quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer

Por: Rodrigo Ferreira
Ontem enquanto tocava no boteco me disseram que o Niemeyer tinha acabado de falecer. Aí fiquei pensando num equívoco que cometi por anos, e anos seguidos. É que no 2º grau, eu estudei no Centro Educacional Elefante Branco, e por ignorância sempre achei que ele tinha projetado aquele prédio. Digo ignorância por que deveria ter pesquisado antes de pensar que ele de fato teria desenhado o colégio. O prédio é esquisito e sempre me causou agonia. Tem algumas salas que não tem as janelas laterais. Elas ficam no teto. Consegue imaginar? No teto. A sensação é terrível. Você se sente como se estivesse dentro de um labirinto. Claustrofobia de primeira! Dos três anos que passei por lá, teve um que não tive escapatória e caí nessa cela. Acho que foi no 2º ano. Meses e meses, rodeado por paredes cinzentas e rabiscadas. Lembro que em um dia de nota baixa, e falta de perspectiva, eu amaldiçoei o Niemeyer. Velho maluco! Como pode fazer uma prisão dessas? Onde já se viu, pô? Sala de aula tem que ter janela na altura do pescoço. E passei anos cometendo esse erro. Até que anteontem resolvi pesquisar (em cima da hora) e descobri que o arquiteto do Elefante Branco é o José de Sousa Reis. Pô! Niemeyer! Desculpa a minha idiotice. Erros acontecem. Você não foi um gênio, você é um gênio, e a sua marca tá fincada na história. Não vou puxar o teu saco agora. Seria muita falta de originalidade tomar esse rumo. Agir da mesma forma dos oportunistas de plantão. Pegar o bonde com a sua morte. É até engraçado as declarações que tenho lido na mídia. Não vou citar aqui, mas tem alguns políticos da cidade que não perdem por menos, e tentam criar uma comoção que soa besta. Fico pensando nas entrevistas antigas do Niemeyer. Quando leio as declarações desses caras, elas se tornam ridículas. Procurem as entrevistas antigas. Ele tinha opinião e falava com franqueza. Nessa época de estudante cheguei até pensar que seria arquiteto também. Estudei com afinco e só descobri que nunca seria um quando fui fazer a prova prática lá na Unb. Quando peguei o caderno de provas comecei a rir. Aquilo não me fazia sentido. Onde estava com a cabeça? Daí levei na galhofa. Lembro que teve uma questão que tínhamos que desenhar um modelo vivo. Graças a Deus que apareceu uma menina em cima do tablado e eu jurei que ela iria tirar a roupa, mas não tirou. E me desconcentrei por que a todo instante me vinha à cabeça: agora ela vai tirar, é agora, é agora, é agora, e a porcaria do desenho não saia de jeito nenhum, e cada vez mais, só piorava a minha situação. Quando terminei levantei a folha para conferir de longe. Tinha ficado uma merda. Meses e meses de empenho em vão. Adeus arquitetura. Fui embora com um sorriso besta na cara por ter descoberto que aquilo não era a minha praia. Até hoje imagino a menina do tablado nua. Aprendi com o Niemeyer que a beleza das curvas da mulher deve ser o combustível da invenção criativa. E ontem ao tocar no barzinho fiquei pensando nisso. Foi legal voltar a tocar. O bar foi reaberto por esses dias. E não sei se o nome vai continuar o mesmo: cidade livre. Nas paredes você encontra fotos antigas da construção de Brasília. E ontem foi um clima diferente. O Niemeyer morto, a cerveja gelada, o whisky em pequenas doses, e a música comendo até as quatro da matina. Um enterro que se preze tem que ter várias piadas nas conversas paralelas. E vocês arquitetos, tomem cuidado ao desenharem colégios públicos. Sala de aula deve ser um lugar tranquilo, pelo ao menos, no campo visual. Pra arrematar, na figura aí em cima, vai a minha singela homenagem por você ter feito Brasília. Só precisei de um ponto de fuga. Descanse em paz grande mestre!

Nenhum comentário: