sexta-feira, 29 de abril de 2011

O Elefante

Numa pequena demonstração festiva, alguém nota que o embalo musical do noticiário fez dois sorrisos coletivos. E após um pequeno intervalo, o silêncio cedeu o seu lugar, e fez mudar o vento. Pelo que parece as lembranças ainda estão vivas. Fez isso para que de longe, um comentário feliz, viesse em sua direção. Talvez pudesse ser um momento de descontrole. Mas não. Cada registro se fez presente desde o início. Agora vai embora sem fazer muito alarde. O embalo musical desamarrou os nós. Três pontos... 

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Poltrona da sala

Nada de tv ou programa chato. Chegou em casa, ligou o som e ficou sentado na poltrona. Cochilou um pouco. Depois foi até a geladeira e catou uma latinha de cerveja. Tirou o sapato. A música era boa. Pensou numas besteiras. Quase ficou chateado. Então resolveu não dar muita bola. Deu um gole longo. Voltou a poltrona. Começou a cantar junto com a música do rádio. Era um samba do cartola. Um samba antigo. Lembrou daquela outra música que tem um trecho que fala assim: rir pra não chorar.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Capital sem Final

Queria escrever um poema, ou um texto, ou um post, ou qualquer coisa que me lembrasse Brasília. Amanhã a cidade completa 51 anos. E não pensei em festa. Nessas comemorações que o governo vai promover por causa da Copa do Mundo. Só pensei nas pessoas. Nas pessoas que vieram de outros estados e firmaram o seu porto por aqui. Nos que se casaram. Nasceram. Morreram. Nessa gente que rabisca o dia a dia sem ser notada. Merecem respeito. Toda vez que tô fora quero voltar. Fico pensando se um dia eu tiver que morar em outro estado, como vai ser? Como vou me comportar? E a saudade? A cidade cresceu muito nesses últimos anos. Tá ficando mais violenta, mais preocupada, sem saúde, sem educação, trânsito caótico, coisa de cidade grande. Mas tem uma Brasília que permanece a mesma. Uma Brasília faceira. Que ainda consegue se divertir, e sonhar. Dessa Brasília me alimento. Dessa Brasília tomo um chopp gelado. O que é ser candango? Sempre quis descobrir o que é ser brasiliense. Tenho amigos de outros estados que brincam comigo me chamando de candango. E eles acreditam que me chamando assim vão me sacanear, mas que nada. Eu até gosto. Sou fã dessa palavra. Inclusive bisbilhotei no dicionário informal e lá está: "Brasiliense" ou "Candango" são os nomes que se dão a quem nasceu em Brasília. "Candango" é o termo dado aos trabalhadores que imigravam à futura capital para sua construção. De origem Africana, Candango significa "ordinário", "ruim", e era a denominação que se dava aos trabalhadores que participaram da construção de Brasília . Já segundo o Dicionário de Folclore para Estudantes, "candango" é palavra do dialeto quimbundo, da região da atual, com a qual os africanos escravizados nomeavam os senhores de engenho. Pela importante atuação na criação de Brasília, hoje o nome "candango" é dado também as pessoas que nascem no Distrito Federal, uma forma de homenagear os pioneiros. Então ser candango ou brasiliense é motivo de muito orgulho pra mim. Essa cidade tem as suas particularidades, e não é fácil de se viver. Não consigo explicar muito bem. Uns dizem que é o clima, ou a relação que temos com poder, sei lá. Só sei que eu continuo na mesma levada: candango & andando.
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No meio do cerradão
Brasília fica tão metida
Com as suas asas abertas 

