quarta-feira, 2 de maio de 2012

Um poema do vocalista da saco de ratos blues


SANGUE SECO

Eu vejo as moscas sobrevoando o cadáver ainda fresco
A trilha sonora de zumbido e fúria
O constrangimento da multidão
e os comentários furtivos
Alguém acena do outro lado da rua
Outro se atira chorando no chão
entoando uma espécie bizarra de oração
Sinto a língua na minha orelha
o sopro de um vento cálido e promissor
a correnteza do esgoto passando por baixo das minhas costas
me deixando à deriva com demônios que sorriem 
como se dissessem que é chegada a hora
Não estou desesperado e nem apreensivo
Alguém mexe nos meus bolsos e liga pro 190
balbucio que sou voluntário
minhas repentinas boas maneiras
faz com que eles hesitem por um minuto
imaginando que pegaram o cara errado
Ouço a canção country
que escolhi pro meu funeral
Um anjo com cara de Lyle Lovett comanda a banda
Eles fazem um barulho infernal
Há uma mancha de café no alvo jaleco do doutor
Abro os olhos e vejo você sorrindo
Uma paz inaudita toma conta de mim
então eu durmo
surpreendentemente
ainda vivo
(Mário Bortolotto - Blog Atire no dramaturgo)

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