quarta-feira, 27 de junho de 2012

Gata Garota


Noite e Dia
(Lobão e Júlio Barroso)

D                     C/D    C/G      G 
Nos lençóis da cama, bela manhã 
      Bm       A     G 
No jeito de acordar 
D        C/D      C/G     G 
A pele branca, gata garota 
      Bm      A      G 
No peito a ronronar 
Bm      A       G        C7 
Seu fingir dormindo, lindo 

G7+      F#5+/7 Bm7 E7 
Você está me    convidando 
G7+     F#5+/7   Bm7     E7 
Menina quer brincar de amar 
G7+      F#5+/7 Bm7 E7 
Você esta me    convidando 
G7+     F#5+/7   D  D5- D4 D D5- D4 D 
Menina quer brincar... 

D                    C/D     C/G      G 
No escuro do quarto, bela na noite 
       Bm      A    G 
Nas ondas do luar 
D               C/D     C/G      G 
Seus olhos negros, pantera nua 
         Bm     A   G 
Quer me hipnotizar 
Bm  A       G        C7 
Eu olho sorrindo, lindo! 

G7+      F#5+/7 Bm7 E7 
Você está me    convidando 
G7+     F#5+/7   Bm7     E7 
Menina quer brincar de amar 
G7+      F#5+/7 Bm7 E7 
Você esta me    convidando 
G7+     F#5+/7   D  D5- D4 D D5- D4 D 
Menina quer brincar... 
 

terça-feira, 26 de junho de 2012

Desse Lado


O que fica são as coincidências. Até porque as fórmulas ajudam bastante. E elas estão por tudo quanto é canto. É bacana ver as novas combinações. Ver como trabalham as suas estruturas. Dois filmes em tempos diferentes.  Os recursos estavam todos lá: a câmera no horizonte ao fundo, e o desfecho final. O primeiro terminou de forma trágica. E o segundo não fechou as possibilidades. Os críticos encontraram erros que não consegui enxergar. De alguma forma tem sentido o que eles disseram, mas também eles não encontraram o que eu considerei como erro, e acerto. Parece que ando descompassado com determinadas análises. Li um livro e o melhor conto na minha humilde opinião, sequer foi mencionado nos diversos artigos após o lançamento. Acho isso engraçado. E também certo alívio, pois me vem à cabeça: “pelo ao menos ainda consigo colocar está cachola pra funcionar”. Crítica tem dois caminhos: um imparcial e outro pessoal. O mais difícil é a pessoa ser imparcial e rasgar elogios. Parece estranho, né. Imparcial elevando o outro. Talvez isso seja difícil por que é dar o braço a torcer. 


Outro dia li a crítica de um livro, e em 90% do texto estava explícito que o cara tinha mais problemas com o tema, e com a forma de como o autor mostrou aquilo, do que simplesmente aceitar o texto. O lado pessoal fechou a sua visão. Foi como se algo o incomodasse, e então o livro não prestava. Isso é um erro. Ele gastou munição a toa e ainda expôs o que não funcionava dentro da sua cachola. E outra: sem nenhum estilo. Parecia birra de menino pequeno. Hoje todo mundo tem uma câmera. E elas estão ligadas o tempo todo. Falta alguma coisa. As fórmulas de relacionamento são as mesmas desde sempre. Não entendo essa agonia por tanta novidade. 


Teve um texto que li recentemente e nele tinha várias partes sublinhadas. Fui lendo até o final e depois quis entender a lógica daquela pessoa. Fiquei intrigado e quis entender por que ela teria sublinhado aquelas partes. Não que estivesse errado, mas por que não sublinhou os pontos que eu achava importante. Aí me lembrei de como nós ficamos raivosos quando somos colocados contra a parede, e principalmente de quando somos desafiados a defender os nossos pontos de vista. Cada vez mais tenho evitado me chatear com bobeira. A idiotice tem artimanhas que até Deus duvida. Fiquei com vontade de saber o que ela tinha a dizer sobre aqueles pontos. Qual a ligação? Eu já tinha feito a minha, e fiquei pensando em qual fórmula ela usou para achar aquilo importante. 