Tão iluminada a noite

Que se bobear 
Lá do espaço o astronauta 
Consegue ver o jantar
(RF)

terça-feira, 19 de abril de 2011

No Balcão do Caneco ou Polítitica

- É que agora: Cuba tá querendo voltar atrás em algumas coisas, cara.
- China!
- Sim. Mas do mesmo jeito, como lá na China, essa curriola não vai largar o osso nem a pau. Que papo é esse de democracia, porra?! Isso não existe em lugar nenhum. Muito menos nesse bar...
- Hahaha! Oh Chiquim me vê uma dose daquela margosa ali. Economia forte, mas com mando político, né.
- Mando político? É panelinha mesmo, cara. Sem essa de renovação política. Ou de que o povo fala mais alto. Porra... Não entendo como tem tanta gente que ainda cai nessa lorota. O Brasileiro tá mais preocupado com o carnê das Casas Bahia do que se ainda tá vivo amanhã, cara. Ele hipoteca até os cabelos do saco num apartamento, e sente como se estivesse numa grande potência econômica. Não entendo. Morremos de pagar juros. E ainda achamos que estamos no caminho certo. Na boa: Joel Santana na seleção!
- Na seleção?
- O Joel tem cara de ser dono de boteco. O Brasil precisa de mais donos de botecos do que administradores, ou técnicos.
- Pô!  Mas tem muito político safado por aí... E a gente ainda é obrigado a votar.
- Ah! Eu anulei...
- Anulou?!
- E tô me sentindo muito bem. Vou passar esses quatros anos de consciência limpa.
- Porra! Tem um deputado aí que eu votei que já tá fazendo merda.
- É sempre assim... Não se preocupa que vai piorar ainda mais. Oh Chiquim desce outra gelada aqui. Parece que tá com preguiça, praga!
- O Mantega tá enrolado, né. Será que ele vai aguentar o tranco? Ainda vai acontecer muita coisa nesse governo da Dilma. Porra... É gasolina... É o câmbio...
- Aumentaram essa merda do IOF, mas o danado do dólar nem deu sinal de vida. Tá parecendo pica brochada. Não sobe nem com reza braba. O Brasil em termos de grana só é paraíso pro estrangeiro. Os caras ganham rios de dinheiro por aqui.  E só na especulação.
- O Fernando Henrique resolveu botar as manguinhas de fora, né.
- Fraco. O presidente mais fraco que já tivemos. O PSDB tá dando um tiro no pé botando ele como garoto propaganda. Acho que depois que a Ruth Cardoso se foi, ele só tem feito merda. Só diz abrobrinha. E olha que o cara é sociólogo e o caralho a quato. Ele sempre diz que foi mal interpretado. Isso é amadorismo, não sei como conseguiu ser presidente. Ele deve ter algum fetiche com o Lula. Só pode. Isso já deve ser tesão. O Lula é o cara mais malandro que já existiu na política brasileira. O melhor político em termos de levar essa canalhice que rola lá no Congresso. Não lembra do PT? O PT já acabou há muito tempo meu caro. O Lula segurou a onda, e agora tá rico. Oh Chiquim desce outra aí, e traz uma de alambique também. Tem torresmo?
- Não! Ainda não fritei.
- Porra Chiquim!
- O Fernando Henrique vai na frente dos caciques do PSDB pra ver se o Aécio cresce mais um pouco.
- Talvez, mas depois do banana do Serra dúvido que eles vão ganhar tanto respaldo assim. Só pra você ver o Aécio já foi pego numa blitz com a carteira de habilitação vencida. Nem assoprou o bafômetro. A cana deveria tá forte. Olha ali! É por isso que acaba tanto casamento.
- Rapaz... Que mulher bonita.
- Puta que pariu... Ainda ontem era uma menina. Eu andava de mão dada o dia inteiro.
- Oh Chiquim me vê um traçado.
- Cê ainda tá tomando esse veneno?
- De vez em quando. Mas e a família?
- Tô meio brigado com a patroa. Ela tá indignada comigo. 
- Pô! Que chato hein...
- Meu menino aprontou na escola, e ela tá chateada. Perguntaram pra ele o que ia ser quando crescer, e não é que o moleque disse na lata que seria ator de filme pornô.
- HAHAHA. Cê tá de brincadeira.
- Rapaz, semana passada comprei uns DVDs de sacanagem aqui no Chiquim, e o moleque achou no meio da bagunça do escritório. Pelo visto assistiu tudo. Aí quando a mãe abriu a mochila, ele entregou que os DVDs estavam na minha gaveta.  A mulher aprontou um escândalo. Tá indignada comigo até agora.
- Quer dizer que o moleque que ser o Kid Bengala. O Bengalinha...
- Nem brinca.
- Pelo ao menos o moleque é safo. Não vai cair nessas ondas de bullying. Tem opinião.
- Menino pequeno dá um trabalho miserável. Oh Chiquim a cerveja acabou, pô.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

