sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A Festa em Poucos Segundos

Pelo caminho esqueci as chaves. Deixei uma letra inacabada. Fui preguiçoso. Sem tédio. Também não tava nem aí. Se ficasse com cara feia. O problema não era meu. Cara feia pra mim é fome. E eu já almocei. Comi tão bem que nem vou jantar. Na minha frente um puta contra-filé grelhado, um pedaço de pescada amarela assada, um copo de chope. E depois tive um pouco de tranquilidade ali no canto da mesa. Pessoas ao meu redor conversavam. De longe: uma música de vozes. Vozes tímidas, irritantes, carinhosas. E esqueci também a chatice. Desse bocado de rosto amarrado que a gente topa durante o dia, e pensa que a vida não presta. Realmente ela não presta, mas não precisamos dar tanta bandeira, né. Cara de mal. Todos no papel certo. De repente você começa a perceber as coincidências. As opiniões em certo momento, elas se complementam, e você quer tentar descobrir algo nas entrelinhas. Lembro da minha cara de mal. Tento mantê-la no momento certo. Discordo. Acho que tô certo. Mas no fundo entendo que o entrevistado agiu por camaradagem. Até perdôo, mas pra quê tanta política de boa vizinhança? (Um instante de ruptura) Paralisa! Atravessa a rua. Vai... Na frente de um prédio comercial no setor bancário sul estaciona uma Mercedes Benz. Uma mulher vestida de executiva vai até a janela do carro, e abaixa para falar com o passageiro ao lado. Uma linda bunda de quatro pro mundo. E ela ali na maior naturalidade. Presenteando o nosso lindo planeta com esse pequeno descuido. Esse gesto terno de amor ao próximo. Eu olho, é claro. O meu olhar é clínico. E diplomado. Que coisa linda! Meia fina. Até a mulherada percebe aquela abaixadinha despretensiosa. Vejo os sorrisos encabulados. Mas mesmo assim, nem tentam avisar. Será que ela combinava alguma festa? Do tipo: mais tarde a gente se encontra. Ontem a Gorete fez as minhas unhas. Divagações & mais divagações. Deixa pra lá. Só sei que por 15 segundos sorri verdadeiramente bem. Quando dobro a esquina topo com quatro caras amarradas. Olho pra trás e ela ainda tá lá. Penso em voltar.
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Uma música bonita em homenagem a linda do almoço. PLAY

2 comentários:

Cintia Lee disse...

Éeeee você, hein!!! Tem sempre que estragar o fim do texto. Começou tão bem.... bjo!

RF disse...

Sempre tento terminar de maneira poética. Bjo!