Acho que estou escrevendo esse texto por que hoje meu pai faria 63 anos, e nós dois pensávamos de maneira diferente. Mas se no pensamento possa haver alguma forma de macete. Nas coisas do coração não existe fórmula. Há cinco anos ele se foi, e nesse tempo mudei bastante. Quando tínhamos as mesmas opiniões era uma maravilha, o whisky corria solto, e o papo ia longe. Teve uma vez que a minha mãe disse: “vocês já estão falando besteira”. Em outra situação o meu irmão mais novo comentou comigo: “nunca vi uma discussão de pai e filho chegar nesse ponto, o que é isso?”. Então eu e o meu pai éramos assim, como dois amigos que jamais demonstravam o seu amor. Às vezes eu estava puto com alguma coisa, e ficava calado, e ele achava que a cara feia era por causa dele. Mas já tive vontade de socá-lo. De chamar pra briga. Não cheguei a esse ponto, mas quase. Ele merecia! Me deixou com tanta raiva que eu descontava na rua. Mas isso hoje soa engraçado. Pior é me lembrar de quando lhe dei água na boca quando estava ruim numa maca do hospital, ou de quando tive que ajudá-lo até o banheiro. Só queria dizer: “vamos pai, reage, vamos sair dessa porcaria de lugar, isso aqui é uma merda, vamos, melhora!” Então prefiro as lembranças das brigas, dos papos regados a whisky, e do churrasco de primeira. Lembranças de quando ficávamos calados dentro do carro indo pro colégio. Os meus amigos adoram quando faço churrasco. Aprendi com ele. Faço do mesmo jeito. E vai ser sempre assim. Sempre penso na distância entre os pais e filhos. Desses arranca-rabos da vida. Tive vários com ele, mas tem um sentimento que é maior que isso tudo. Um sentimento que não consigo explicar. Só sei que é um sentimento bom. Espero continuar tentando decifrá-lo pro resto da vida por que assim me sinto mais perto do coroa. Aí velhão! Fica esperto que o murro ainda está prometido. Espero te acertar na eternidade. Então treina daí que eu treino de cá. ////////// Vou deixar um som de presente. Vi semana passada. A melhor parte é quando no solo da música, o Bono presenteia o Sinatra com uma garrafa de whisky. Vídeo bonito!  Play

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Briga Boa


O Paul McCartney fez 70 anos na segunda-feira e o Brian Wilson também emplacou 70 pilas nessa última quarta-feira. Como diz a banda lá do sul, aí é briga de cachorro grande. Beatles versus Beach Boys. Quem conseguiria fazer o disco perfeito? Teve uma época que sempre pela manhã eu escutava o disco – Smile do Brian Wilson. Colocava no fone de ouvido para aliviar a ressaca. Experimenta pra você ver. Garanto! É claro que tem que ter um analgésico por perto. Vinte minutos de audição e você pode sair pra trabalhar. Só funciona logo após escovar os dentes. Discaço! O Brian sempre foi o mentor dos Beach Boys. Acho que foi num documentário que vi uma declaração do produtor George Martin que enquanto nos Beatles a produção era distribuída em conjunto, no Beach Boys, o Brian Wilson reinava soberano. E isso deixava o pessoal boquiaberto. Como ele conseguia? O disco Pet Sounds sempre está na lista dos melhores do rock, assim como Sgt Pepper’s dos Beatles, só que ele foi lançado um ano antes, e serviu de inspiração. A música “God Only Knows”, por exemplo, é a preferida do Paul McCartney. Só que Pet Sounds também veio na esteira de Rubber Soul de 1965 dos Beatles. Então a briga é boa. Uma banda inspirando a outra. Teve um fim de semana há dois anos atrás que depois de capotar na cama e dormir por umas três horas seguidas, acordei achando que estava amanhecendo, só que aí me dei conta que ainda era 11 horas da noite, então fiquei tentando levantar, e de repente comecei a prestar atenção no som que vinha lá da sala. Estava passando o show do Paul aqui no Brasil, e era Black Bird. Pô! Fiquei ouvindo a música quieto ali sem fazer barulho. Uma sequência de acordes com uma melodia super bonita. Vou escutar esses dois músicos pra amaciar o dia. 

