quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Pelos seus 110 anos

Um professor de português na época em que eu fazia o cursinho pré-vestibular, certa vez, numa aula de gramática, se lembrou de quando era estudante, e disse que ao escutar do seu professor o poema do Drummond “No meio do caminho tinha uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho / Tinha uma pedra / No meio do caminho tinha uma pedra / Nunca me esquecerei desse acontecimento / Na vida de minhas retinas tão fatigadas / Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra / Tinha uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho / No meio do caminho tinha uma pedra” – , ele comentou com o seu amigo na cadeira ao lado: “Ah! Esse aí até eu fazia!” Só que o comentário saiu um pouco alto, e na mesma hora o velhote indignado mandou na lata: “Pode até fazer, mas o problema é que o Drummond já fez, rapaz, então faça outro”. Até hoje o cara deve estar tentando fazer, mas sinceramente, não sei por que isso me veio à lembrança, justamente, naquele momento em que eu vinha andando de volta pra casa. Talvez fosse, porque ao notar que nenhum carro me atrapalhava da esquerda pra direita e nem da direita pra esquerda, a avenida estivesse livre. Que no meio do caminho, nem pedra, nem carro, nem porra nenhuma iria me atrapalhar. Até que enfim, né, pô! Já estava merecendo. Continuei na mesma levada até o outro lado tranquilamente. Se fosse só pedra, a vida estava até bem tranquila, mas é que na verdade ela está cheia de entulho, ou melhor, bala pra tudo quanto é lado. Olá! São Paulo! Se vacilar, os problemas vão impedir de você degustar até uma cervejinha no boteco da esquina. Sempre achei o Drummond um poeta que sabia usar a palavra. Mas achava também que faltava alguma coisa na sua obra. Via a figura dele e pensava com a mesma visão da época de moleque quando achava que eles estavam mentindo. Que aquilo era somente uma fresta do seu real pensamento, e no caso do Drummond, eu não estava errado, a prova disso veio no seu livro póstumo – Amor Natural, onde você encontra os seus poemas eróticos. Pelo que se sabe ele só pediu que o lançasse depois de alguns anos de morto. Ali você encontra um poeta sem onda. Tudo bem que é póstumo, mas ele fez. Existe poeta que está preso à sua figura imaculada de poeta. E vou te falar: bem acomodado, só mamando na teta do título; feio no seu mundo estéril e acadêmico, preso às amarras linguísticas, longe do ser humano que vive num inferno de cão todo santo dia, ali com a sua patota universitária bebendo ponche em sarau mequetrefe. Sarau que de tão organizado nem os vizinhos reclamam do barulho. Fico pensando nos seus pupilos que o veneravam como santo lendo os poemas póstumos: “ela a me beijar o membro (...) como beijava uma santa / no mais divino transporte / e num solene e arrepio / beijava, beijava o membro / Pensando nos outros homens / eu tinha pena de todos aprisionados no mundo”. E agora, José? Ele soube dar uma rasteira muito bem em quem tentava seguir os seus passos. É que o seu lado poeta não o deixo bobo, não o desligou dos seus desejos. Poeta ou não, todo homem sabe que a gente não consegue viver sem uma bela mulher, um belo par de coxas, e uma buceta que deixa a gente sem rumo. Viva Drummond!

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