sexta-feira, 15 de junho de 2012

Poesia da Dinastia Tang


Ao fundo - Bukowski e sentado - Sean Penn

Na célebre entrevista que o Sean Penn fez com o Bukowski, ele perguntou ao velho sobre o que achava da poesia, e o Buk mandou essa resposta:

“Faz séculos que a poesia é quase um lixo total, uma farsa. Tivemos grandes poetas, entenda bem. Existiu um poeta chinês chamado Li Po que tinha a capacidade de colocar mais sentimento, realismo e paixão em quatro ou cinco simples linhas que a maioria dos poetas em suas doze ou treze páginas de m… Li Po bebia vinho também e costumava queimar seus poemas, navegar pelo rio e beber vinho. Os imperadores o amavam porque entendiam o que ele dizia. Lógico que ele só queimou os maus poemas. O que eu quis fazer, desculpem, é incorporar o ponto de vista dos operários sobre a vida… Os gritos de suas esposas que os esperam quando voltam do trabalho. As realidades básicas da existência do homem comum… Algo que poucas vezes se menciona na poesia há muito tempo.” (Charles Bukowski em 1987)

Então vamos a poesia do grande Li Po (701-762), aí vai 4 na sequência:

Li Po
O TEMPLO DO CUME

Passo esta noite no Templo do Cume.
Aqui eu poderia apanhar as estrelas com a minha mão.
Não ouso alçar a voz em meio ao silêncio,
com medo de perturbar os habitantes do céu.
(Li Po) 

A MONTANHA CHING-TING

Bando de pássaros revoaram alto e distante;
um floco solitário de nuvens cruzou o azul.
Eu me sento sozinho com o Pico Ching-Ting,
imponente em seu cume.
Jamais nos cansamos um do outro,
a montanha e eu.
(Li Po) 

OLHANDO AS CATARATAS NO MONTE LU

A luz do sol queima o Pico do Incenso
e faz surgir uma fumaça violeta.
De um ponto distante observo a catarata
mergulhar no rio imenso.
Vejo as águas em vôo descendo mil metros em linha reta
e me pergunto se não é a Via Láctea que se precipita
da nona esfera do céu.
(Li Po)


BEBENDO À LUZ DA LUA

Um jarro de vinho entre as flores,
bebo sozinho - nenhum amigo me acompanha.
Alço minha taça, convido a lua
e minha sombra - agora somos três.
A lua não bebe
e minha sombra apenas imita meus gestos.
Mesmo assim, são elas as minhas companhias.
É primavera, tempo de festa -
canto, a lua escuta e cintila;
danço, minha sombra se agita, animada.
Enquanto estou sóbrio, juntos estamos os três;
quando me embriago, cada um segue seu rumo.
Selamos uma amizade que nenhum mortal conhece.
E juramos nos encontrar no mundo além das nuvens.
(Li Po)

2 comentários:

bruno bandido disse...

Do caralho esses poemas do Li Po.

RF disse...

É verdade! Vou ter que descolar um livro do Li Po pra deixar por perto. Grande Abraço.