......................
Smile: Play
Black Bird: Play 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Manhã de quarta

Instrumento mal tocado também faz rock. Aprecio guitarra desafinada, e desleixo. Um som pra relaxar. Não deixa de ser pop. Essa música é boa. Play

Resposta da palavra cruzada


Quando trancou a porta ela foi até o olho mágico. Se lembrou da história do analista que ao receber a ligação do cliente dizendo que ia se matar sugeriu uma tarefa. Pediu que ele limpasse a porta do vizinho. O cara foi lá com a vassoura e deu um limpa geral. E depois disso aparentemente se acalmou. Talvez ele precisasse fazer alguma coisa de produtivo. Algo de bom para alguém. Algo que confortasse a alma. Só que após sentar-se no vaso sanitário, ela se contentou com a ideia de que o cliente precisava de uma ordem. Talvez quando alguém queira se matar, aquela velha ordem interior esteja invertida. Por que ele obedeceu? Talvez não fosse a sua hora. Preparou uma carreira de cocaína média. Tampou a narina esquerda e com a direita cheirou lentamente. Na sala catou o telefone.
- Agora tá atendendo, né? Só foi mudar o número pra você atender essa porcaria.
- O que você quer?
- Por que me tratou daquele jeito?
- Olha! Segue o seu caminho, beleza...
- Tô com o braço doendo.
- Desculpa aí. Tô mal também. Você passou a unha na minha cara. Quer o quê? Você é complicada demais.  
- Não vai ficar assim, viu. Você é muito ciumento pro meu gosto. Eu só estava conversando com aquele idiota. E você...
- Não sabia que agora pra conversar a gente precisa se esfregar.
- Você é doente, cara. Tem que fazer é um tratamento.
- Eu?
- Nunca vi tanta ignorância.
- Você é que tem que segurar a sua onda. Mas olha, chega desse papo, não tô afim de ficar dando murro em ponta de faca.
- Tô aqui na casa da Cintia. Vem me buscar.
- Esquece.
- Não faz isso. Vamos bater um papo.
- Conversar o quê?
- Descolei um negócio pra gente.
- Ah é?!
- É! Mas é surpresa. Quando você chegar, eu te falo.
- Surpresa sua é encrenca na certa.
- Não! Pode ficar tranquilo.
- Qual o endereço?
- Você vai demorar?
- Fala logo o endereço, pô?
Vem logo, anota aí.

terça-feira, 19 de junho de 2012

A palavra cruzada


Abriu o armário e depois andou até a área de serviço. Prestou atenção nos ruídos que vinham de fora. O intuito era não lembrar. Ou querer fazer que não devesse lembrar. Um método fraco ainda mais que existe coisas que não tem controle. Um palavrão ao abrir a torneira. Um sorriso ao ligar o computador. E uma gargalhada maquiavélica ao tentar se despistar da foto no porta retratos. Nesse momento teve uma sensação de palmas em seu ouvido. Lembranças são como entulhos. Lembrou-se, por exemplo, da síndrome de Diógenes. A pessoa pega todo lixo que encontra pela frente e guarda em casa. Entulhos mais entulhos. E na sua cabeça ideias, sentimentos, e lembranças se amontoavam aos montes. Parecia uma espécie de síndrome também. E precisava se livrar de algumas. Papo! Taí uma coisa que ninguém se livra: dos seus fantasmas. Os entulhos talvez necessitem de algum destino antes que o sufocasse de vez. Antes que o impedisse até mesmo de lavar os pratos. Jogou um pela janela só para fazer um teste, mas ao invés de sentir-se como deveria sentir, viu que acertou a casinha do cachorro no quintal, e não funcionou. O pobre do cão ficou assustado e começou a latir. Inútil tentativa. Jogou os cacos no lixo da cozinha. Daí passou a mão na cabeça dele e o animal começou a brincar. Viu um jornal antigo na cadeira. Ao ler a palavra cruzada, o telefone na sala tocou. Lá de fora veio o barulho de um portão sendo aberto. Deixou o fone quieto no gancho até a pessoa desistir. Ficou por quase 40 segundos. Depois veio um pouco de silêncio. Foi até o aparelho conferir a bina. Era ela do outro lado. Ligava do celular. E nessa hora era bem capaz de estar louca em algum canto da cidade. Não retornou a ligação como também o telefone não tocou mais. Deve ter conseguido se virar, ou ter voltado, pra casa do pai. Enquanto esperava a segunda ligação dizia pra si mesmo que assim que atendesse iria pagar um sapo, só que o telefone permaneceu mudo. Quis mudar o pensamento de que assim era melhor. Então preencheu as palavras que estavam faltando, e viu que ainda conseguia fazer uma cruzada de jornal. 

segunda-feira, 18 de junho de 2012

FM ou AM, eis a questão...


