. 
Na cama agita-se. Montanhas 
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda.
Vai feliz na carícia de ser e balançar 
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda 
redunda.

(Carlos Drummond de Andrade em O amor natural, 1992)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Um Chopp Nessa Tarde Quente

Essa moça tá diferente


Robert Crumb
Tá fazendo o quê? Nada. Pô, você é mô inútil, sabia. E você? Ah! Eu estudo, trabalho, tenho os meus projetos. Fala a verdade, larga de onda, você quer é namorar. EU?! Eu nada. Tá louco é. Acha que eu ia cometer uma loucura dessas? Acho. Cê tá doida pra ficar comigo. Doida pra ficar de mãos dadas na rua. HAHAHAHAHAHA! Você tá se achando, né. Vou te dizer só um negócio: eu já pensei nisso cara, já pensei que a gente poderia até namorar, achava que não seria só mais um caso de fim-de-semana, mas vejo que você não quer nada com nada. Que isso, pô?! Não tá bom do jeito que tá? Que jeito? Ora! Que jeito?! Ué! A gente tá se curtindo. Só se for você. Pra mim acabou. Você é uma neurótica de merda, porra. Oh mulher complicada do caralho. Você fala palavrão demais, Rodrigo, tem hora que você se torna insuportável. Poderia ser mais maleável, você poderia ser mais carinhoso, sabia. Então: ACABOU. Não me fica ligando bêbada de madrugada. Ah! É... Então você para de ficar me ligando bêbado de madrugada também. Você é mais insuportável ainda. Namorar?! kkkkkk Você é que deve estar afim de namorar comigo. Se liga, moça! Namorar contigo é suicídio na certa. Ah! Tá! Suicídio é com você. Mimado. Briga por tudo. Não gosta de ninguém. Bebe e fica louco. De dez palavras, nove são palavrões, mija e não dá descarga, um dia conversa numa boa, depois nem olha na cara, kkkkkk, só sendo louca pra namorar contigo. Olha aqui, oh, sua chata, saiba que tem gostosa aí que já até me pediu em casamento. HAHAHAHAHA! Quem é a louca? Essa deve ser uma santa mesmo. Pode saber que ela é uma mulher e tanto. Uma gata insaciável. Uma mulher que sabe deixar um homem feliz. E por que não estão juntos? Por que ela não atende mais os meus telefonemas. KkkkkkkHAHAHAHAHA VIU? Nem ela te aguentou. Seu rabugento! Fala logo: tá querendo namorar, né. Quando você vem com esse papo é porque quer namorar. Nem que você fosse o último homem da terra. Larga de onda, vem cá. Para! Pode parar... Deixa eu sentir o seu cheiro. Não! Vamos fazer o nosso casamento agora. Nós dois entrando pelados na igreja. Para! Seu maluco. Ué! Quem tá com a mão dentro da minha calça é você minha linda. Ah! Issss Ah! Issss Chega! Vai pra lá. Não vai rolar mais nada entre a gente. Tá bom. Nem uma despedida? A última vez? Hum... Vou pensar no teu caso. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Já, pensou? Não! 12345 Já? Tá bom, essa vai ser a última vez. Mas agora quem não quer sou eu. Você é um babaca! Tô brincando. Vem cá! A gente nunca ia dar certo, sabia. Toda vez é esse bate boca inútil. Então vamos ficar calados. Em silêncio assim ó: psiu! Xiiiiiii!  

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Gata Garota


Com o barulho de sirene por quase toda avenida, a solitária garota observa o movimento encostada na mureta. O carro da polícia voa como um mirage. Alguém deve estar aprontando no bairro. Agora tem uma academia no fundo do comércio. É um entra e sai danado. Um desfile gratuito que deixa o ambiente daquele jeito que a gente gosta. Ninfeta. Trintona. Coroa.  Mulher triste. Chateada. Amigas. Diabinhas. Aquelas que se fazem de santa. As radicais malhadas. Poxa! Alguém daquele grupo revolucionário: femen? Deve ser complicado manter o padrão. É engraçado essa preocupação feminina. Pra mim até aquela gordinha lá da loja de sapatos é gostosa. Aliás, mulher que quer esconder a celulite com certeza deve ter problema pra gozar. Agora a solitária garota ascende um cigarro, dá um salto, e se apoia na mureta. Fica sentada ali. Mexe na bolsa. Parece ser uma balinha. Coloca na boca. Deve ser um halls. Então ela fuma, e chupa a balinha, ou o halls, e fica com aquele olhar longe, mas  longe mesmo. Outro carro da polícia. Não deve ser coisa pequena. Ih! Caralho. O milico já está com a arma pra fora da janela. Oh profissão difícil. Não tem um minuto de descanso. Ladrão trabalha até nas férias. A solitária garota parece despreocupada. Isso é bonito. O cigarro deve estar no jeito. Ela vira de costas para olhar na direção contrária. Passa outra garota em direção à academia. Ainda bem que não sou policial. A bandidagem não dá trégua. Mas eles são pagos pra isso, então bom trabalho rapaziada. Que isso! Outra beldade indo malhar. A solitária garota se apoia novamente na mureta, e ela não é gostosa, mas é bonita. Essa área está muito bem frequentada. Ainda bem que a polícia não anda por esse lado. Dá pra roubar um naco de peito aqui, um rebolado ali, um descuido malicioso, ou aquela velha abaixada pra catar a toalha porque tem gostosa que faz determinadas coisas só pra maltratar a gente, mas que dia é hoje? Quinta-feira. Volto apreciar a linda garota fumando o seu cigarro. Ah! Se eu fosse um sequestrador!