sábado, 16 de abril de 2011

Clube da Insônia

Pros que vão ficar em casa hoje tem um evento legal aqui na net. O festival Coachella 2011 na Califórnia vai ser transmitido ao vivo pelo you tube. Olha aí a programação dos shows (horário de Brasília):

Sábado (16) e madrugada de domingo (17)

Canal 1
• 20h00 – Freelance Whales
• 20h50 – Erykah Badu
• 22h05 – Broken Social Scene
• 22h55 – Here We Go Magic
• 23h40 – Gogol Bordello
• 0h30 – Mumford & Sons
• 01h25 – The Swell Season
• 02h20 – Bright Eyes

Canal 2
• 20h30 – Two Door Cinema Club
• 21h20 – Cage The Elephant
• 22h10 – The Foals
• 23h00 – The New Pornographers
• 23h55 – The Kills
• 23h05 – Big Audio Dynamite
• 0h05 - Elbow
• 03h00 – Raphael Saadiq
• 03h55 – Scissor Sisters

Canal 3
• 20h00 – Black Joe Lewis & the Ho…
• 21h45 – Jenny and Johnny
• 22h35 – Yelle
• 23h30 – Brandt Brauer Frick
• 00h30 – Apresentações extras
• 02h25 – Empire Of The Sun
• 03h30 – Apresentações extras

Domingo (17) e madrugada de segunda (18)

Canal 1
• 20h00 – Wiz Khalifa
• 21h00 – Nas & Damian Marley
• 22h10 – Death from Above 1979
• 23h25 – The National
• 00h30 – Ratatat
• 00h55 – The Strokes

Canal 2
• 20h00 – Jack’s Mannequin
• 20h50 – Jimmy Eat World
• 21h55 – Fistful of Mercy
• 23h25 – Duran Duran
• 00h35 – Chromeo
• 01h45 – PJ Harvey
• 03h05 – She Wants Revenge

Canal 3
• 20h00 – Angus & Julia Stone
• 20h45 – HEALTH
• 21h35 – MEN
• 22h05 – Best Coast
• 22h55 – Foster the People
• 23h40 – Ellie Goulding
• 00h30 – Apresentações extras

Quer assistir? AQUI

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Mocotó com Jazz

Ainda não escutei. Mas esse disco deve tá muito bom. Trio Mocotó com Dizzy Gillespie. Já vou provindenciar.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Seu Valdemar: o pintor

Certa vez me disseram que numa parede grafitada o pichador não chega perto. Aí comecei a prestar atenção e realmente tem um fundo de verdade. Tem uma casa de esquina numa avenida movimentada por aqui que me serviu de cobaia. O muro até semana passada estava grafitado de cabo a rabo. Tinha até uns desenhos legais. Outros nem tanto. E permanecia intacta: nada de pichação em cima. Aí o morador resolveu passar uma tinta bege, e não deu outra. No dia seguinte a parede estava pichadaça. Os caras não tiveram dó. Meterem o spray com gosto. Não é caso de rir, mas pra quem tem casa de esquina deve ser difícil. O cara deve ter gastado uma nota pra pintar aquilo tudo. E de um dia pro outro lá se foi material, despesa com pintor, e a paciência. Acho que agora ele deve deixar de mão. Já estava até acostumado com o desenho da velhinha fazendo cara de mal. Ela fazia um biquinho terrível. Sempre que passava por lá eu retribuia mandando um beijinho de volta. Agora na parede só tem os códigos que os pichadores entendem. Aliás, mais abaixo, lá no final da avenida tem outro grafite que quebra essa teoria. Tem uma pichaçãozinha logo abaixo do desenho. Eles respeitam, mas com as suas ressalvas. Pode crer...