Ontem fiquei de bobeira aqui em casa degustando umas geladas. Fiquei até o fim da tarde. A preguiça me fez companhia. Liguei o rádio e deixei numa estação. Escutar rádio é terrível. Eles estão parados no tempo. Cada música pior do que a outra. Desisti, então coloquei o Lou Reed pra tocar. Abri outra latinha. Logo o disco acabou. Voltei pro rádio. Outra estação. Tocou um samba com uma voz feminina. Aliás, uma voz muito bonita. Colocaram uma música do Fagner. Terrível. Era do tempo do ronca. Tinha até chiado. Deveria ter sido gravada quando ele morava aqui em Brasília. Gosto de algumas canções dele, mas essa não dava pra encarar. Oh domingo! Porra! Tentei achar um rock. Encontrei. Só que o rock não prestava também. Uma porcaria. Geladeira! Só você me salva: outra lata na sequência. E também umas azeitonas. A preguiça não me deixou abrir os olhos. Fui assisti um jogo na tv. O mengo ganhou de pênalti. O meu flamengo não está merecendo nem comentário. Acho que aqueles caras deveriam primeiramente aprender como se joga futebol de salão pra depois tentarem alguma coisa no campo. Guardei o rádio. Tá bom. Chega! Esses radialistas estão de sacanagem. Caí na cama devidamente abastecido. Só sobrevive o domingo quem não economiza na cerveja. Tem gente que enche a cara no sábado e fica o domingo assistindo televisão. Esse pessoal gosta de se maltratar. São malucos. Acordei no meio da madrugada com sede, mas não levantei. Só consegui me lembrar de um poema que tinha escrito há bastante tempo e deveria estar numa pasta velha que guardo numa cômoda perto da cama. Hoje vasculhei, e o danado estava quieto, lá no seu canto, li novamente e ainda gosto dele.


Gente Boa
(Rodrigo Ferreira)

Ficam à espreita
Cumprimentam
Dão sorrisos profissionais
E sempre procuram pelo teu calcanhar de Aquiles
Mas você não vacila
Deixa eles se aproximarem
Até o golpe certeiro!
Essa gente se faz de inocente
Cheias de últimas horas
Te indicam artistas da moda
Cantores de sucesso
Programas de sábado a noite
A boate que está bombando
Os melhores livros do momento
O tênis mais caro, porém de altíssima qualidade
Um poema “sensacional”
Diz que a sua voz se parece com a de fulano de tal
Te indicam investimentos
Contam a sua experiência de vida
Ah! Eles estão sempre por dentro do sentido da vida
O gênio da lâmpada perde feio
É feito mágica
Tentam uma nova investida à cada lance
Como se você fosse o prêmio
E eles estão sempre por perto
Com as manchetes da sua vida na ponta da língua
E aí quando menos se espera
Você responde da maneira mais ríspida possível
Cospe palavras rudes
Palavras sem nexo
Ideias vagabundas sem nenhuma culpa no cartório
Sabe por quê?
Porque eles são tão perigosos
Que se dizem surpresos com a sua atitude
Aí então, recuam na maior cara de pau
Como se fossem eles, os maus, interpretados
E você sorri
Por que de alguma forma
Conseguiu assustá-los um pouco
Conseguiu dar o que eles merecem de fato:
Bú!!!! Rá! Rá! Rá! Rá!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Poesia da Dinastia Tang


Ao fundo - Bukowski e sentado - Sean Penn

Na célebre entrevista que o Sean Penn fez com o Bukowski, ele perguntou ao velho sobre o que achava da poesia, e o Buk mandou essa resposta:

“Faz séculos que a poesia é quase um lixo total, uma farsa. Tivemos grandes poetas, entenda bem. Existiu um poeta chinês chamado Li Po que tinha a capacidade de colocar mais sentimento, realismo e paixão em quatro ou cinco simples linhas que a maioria dos poetas em suas doze ou treze páginas de m… Li Po bebia vinho também e costumava queimar seus poemas, navegar pelo rio e beber vinho. Os imperadores o amavam porque entendiam o que ele dizia. Lógico que ele só queimou os maus poemas. O que eu quis fazer, desculpem, é incorporar o ponto de vista dos operários sobre a vida… Os gritos de suas esposas que os esperam quando voltam do trabalho. As realidades básicas da existência do homem comum… Algo que poucas vezes se menciona na poesia há muito tempo.” (Charles Bukowski em 1987)

Então vamos a poesia do grande Li Po (701-762), aí vai 4 na sequência:

Li Po
O TEMPLO DO CUME

Passo esta noite no Templo do Cume.
Aqui eu poderia apanhar as estrelas com a minha mão.
Não ouso alçar a voz em meio ao silêncio,
com medo de perturbar os habitantes do céu.
(Li Po) 

A MONTANHA CHING-TING

Bando de pássaros revoaram alto e distante;
um floco solitário de nuvens cruzou o azul.
Eu me sento sozinho com o Pico Ching-Ting,
imponente em seu cume.
Jamais nos cansamos um do outro,
a montanha e eu.
(Li Po) 

OLHANDO AS CATARATAS NO MONTE LU

A luz do sol queima o Pico do Incenso
e faz surgir uma fumaça violeta.
De um ponto distante observo a catarata
mergulhar no rio imenso.
Vejo as águas em vôo descendo mil metros em linha reta
e me pergunto se não é a Via Láctea que se precipita
da nona esfera do céu.
(Li Po)


BEBENDO À LUZ DA LUA

Um jarro de vinho entre as flores,
bebo sozinho - nenhum amigo me acompanha.
Alço minha taça, convido a lua
e minha sombra - agora somos três.
A lua não bebe
e minha sombra apenas imita meus gestos.
Mesmo assim, são elas as minhas companhias.
É primavera, tempo de festa -
canto, a lua escuta e cintila;
danço, minha sombra se agita, animada.
Enquanto estou sóbrio, juntos estamos os três;
quando me embriago, cada um segue seu rumo.
Selamos uma amizade que nenhum mortal conhece.
E juramos nos encontrar no mundo além das nuvens.
(Li Po)

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Hoje é bem melhor


Sabe como são as coisas, né? Hum! Pois é! Então escuta. Ei, espera aí. Quem vai ouvir agora é você. Não! Você é que vai ouvir o que tenho a dizer. Então tá: eu vou escutar, mas depois se prepara. Olha, eu não liguei porque tive que resolver um problema, e também o meu celular acabou a bateria. Ah tá. Que problema? Ué! Problema meu. Coisa minha. A bateria acabou? Acabou sim. Essa foi boa. Você não acredita? Acredito. Pode deixar que acredito. Agora você tá brincando com a minha cara. Tá insinuando que estou mentindo. Não! Não se preocupa, acredito sim que a bateria acabou. Resolveu o problema? Resolvi. Foi grave? Médio. Médio? Existe problema médio? Sim! Existe. E por que você não me ligou? Por que foi você que ficou de me ligar. Então esperei. Esperou mesmo?Esperei! E essa cara de cínico? Você tá rindo. Agora não posso rir. É claro que pode. Só que tá bem suspeito, viu... Tá nada, e larga de pegar no meu pé. Foi você que começou. Tá bom. Paz? Paz... Vamos deixar pra lá. Só vou deixar se você me falar qual foi o problema. É que o carro quebrou, aí tive que levar na oficina. Quebrou mesmo? Olha, vamos mudar de assunto. Se você quiser, vamos sim. Ah bom! O que fez ontem? Só te digo se você disser: qual foi o problema do carro, quebrou que peça? Isso já tá virando psicose. Vou dizer pra você parar com essa maluquice, não foi a bateria. Quebrou a bobina. Bobina? É! E pra que que serve? Serve pra deixar o carro funcionando. Ah! Ontem eu assisti televisão. Assisti um filme. Foi bom? Foi. Você não vai perguntar o nome do filme. Precisa? É claro que precisa porque aí fica claro que você se interessa pelas minhas coisas. Qual o nome do filme? Agora eu não quero, você só tá perguntando porque eu toquei no assunto. Você é muito marrenta. Só nada, você que é displicente. Se você tá dizendo. Sou displicente. Na verdade não é bem isso, só acho que você deveria... O quê? Não sei. Sei lá. Senta aqui minha gostosa. Para de me chamar assim. Larga de bobeira mulher. Tá lembrado? De quê? Amanhã é dia dos... Ah! Sei. Relaxa. Hoje é dia dos amantes. Você só pensa nisso? Penso. E não vem dizer que você não pensa? Penso. Então você quer saber pra serve a bobina? Quero. Senta aqui no meu colo. Amanhã fica pra amanhã. Hoje é bem melhor.

domingo, 10 de junho de 2012

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Somente um Desvio

O vento frio não chegava a incomodar. Nem sentiu falta da jaqueta. A madrugada seguia do mesmo jeito. Pouco movimento, e um silêncio fingidamente calmo. Um carro passou em alta velocidade do outro lado da pista. Por pouco quase perdeu o controle na curva.  Algumas pessoas começaram a surgir mais a frente. Só que pelo horário qualquer movimento era motivo de desconfiança. Perto de um comércio alguns mendigos se amontoavam no canto da parede. Dois tentavam dormir. Um se aproximou rapidamente.


- E aí parceiro, posso falar com você? É que a gente mora na rua, e tá todo mundo querendo beber cachaça pra esquentar. Sabe como é, né.Tem como salvar essa?


Andou pelo lado da calçada no sentido oposto. A qualquer minuto um ônibus poderia surgir por ali. Encontrou um carrinho de cachorro quente vazio. O dono limpava as mesas. Ninguém deveria estar com fome nessa noite. Num bar em fim de carreira os clientes falavam alto com os braços abertos. Realmente não fazia frio. Uma noite agradável. Até surgir um cara numa moto vindo na sua direção. Já era! Essa eu me ferrei, vou ser assaltado agora, pensou. Então viu o cara lhe cumprimentar e seguir adiante. Nesse momento a respiração ficou mais tranquila. É que ele desviou pela calçada pra não dar uma volta muito grande. Somente um desvio. Isso aí: um desvio. Mas quer o quê? Um cara freia a moto, vira na sua direção, espera um segundo, e com tanto espaço ao redor vem logo para o seu lado?! A madrugada não estava fria. Talvez, sem graça, e timidamente normal. O ônibus passou em seguida fazendo barulho, mas naquela altura preferiu seguir a pé. Não compensava gastar dinheiro já tão perto do seu destino. 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Mostra Mímica

Vovó me leva pra casa


Os Titãs fizeram show nesse último fim-de-semana aqui em Brasília. Não fui. Mas fiquei com vontade de aparecer por lá porque eles tocaram o disco Cabeça Dinossauro na íntegra. Deve ter sido bacana. Esse disco é importante pra mim. Me faz lembrar o tempo de moleque. De ficar jogando bola e escutando rock. Dia desses escutei o disco novamente. Algumas músicas envelheceram. Só que o disco ainda tá de pé. Nessa época quando os meus pais iam sair, a gente dormia na casa da minha avó. Algo que me incomoda até hoje é dormir na casa dos outros. Não me sinto bem nem a pau. Gosto da minha cama. De ficar largado em casa. Era bom ficar na casa da coroa, só que na hora de dormir não tem coisa melhor do que o seu próprio travesseiro. Então minha mãe começou a pensar numa forma de não incomodar ela. E chamou a minha tia Beth, ou melhor, Betinha para acompanhar a molecada. Durante o dia a gente ficava sozinho, e a noite ela aparecia. Lembro que num sábado assim que meu pai botou os pés na rua, eu coloquei o disco no volume máximo, e fiquei deitado no tapete da sala lendo alguma revista (provavelmente de mulher pelada) quando ele teve que voltar para buscar alguma coisa que tinha esquecido. O som estava tão alto que não percebi a  sua presença na sala, aí o velho foi lá no quarto, e quando voltou, tomei um susto. Corri e abaixei o som no mesmo momento. O velho me olhou com um sorriso divertido, e disse que não tinha problema de escutar o som naquela altura. Época legal. A noite sempre passava um filme que gosto até hoje, um filme chamado: Selvagens da Noite.  Você conhece os The Warriors?
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Essa música ainda me diz bastante: PLAY