terça-feira, 12 de abril de 2011

Mês de Abril

casa com cachorro brabo
meu anjo da guarda
                             abana o rabo

(Paulo Leminski)
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Pra quem se interessar. Adicionei um blog com poemas do Leminski no link aí ao lado.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

U2 and Rolling Stones

Em fevereiro de 2006 o U2 e os Rolling Stones se apresentaram no mesmo fim de semana aqui no Brasil. Os irlandeses em São Paulo, e os ingleses no Rio (Praia de Copacabana), e naquela época várias perguntas pipocavam nas mesas dos bares. Qual é a maior banda? Qual foi o melhor show? O público vibrou mais aqui, ali, ou quem comandou a festa? Quem foi o mais carismático? Bono ou Mick Jagger? Me lembro que o Bono terminou o show colocando um terço cristão ao microfone, e o Mick Jagger dançando ao som de Satisfaction. E aí ficaram essas questões no ar. Um levantava um tema, e o outro derrubava no mesmo instante. Uma briga de gato e rato que não acabava nunca. Pra falar a verdade ninguém deu o braço a torcer. E no mundo da música essas disputas são mais comuns do que se imagina. Quando alguém desmerece o que amamos parece que esse comentário vem como um insulto. Parece que se a opinião não for aceita você é um idiota. Mas não vejo assim. Se alguém não curte o que eu gosto tento ficar tranquilo, e levar numa boa. Afinal somos cabeças pensantes e cada um segue o seu caminho, ou não? Existem discussões extremamente idiotas. Que não levam a nada.

Topei com um camarada que tocava violão no sábado, e o estilo dele caminhava entre o lado virtuoso do instrumento e a canção em si, isto é: solos, pirações, escalas, e tentativas de se fazer entender. Mas ele não terminava as canções e aquilo ia se amontoando num emaranhado de acordes sem fim. Comecei a tocar, e logo vieram os primeiros aplausos. Não é problema meu, se estão batendo palmas, foda-se. Passei o violão pra ele novamente, inclusive o instrumento não era meu, mas de repente o danado do violão caiu na minha mão outra vez, e aquele papo de sempre veio a reboque. O cara começou a ficar nervoso. Começou a dar pitacos na minha maneira de tocar. Segundo a sua concepção a minha pegada no violão não era do jeito mais “correto” para se mostrar uma canção. Comecei a ficar cabreiro. Deixei de puxar assunto. Mas aí ficou pior, pois o violeiro PhD começou a praticamente me insultar. Então fiquei pensando se tinha falado alguma coisa errada. Pô! Só havia dito pra ele tocar uma música completa. Tentar apresentar uma canção com início, meio, e fim. E depois também comentei que havia cantado a sua melhor música da tarde. Argumento que ele inclusive usou quando toquei Wild Horses dos Stones. Aliás, muito obrigado apesar do seu agradecimento ter sido uma tentativa de ironia. O personagem Henry Chinaski dizia: "a gente devia ter liberdade de falar livremente, em especial quando nos fazem uma pergunta direta. Mas há a questão do tato. E depois a questão do excesso de tato". Pode saber que tem muita gente que tem dificuldade quanto a essa questão de tato. Você tem que saber falar, senão eles piram. Acho isso engraçado pra caralho. Me lembro da primeira fita que gravei, e ao escutar a minha voz achei uma merda, os meus amigos rindo, zoneando. Ao invés de ficar triste até gostei. Na verdade aquilo era uma porcaria. Tinha que rir mesmo, sabe. Nem eu compraria o meu próprio CD.

E existem músicos que não conseguem enxergar o seu próprio trabalho, o seu próprio umbigo. Dizendo isso até parece que sou fodão. Sou nada! Ainda tenho muito a aprender. Agora o lance é que eu já sei o me deixa feliz na música. Só toco o que gosto. E tento mostrar da melhor maneira possível. O resto que se foda! Quando me deparo na noite com músico, ator, poeta, escritor, tento ficar esperto. Muitos necessitam de elogios até o talo. Precisam de aplausos o tempo todo. O que é uma pena. Só resolvi aprender a tocar violão por que vi os meus amigos tocando, e a mulherada ao redor ficava ouriçada. Pensei comigo: pô, eu também quero fazer isso, quero tocar pra pegar essas meninas. E acho que a música tem que ter esse lance de querer fazer bem, senão se torna algo muito chato, burocrático, e sem emoção. Pra fechar: acho até legal que certas discussões não acabem nunca porque, às vezes, pode ser produtivo. Faz a gente exercitar o nosso poder de crítica. Mas brigar por causa de artista, ou por causa da maneira de como tocar... Ah! Porra... Eu tenho mais o que fazer. O U2 tá com 558 milhões doletas na frente dos Stones. É dinheiro que não acaba mais. Duvido que o Mick Jagger vá deixar isso barato. O Keith Richards já deve tá afiando a faca, e toda a gangue já deve está preparada. Quando você menos esperar vem a lapada com juros e correção monetária. Em briga de cachorro grande ninguém se mete.  E enquanto a gente se acaba por aqui, as duas bandas devem está rindo a toa. Canta aí keef: play

sábado, 9 de abril de 2011

Aperta o play

Vai lá. Oh! Volta. Pega o caderno de anotações e vê o que tem lá. Ah você tinha anotado o nome de algumas bandas novas. Digita o nome de alguma, e ver se o som é bom. Aponta o dedo e manda bala. Isso! Então vai...
Um. Dois. Três segundos. Um minuto e meio. E aí? Gostou? Hum... Experimenta outra. Vai! Um... dois... segundos, um minuto e pouco. Tá! Outra. Mais outra. Mais uma. Bom... É legal, mas tenho a impressão de que já tinha escutado isso em algum lugar, num outro tempo. Então seleciona aquela e escuta o som melhor. Talvez com um pouco mais de tempo, você consiga compreender, ou até mesmo curtir a proposta. E um minuto e meio pra achar que não é tão bom assim.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sem título

Muito triste o que aconteceu no colégio do Rio de Janeiro. Um ato extremamente covarde. Difícil de explicar. E ontem no fim da tarde presenciei um fato de cortar o coração. Perto de uma creche observei várias crianças amontoadas junto ao portão. E eles estavam na maior farra, ali, madando sorrisos, e beijos na direção do estacionamento. Fiquei intrigado. Aí notei que tinha dois palhaços saindo de dentro do carro. E eles retribuiam aquela algazarra das crianças. Próximo a creche tem um colégio, e os palhaços iam fazer uma apresentação por lá. Dava pra escutar as músicas, e a festa das crianças. E pensar que pela manhã um maníaco fez aquela crueldade sem tamanho é de cortar o coração.

Pra amaciar o fim da tarde: um som

A Casa

Um Lugar

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Segunda-feira

Aí vai um pouco de Nelson Rodrigues para amaciar a semana:

"O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda".

"Nem todas mulheres gostam de apanhar, só as normais".

"Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém".

"A mulher ideal deve ser dama na mesa e puta na cama".

"Ser bonita não interessa. Seja interessante!"

"A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual".

"Sem paixão não dá nem pra chupar um picolé".

"A plateia só é respeitosa quando não está a entender nada".

"Qualquer amor há de sofrer uma perseguição assassina.
Somos impotentes do sentimento e não perdoamos o amor alheio.
Por isso, não deixe ninguém saber que você ama".

"Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém".

"Não reparem que eu misture os tratamentos de "tu" e "você".
Não acredito em brasileiro sem erro de concordância".

"O amoroso é sincero até quando mente".

"Cada brasileiro, vivo ou morto já foi Flamengo por um instante, por um dia".

domingo, 3 de abril de 2011

Blue Sunday

Um dia pra escutar rock, e degustar algumas cervejas. Ficar tranquilo. Sem preocupação alguma. Segunda-feira me preocupo com isso. Domingo é lento. Um dia pra ser curtido aos poucos. Pra muitos é considerado depressivo, mas gosto do domingo. Nessa madruga fiquei curtido radiohead. Banda estranha. Um som esquisito. Me serviu de trilha. Essa semana ainda volto a escutar radiohead. Um som pra caminhar a noite quando se estar afim de caminhar a noite. Só que agora vou escutar um Donavon Frankenreiter. Bom domingo aí do outro lado da tela.

sábado, 2 de abril de 2011

Para escrever

Por Cazuza:

"Pra compor, não planejo absolutamente nada. Acho que sou a pessoa mais desorganizada que você pode imaginar. Tudo me acontece de supetão, porque nunca sei como a coisa vai sair. Agora, quando a inspiração vem, sou caxias mesmo, muito sistemático. Quando sento à mesinha para trabalhar, faço mesmo. Se a idéia não pinta, puxo por ela até acontecer. Só sou disciplinado para trabalhar. Pode ser até as quatros horas da manhã. Mas se começo uma letra, ela tem que sair. Depois fico semanas melhorando as imagens, as rimas.


Desde o primeiro disco com o Barão, o Zeca me chama a atenção para o meu lado transgressivo. Em minhas letras sempre me desnudei. Ele dizia:"Vá com calma, estamos em 82, a barra está heavy. Diga tudo que passar pela tua cabeça, mas quer você queira, ou não queira, vou mandar para a censura letras diferentes, bem inofensivas. Eles liberam, depois você canta e grava o que quiser cantar." Quase sempre deu certo. Isto porque, no caso de "Só as mães são felizes", eu bobeei e mandei a letra certa. Vetaram, é lógico. Não entenderam que era uma coisa moralista, pós-Nelson Rodrigues. Usei imagens fortes para falar de meu preconceito com o fato de não permitir a nenhuma mãe do mundo encarar as barras que eu encarava. Era como se eu dissesse que as mães são para serem colocadas num altar, para serem veneradas".

Só as Mães são Felizes
Frejat/Cazuza

Você nunca varou
A Duvivier às 5
Nem levou um susto Saindo do Val Improviso
Era quase meio-dia
No lado escuro da vida

Nunca viu Lou Reed
"Walking on the wild side"
Nem Melodia transvirado
Rezando pelo Estácio
Nunca viu Allen Ginsberg
Pagando michê na Alaska
Nem Rimbaud pelas tantas
Negociando escravas brancas

Você nunca ouviu falar em maldição
Nunca viu um milagre
Nunca chorou sozinha num banheiro sujo
Nem nunca quis ver a face de Deus

Já frequentei grandes festas
Nos endereços mais quentes
Tomei champanhe e cicuta
Com comentários inteligentes
Mais tristes que os de uma puta
No Barbarella às 15 pras 7

Reparou como os velhos
Vão perdendo a esperança
Com seus bichinhos de estimação e plantas?
Já viveram tudo
E sabem que a vida é bela

Reparou na inocência
Cruel das criancinhas
Com seus comentários desconcertantes?
Adivinham tudo
E sabem que a vida é bela

Você nunca sonhou
Ser currada por animais
Nem transou com cadáveres?
Nunca traiu teu melhor amigo
Nem quis comer a tua mãe?

Só as mães são felizes...